Projetar a elevação do nível do mar na região do Porto de Santos, durante ressacas, e indicar as possíveis consequências desse fenômeno para a navegação local são os objetivos de uma pesquisa realizada pelo Centro Universitário Monte Serrat (Unimonte), em Santos, e que deve ser concluída no próximo ano. O estudo é feito pelo aluno de Oceanografia Lucas Citele Cândido, que também analisa a dinâmica da dispersão de poluentes no canal do complexo.
“O principal objetivo da pesquisa sobre a maré no canal do Porto de Santos é estudar a elevação total da superfície do mar com a influência das marés astronômica e meteorológicas, dando enfoque nos efeitos dos eventos de ressaca na linha de costa e no interior do canal. O entendimento da elevação total da superfície do mar em áreas portuárias é muito importante para a segurança na navegação. Além disso, quanto maior a elevação no canal (maré alta), mais carga pode ser incorporada ao navio”, destacou Lucas Cândido.
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Segundo o estudante e pesquisador, com o entendimento de como a onda e a maré se propagam, outros pontos podem ser avaliados. Um deles é o cálculo da dinâmica e da dispersão de partículas e poluentes no canal de navegação do Porto. “Os estudos de elevação do nível do mar por influência da maré são muito importantes para a navegação em águas restritas como no canal do Porto. A segurança na navegação depende de diversos fatores, podendo se tornar frágil em eventos extremos como as ressacas. Além disso, a prevenção de acidentes no Porto é extremamente importante ambiental e financeiramente”, destacou.
Os dados utilizados na pesquisa são coletados por sensores e radares da Praticagem de São Paulo, ligados ao Centro de Coordenação, Comunicações e Operações de Tráfego (C3OT) da associação.
São avaliados dados de maré, ondas e correntes coletados na Ilha das Palmas (na entrada da Baía de Santos) e no interior do canal. Essas informações permitem a analise da maré astronômica e da maré meteorológica. A primeira é o resultado das forças gravitacionais da Lua e do Sol sobre o mar (o que faz a maré “encher” e “esvaziar”). Já a segunda é relacionada aos impactos de fenômenos climáticos, como quando ventos fortes empurram a água do mar em direção a praia, aumentando seu nível.
Análise durante eventos considerados extremos pode ajudar na gestão do tráfego do cais santista
A pesquisa é orientada pelo professor Vagner Paes Duarte Vianna. Ele é responsável pelo controle da qualidade dos dados e pelo desenvolvimento teórico dos estudos elaborados por Lucas, que deverá utilizar técnicas estatísticas em quase todas as etapas do projeto.
“Até o momento, foram analisadas as séries temporais, bem como brechas nos dados. Agora, estamos investigando quais eventos de ressaca no litoral paulista poderiam ser utilizados na pesquisa”, explicou o professor.
Tomada de decisão
Para o professor Vagner, trata-se de um estudo de base, cujas conclusões vão servir para a definição de ações durante eventos extremos. E quanto mais informações são utilizadas, melhores e mais acertadas serão as estratégias adotadas.
“Este tipo de estudo permite uma tomada de decisão mais segura por parte dos gestores portuários e da Cidade. No futuro, espero que seja possível fazer uma previsão bastante acurada da elevação da superfície do mar em eventos de ressaca em todo canal de Santos, incluindo o Porto”, destacou o professor orientador.
Segundo o docente, no Unimonte, outros professores estudam as variações da maré no canal de navegação do cais santista. No entanto, cada profissional utiliza um enfoque específico.
“A Oceanografia é um curso multidisciplinar que estuda os fatores físicos, químicos, biológicos, geológicos e socioambientais de uma região oceânica ou costeira, como é o caso de Santos. Logo, a Oceanografia pode auxiliar na gestão de riscos do Porto, no entendimento dos impactos ambientais e das formas adequadas de mitigação, na escolha dos melhores horários para entrada e saída do Porto, na investigação sobre a dispersão de poluentes na região portuária e na mediação de conflitos entre o Porto e a sociedade civil. Alem disso, o profissional oceanógrafo pode conduzir, planejar e executar obras de dragagem e portuárias”, explicou Vagner Vianna.
Convênio
Os dados analisados na pesquisa sobre a maré são coletados por sensores e câmeras instalados na Baía de Santos e no estuário pela Praticagem de São Paulo. Essas informações são concentradas no Centro de Coordenação, Comunicações e Operações de Tráfego (C3OT) da associação, que fica na Ponta da Praia, em Santos. E são repassadas ao Centro Universitário Monte Serrat (Unimonte) devido a um convênio firmado entre as partes.
Entre os serviços prestados pelo C3OT, está o monitoramento, por câmeras de alta definição, da baía e de todos os acessos aquaviários ao Porto. Também são medidas a velocidade e a direção das correntes marítimas no canal do estuário, a altura das ondas e a intensidade dos ventos e, ainda, é verificada a visibilidade na região para a navegação.
Antes, esses dados eram apenas projetados por meio de modelos matemáticos. Agora, passam a ser coletados, em tempo real, por uma rede de sensores espalhada por todo o cais santista.
“Os dados de ondas, correntes e maré utilizados são provenientes dos sensores instalados na Ilha das Palmas e no interior do canal do Porto de Santos pela Praticagem de São Paulo. No início do ano, foi fechado um convênio entre o Unimonte e a Praticagem, onde os dados coletados pelo sistema de monitoramento são disponibilizados para a coordenação do curso de Oceanografia e seus respectivos docentes. E também estão sendo levantados dados de eventos de ressaca no litoral santista”, explicou o estudante de Oceanografia Lucas Citele Candido, responsável pela pesquisa.
O graduando explica a evolução da pesquisa. “A princípio, realizamos as análises das séries temporais dos dados e estamos buscando os eventos de ressaca ocorridos na área de estudo que podem ser utilizados. Após relacionar os eventos de ressaca com a série temporal dos dados, buscaremos as consequências dessa elevação instantânea aplicando técnicas estatísticas”, afirmou.
Para o professor Vagner Paes Duarte Vianna, orientador do trabalho acadêmico, o maior ganho deste projeto para os alunos de Oceanografia está relacionado à utilização de informações coletadas. Isto porque o tratamento dado a elas permite uma descrição completa da maré e das correntes de maré no canal de navegação do Porto de Santos. Este entendimento é importante para estudos biológicos e até o planejamento da logística portuária, uma vez que a variação do nível da maré é um fator essencial para a atracação dos navios.
“Trabalho com dados coletados é sempre difícil pelo custo dos equipamentos. Além disso, a presença de um ondógrafo em águas rasas não é comum. Concomitantemente, o projeto trata de fatores locais que são importantes para o entendimento da região”, explicou Vianna.
Fonte: A Tribuna online/FERNANDA BALBINO