O porto de Santos, o maior da América do Sul, estuda ampliar sua área para terminais. E seus planos mudaram. Não envolvem mais a implantação de um conjunto de instalações de carga na parte central da região portuária, entre as ilhas Barnabé e Bagres, o denominado Complexo Barnabé-Bagres, debatido desde o final dos anos 90. O futuro do complexo santista não está mais no interior do canal de navegação, mas fora dele, com a construção de terminais de águas profundas no exterior da Baía de Santos, o projeto Santosvlakte.
O nome é uma referência à Maasvlakte, a área de expansão do Porto de Roterdã, na Holanda, o principal complexo marítimo do Ocidente. Para conseguir mais espaço para suas operações, a autoridade portuária holandesa aterrou uma área do Mar do Norte e ali ergueu seus novos terminais. É neste exemplo em que a Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp, a Autoridade Portuária de Santos) se inspira.
O plano santista foi apresentado pelo engenheiro da Codesp Aluísio Moreira na última semana, durante sua participação no Seminário Internacional de Portos e Hidrovias (SIPH). O evento, realizado no campus principal da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), na Ilha do Fundão, na capital fluminense, reuniu especialistas brasileiros, norte-americanos, britânicos, holandeses e belgas para debater novos paradigmas para obras costeiras e portuárias.
Em sua palestra no SIPH, Moreira explicou que, atualmente, a Codesp realiza os estudos necessários para avaliar a viabilidade do Santosvlakte. “Estamos montando um banco de dados sobre o estuário para então verificarmos se tal empreendimento pode ser feito, quais serão seus reflexos no meio ambiente. Não sabemos se ele seria erguido a 10 quilômetros, a 20 quilômetros, mais para a esquerda ou à direita. Mas essas informações vão apontar qual a melhor localização”, explicou Moreira.
O engenheiro destacou que tal empreendimento segue uma tendência percebida nos principais portos do mundo, a de expandir suas áreas para além-mar. “Santos vai precisar crescer e a solução não está no interior do estuário, mas lá fora”, afirmou.
A ideia de construir um complexo de águas profundas no exterior da Baía de Santos ou na costa da região teve origem a partir de dois estudos. Um deles é o masterplan (plano mestre) do Porto, financiado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e elaborado pelo consórcio The Louis Berger Group-Internave Engenharia Ltda. Concluído em 2010, ele previu três linhas de crescimento para a movimentação de cargas do cais santista: uma pessimista, uma básica e uma otimista. Os resultados dos últimos anos confirmam a linha otimista, que projeta a operação de 229,73 milhões de toneladas em 2024.
O outro levantamento considerado foi o Estudo de Acessibilidade do Porto, realizado pela Fundação para o Desenvolvimento Tecnológico da Engenharia (FDTE) também em 2010. Ele mostrou quais trechos das rodovias e linhas ferroviárias que atendem o cais santista estavam próximos do limite de sua capacidade de transporte de cargas.
Segundo Moreira, diante do aumento de movimentação previsto pelo masterplan e das condições de infraestrutura apontadas no Estudo de Acessibilidade, o Porto de Santos terá de expandir suas instalações e melhorar sua logística. As ligações rodoviárias e ferroviárias podem ser ampliadas ou ter seu excedente de cargas levado por barcaças. O problema está no canal de navegação, que já mostra indícios de exaustão, com o crescimento do tamanho dos navios e do tempo médio de espera dos cargueiros para atracar, apontou.
“Cada vez mais o canal está sendo demandado e, uma hora, chegará ao limite. Nesse momento, não temos uma opção. A saída é reduzir a necessidade do canal e levar os terminais para fora”, explicou o engenheiro da Docas.
A estratégia é utilizada por grandes portos mundiais desde o final do século passado. Ela foi adotada tanto em Roterdã, com o Maasvlakte 1 e o 2 (inaugurado no ano passado), como em Le Havre, na França, com o projeto Port 2000, e em Xangai, na China, que construiu seu complexo de terminais de águas profundas no arquipélago de Yangshan, localizado a 32 quilômetros da costa da cidade.
“A exploração de áreas além-mar é a saída encontrada pelos principais portos do mundo. É uma tendência mundial. Com isso, eles conseguem locais com uma profundidade maior e uma menor necessidade de dragagem, pois há um menor assoreamento (depósito de sedimentos no leito de um mar ou rio, deixando-o mais raso). Tem uma melhor acessibilidade e um maior dimensionamento de terminais”, afirmou o representante da Codesp em sua apresentação, que se tornou um dos pontos altos do seminário ocorrido no Rio de Janeiro.
O primeiro passo para o projeto Santosvlakte foi dado no ano passado, quando a Docas firmou uma parceria com a Universidade de São Paulo (USP), válida por 25 anos. O acordo prevê que a instituição de ensino superior irá pesquisar os fenômenos estuarinos, oceânicos e meteorológicos – como as condições das marés, das correntes e dos ventos – da Baía de Santos e áreas próximas. A USP ainda treinará funcionários da Autoridade Portuária para estudar a implantação do projeto de expansão.
“Primeiro estamos recolhendo dados. Depois vamos analisá-los e, então, poderemos verificar a viabilidade do Santosvlakte. Esse projeto mostra que o Porto de Santos já se prepara para o futuro”, afirmou Aluísio Moreira.
Fonte: Tribuna Online/Leopoldo Figueiredo
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