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População acredita que o porto Sul pode melhorar a vida

O olhar de Ailton Jesus Benvenuto, produtor rural do sul da Bahia, exprime a angústia de quem viu os filhos partirem de casa em busca de oportunidades. Com renda familiar mensal de um salário mínimo, o agricultor não foi capaz de responder à ambição da prole. A filha, de 17 anos, trabalha como camelô nas ruas de São Paulo. O filho, de 18 anos, arrisca-se em um emprego informal na construção civil, também na capital paulista. As notícias, quando chegam, precisam driblar o sistema de telefonia. No Retiro, comunidade onde mora, os celulares são mudos, as linhas fixas escassas e a energia elétrica novidade. Não há posto de saúde ou acesso à internet. A educação também é precária. "Só com emprego e melhores condições para geração de renda, talvez eles voltem", acredita.

A comunidade do Retiro é vizinha à Ponta da Tulha, praia a 17 quilômetros de Ilhéus escolhida para abrigar o Porto Sul, parte integrante do complexo logístico produtivo do sul da Bahia. Na região - apesar da pequena distância do centro de Ilhéus exige uma viagem de 40 minutos de carro -, o clima é de esperança com as obras. Como no Retiro, a praia que vai abrigar o porto, não tem infraestrutura urbana necessária para a população. "Acho que agora vão olhar para a gente", diz Benvenuto. O desenvolvimento da região pode estancar a debandada de jovens que afetou a família de Benvenuto.

Apesar de o Porto Sul ainda ser um projeto em fase de análise ambiental, o agricultor já faz planos para lucrar. Os empregos que devem ser gerados vão incentivar o comércio, ampliando a venda das frutas que produz. Para agregar valor à sua produção, ele participa do projeto Transformar, do Instituto Aliança, Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip), que nesta ação conta com o patrocínio da Bahia Mineração (Bamin), única empresa com presença confirmada em Ilhéus.

O projeto consiste na geração de renda a partir da produção e venda de frutas secas. Com R$ 12 mil doados pela Bamin - além do orçamento que paga o trabalho do Instituto Aliança -, os produtores tiveram acesso ao material necessário para produzir 31 secadoras, que serão usadas para desidratar banana, abacaxi, caju, jaca, entre outras frutas da região. "Já tenho uma secadora por conta da participação no projeto e vou construir mais três. Pretendo ampliar a minha renda para R$ 1 mil". Quando a construção do porto começar, ele espera ganhar ainda mais". Quem sabe eu consiga até exportar", planeja Benvenuto. Animado, ele pretende engajar os produtores da comunidade, buscar certificação orgânica e ganhar o mundo.

A esperança do produtor está presente em muitas outras famílias que vivem no sul baiano. Há 20 anos a região foi devastada pela 'vassoura de bruxa', praga que trouxe prejuízos enormes para a lavoura de cacau, na época o principal pilar da economia da região. O baque econômico e social foi enorme. De acordo com um estudo realizado pelo Instituto do Meio Ambiente (IMA) e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a região que compreende os municípios de Ilhéus, Itabuna, Itacaré e Uruçuca - cujos domínios serão afetados pelo complexo logístico - registra índices de pobreza preocupantes. Na região, 51,7% das pessoas recebem até meio salário mínimo por mês e 46,2% da população depende da assistência do Bolsa-Família.

O IBGE divulgou dados sobre o sul da Bahia, constatando que 55% da população vive abaixo da linha da pobreza. Itabuna e Ilhéus apresentam taxa de desemprego de 22,4% e 24,8% respectivamente. Outro problema é que 97% do PIB está concentrado nestas duas cidades, criando distorções sociais e econômicas ainda maiores. "A pressão é enorme para a geração de empregos. A expectativa de soluções com um projeto desta magnitude é que está animando a população", avalia Solange Leite, diretora do Instituto Aliança.

O governo estadual acredita que a construção do complexo será capaz de gerar entre 8 mil e 10 mil postos de trabalho, na fase de implementação. As boas perspectivas estão contribuindo para fixar pessoas na região e motivando a abertura de novos negócios. Baiano nascido em Jequié, município a 365 quilômetros de Salvador e limítrofe entre a zona da mata e o semiárido, José Santos Silva voltou de Bertioga, litoral paulista, há dois anos e resolveu ficar. Comprou terreno em Ilhéus, na comunidade de Mamuan, por telefone, já pensando nas novidades programadas para o município. "Queria voltar para a Bahia, mas precisava de boas perspectivas".

Após trabalhar dez anos como funcionário de empreiteira, montou seu próprio negócio: uma empresa de prestação de serviços de construção civil. Aos 25 anos, confessa que seus planos são ambiciosos e preveem diversificação. Além da pequena companhia, já investiu R$ 15 mil em uma lanchonete. Na parte superior do prédio, construiu quartos para alugar. Pretende montar uma cooperativa que agrega profissionais da construção civil para aproveitar as chances que vão surgir em Ilhéus. "O desenvolvimento da Ponta da Tulha vai exigir mão de obra especializada".

Do ponto de vista da economia , a construção do complexo será um ótimo negócio. Porém, as questões ambientais dividem opiniões. A paulista Vani Kanthack, que há 25 mudou-se da cidade de Assis (SP) para a região da Ponta da Tulha, afirma estar preocupada com os impactos ambientais. A implantação do porto, da área de manobra da ferrovia, do local para armazenamento de minério de ferro e a possível instalação de uma siderúrgica no entorno podem, na opinião dela, prejudicar as reservas de Mata Atlântica, além de trazer problemas para a praia.

A Ponta da Tulha é um pequeno pedaço de paraíso, com águas azuis e quentes, emolduradas por areia clara e rica em formação de corais. Vani, dona de uma lanchonete chamada Cabana da Empada e de um charmoso restaurante (que juntos empregam 23 pessoas), admite que o movimento deve aumentar. "Se eu pensar como comerciante, levar em conta apenas o meu faturamento, admito que será bom. Como moradora, sou contra. Não acredito que o projeto será capaz de preservar a região e duvido que gere empregos depois da fase de construção". Na sua visão, a atividade turística é incompatível com o Porto Sul.

Como exemplo de que a melhora na infraestrutura pode ampliar a receita, ela cita o reforço de 30% no faturamento com as obras feitas na BA-001, que liga Ilhéus a Itacaré. Como está na margem da estrada, seu negócio foi beneficiado pela melhoria do eixo que integra as praias da costa do cacau. "Estou aflita com o projeto do Porto Sul. Tenho medo de que se criem na região mais bolsões de pobreza com a migração que deve ocorrer por conta das promessas de emprego".

A preocupação de Vani é constante na comunidade. Na Ponta da Tulha e nas ruas de Ilhéus, a população vive o conflito entre o desenvolvimento econômico e a preservação ambiental. Todos entendem que haverá impacto, por menor que seja, mas desejam o avanço dos índices econômicos e sociais. "O problema é que a barriga não espera e a região sente a ausência de investimentos públicos e privados já há muito tempo", avalia Solange, do Aliança.

Confiar nos estudos ambientais que estão sendo realizados é a alternativa encontrada por alguns moradores da Ponta da Tulha. "Acredito que as análises vão garantir o menor impacto possível. Tenho fé de que a infraestrutura da região vai melhorar sem prejudicar muito a natureza", comenta Josenaldo Queiroz Lustosa. Comerciante, ele vende acarajé para ganhar a vida e conseguiu emprego fixo por, pelo menos cinco meses, como educador no Projeto Transformar. O emprego vai ajudar a reestruturar o seu pequeno negócio. "Minha expectativa é de triplicar o faturamento com o início das obras do porto. O movimento na região será benéfico".

O empreiteiro Roque Lemos, presidente da construtora Cicon, é entusiasta do Porto Sul. Acredita que o projeto vai atender às expectativas de desenvolvimento e, ao mesmo tempo, preservar a natureza. "Com a tecnologia que temos hoje, é possível promover crescimento econômico sustentável. O impacto será 99% positivo para a região. Em dez anos o potencial é de criar 30 mil empregos para os baianos". Ele fala com a certeza de quem já vê os negócios crescerem por conta do Porto Sul. "Em Ilhéus e Itabuna a demanda por imóveis triplicou neste ano. Não há como negar os benefícios".

A Cicon possui sete empreendimentos em andamento e está em fase de lançamento de mais quatro. A empresa gera cerca de mil empregos, entre diretos e indiretos, e o valor geral de vendas (VGV) está na casa de R$ 80 milhões. "Este é um momento privilegiado de expansão. Já há busca para compra de terrenos com foco no futuro", afirma. Segundo ele, o projeto Porto Sul está atraindo grandes construtoras para a região. "Teremos forte demanda. Estamos voltando ao mapa da economia brasileira".

Segundo estudo do IMA e da UFRJ, entre 2002 e 2005 os municípios de Ilhéus, Itabuna, Itacaré e Uruçuca apresentaram taxa média de crescimento do PIB de 6,1% ao ano. Estas cidades geraram riqueza equivalente a R$ 3,97 bilhões, o que representa 3,6% do PIB do Estado e concentra 75,4% do PIB de toda a região Sul.

Os bons ventos sopram também para o turismo de negócios. Marcia Mendonça, diretora dos hotéis Praia do Sol e Aldeia da Praia, está animada com a movimentação da cidade. Os dois hotéis, com 220 apartamentos, têm taxa de ocupação mensal média de 50%. A expectativa de Marcia é de aumentar o movimento. "O melhor dos mundos seria ter 70% de ocupação. É difícil, mas possível com o desenvolvimento", afirma. Em suas projeções, o crescimento da demanda vai exigir incremento de 20% no quadro de funcionários. Hoje a rede emprega 120 funcionários na baixa temporada e contrata temporários durante o verão.

Até agora, a ampliação dos negócios está ligada às pesquisas da Petrobras, que pretende explorar petróleo e gás na região. Marcia atende a companhia de petróleo e suas parceiras em seus hotéis. Quando a movimentação da Petrobras começou, mandou a gerente comercial para Macaé (RJ) em busca de clientes corporativos. Também mantém convênio com a Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc), que opera na região. "Apostamos no turismo de negócios como complemento ao de lazer para reduzir a dependência da temporada".

O negócio familiar de hotelaria surgiu com a crise na lavoura cacaueira, há 20 anos. O empresário Carlos Mendonça, pai da empresária, viu a 'vassoura de bruxa' devastar suas plantas e resolveu diversificar. "Começamos com 16 apartamentos no Praia do Sol e fomos reinvestindo os ganhos no negócio. Ainda vivíamos do dinheiro da lavoura e conseguimos ampliar rapidamente", conta Marcia.

A demanda por unidades habitacionais cresceu na região, que teve forte incentivo para o turismo. Com a visita constante de empresas, a família Mendonça resolveu abrir, há 10 anos, o Aldeia da Praia, que como diferencial possui um centro de convenções com capacidade para 300 pessoas. O sucesso do empreendimento motivou o aporte de mais de R$ 1 milhão em outro centro de convenções, desta vez no Praia do Sol. Em construção, o espaço terá capacidade para 500 pessoas e deve entrar em operação em 2010. "Perdemos eventos para Salvador por não termos agenda no Aldeia da Praia. A demanda é forte e já temos um contrato fechado para receber um evento na nova unidade".(Fonte: Valor Econômico/ Ediane Tiago, para o Valor, de Ilhéus)

 

 

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