Porto da Alunorte apresenta gargalos em sua estrutura portuária
A absoluta falta de investimentos em infraestrutura de transportes, destacando- se como gargalo maior o sistema portuário, vem acarretando pesados prejuízos à economia nacional e já chega mesmo a tolher, no caso da Amazônia, a consolidação dos portos do chamado Arco Norte no atendimento do mercado brasileiro de granéis, especialmente soja e milho. “A situação atual determina o que podemos chamar de apagão portuário”, adverte o economista Luiz Antonio Fayet, consultor para logística e infraestrutura da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).
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Ex-deputado federal e exdiretor e presidente do Banco do Brasil, Luiz Antonio Fayet lembra que, no final de 2005, apresentou ao Ministério da Agricultura um relatório avaliando os principais corredores de exportação do agronegócio. Nesse estudo, ele já apontava a mudança da geografia de produção. Enquanto os tradicionais corredores do Sul e do Sudeste tenderiam a exportar produtos mais elaborados e conteinerizados, o atendimento do mercado de granéis passaria paulatinamente a ser realizado pelos portos do chamado Arco Norte, assim classificados os portos que vão desde Porto Velho até São Luís.
Essa tendência, de acordo com Luiz Antonio Fayet, vem se confirmando, conforme revelam os números das exportações por portos brasileiros até 2009. Sua consolidação, porém, tem esbarrado até aqui exatamente nos gargalos do “apagão portuário”. Em Porto Velho, por exemplo, o consultor detectou sérios problemas e dificuldades físicas para se proceder à ampliação dos dois terminais de embarque de barcaças cujos comboios vão alimentar os portos de Itacoatiara, no Amazonas, e Santarém, no Pará.
O porto de Itacoatiara exportou cerca de 2,3 milhões de toneladas de grãos em 2009, mas sua capacidade operacional está próxima do limite. Em Santarém, destacou o consultor da CNA que a Cargill vem tentando ampliar ou fazer novo projeto, ainda baseada na recepção hidroviária de cargas. A empresa, contudo, tem encontrado, segundo relatou em seu estudo, “imensos obstáculos que já retardaram os investimentos por vários anos, através de contestações e alegações que chegam às raias do absurdo”.
Luiz Antonio Fayet classifica como “fantástico” o sistema portuário composto pelos portos de Vila do Conde, Belém e Outeiro, mesmo considerando que a hidrovia do rio Tocantins está “mutilada” pela construção da hidrelétrica de Estreito sem eclusas. Ele aponta, porém, a existência de problemas colossais. Como, por exemplo, a ação da Companhia Docas do Pará, “bem intencionada, mas numa fase ainda muito preliminar e, por vezes, sujeita ao viés político”. Outro problema sério, a crescente dependência que as iniciativas privadas terão da ação de autoridades governamentais, para autorizações e licenciamentos.
Avaliações feitas pelo Ministério da Agricultura e pela CNA, conforme frisou, projetam um crescimento em volume de 70 milhões de toneladas nas exportações brasileiras de grãos até 2020. Para isso, porém, será preciso reverter a irracionalidade que leva boa parte da soja do Mato Grosso a percorrer rotas antieconômicas para buscar os portos do Sul e do Sudeste, enquanto os portos do Arco Norte estão a quatro dias a menos de navegação (oito diárias em ida e volta) dos nossos principais mercados – no Atlântico Norte, no Mediterrâneo e no Oriente Médio. Se nada for feito e se mantiver o apagão portuário, o resultado, segundo ele, será o “abortamento” crescente da produção rural brasileira.
Volume de carga dobrará até 2015
Pelos estudos mais recentes, o consultor para logística e infraestrutura da CNA concluiu que, somente nos próximos cinco anos, será duplicado o volume de carga – exclusivamente de soja e milho – escoado pelo porto do rio Madeira, hoje estimado em torno de cinco milhões de toneladas/ano. Os carregamentos embarcados em Porto Velho, segundo ele, alimentam dois portos, indo a maior parte para Itacoatiara porque Santarém não tem hoje capacidade portuária para exportar.
Com a duplicação prevista da demanda de carga, ele considera que a ampliação da capacidade portuária fatalmente terá que acontecer. “Se não for em Santarém, vai ser em outro lugar”, avisa Luiz Antonio Fayet, que admite já vir mantendo freqüentes conversações com a direção da CDP objetivando a ampliação não somente do porto de Santarém, mas também de Vila do Conde.
O economista, que no dia 14 de julho esteve presente, na cidade de Santarém, à audiência pública convocada pela Secretaria de Meio Ambiente para discutir o EIA/Rima do terminal de grãos da Cargill, disse que se viu surpreendido por diversas manifestações. “Surpreendeu- me, sim, ouvir muita gente falando mal do progresso. Em todo lugar que vou, normalmente o que vejo são as pessoas defendendo a ampliação dos portos, considerando as obras de infraestrutura como indispensáveis para a construção do desenvolvimento econômico”, acentuou.
Luiz Antonio Fayet disse que o porto de Santarém exportou, em 2008, cerca de um milhão de toneladas. No mesmo ano, o porto de Rotterdam, na Holanda, o maior da Europa, exportou 700 milhões de toneladas. “Ou seja, ele exportou 700 vezes mais que o de Santarém. Interessante é que o porto de Rotterdam fica dentro da cidade, e mesmo assim a população de lá está muito feliz com ele. Vá alguém lá perguntar a um holandês se ele quer o fechamento do porto”, comentou o consultor, em tom sarcástico.
Baseado em cálculos internacionalmente aceitos, ele destacou que cada navio exportado em Santarém significa a geração, nas múltiplas relações econômicas dele decorrentes, de aproximadamente 1.500 empregos. Neste número estão contempladas, conforme frisou, todas as etapas da cadeia produtiva, incluindo a fabricação de máquinas, de insumos, o trabalho dos produtores, dos transportadores, a geração e consumo de energia elétrica, o comércio e as comunicações, entre outros produtos e serviços.
Fonte: Diário do Pará