Medida agiliza captação de recursos, abre espaço para novos sócios e pode beneficiar polos naval e de petróleo e gás
Poucos portos brasileiros sofreram transformações tão profundas nos últimos anos quanto o Complexo Industrial Portuário de Suape, em Ipojuca, no estado de Pernambuco. Após quase 30 anos de ostracismo, Suape tornou-se um dos portos mais dinâmicos e modernos do País. O número de navios que atracam em seus cais praticamente dobrou nos últimos cinco anos e tende a crescer ainda mais. A previsão é que a movimentação de cargas aumente em 20% neste ano. O porto também está entre os que mais atraem empreendimentos. Neste momento, os investimentos previstos para a instalação de 37 novas empresas, entre as 100 já existentes, somam US$ 17 bilhões. Para dar suporte ao crescimento e acomodar um número ainda maior de empreendimentos no futuro, Suape buscou inspiração na Europa para também modernizar sua estrutura jurídica e acionária.
Foto: Jorge Luiz Bezerra Ampliar
Sidney Aires, vice-presidente de Suape: "nosso volume de carga vai ser triplicado quando a refinaria entrar em operação"
Atualmente o complexo é uma empresa pública com 100% do capital controlado pelo governo do estado de Pernambuco. A ideia em gestação é transformá-lo em sociedade anônima de capital fechado. A mudança permitirá que Suape receba sócios e passe a operar como empresa de capital misto, ainda controlada pelo estado, mas com a participação de outros sócios. Entre as empresas que já manifestaram interesse em entrar em uma eventual sociedade está a Petrobras, que tem grandes investimentos em Suape. A mudança jurídica agilizaria a contratação de empréstimos e permitiria alternativas de capitalização só liberadas a S/As, como a emissão de debêntures. “O estado não abre mão de ser o controlador do complexo”, diz Sidney Aires, vice-presidente de Suape. “Mas vamos investir num modelo diferenciado e moderno que busca flexibilizar e agilizar a capitalização de Suape.”
A fonte de inspiração para a mudança é o Porto de Rotterdam, na Holanda, o maior da Europa e um dos mais importantes do mundo. Rotterdam é uma S/A controlada pela prefeitura. Há dois anos, Rotterdam presta consultoria a Suape e neste ano entrega uma proposta para o novo plano diretor do complexo que inclui essa e outras sugestões. Se a criação da S/A vingar, Suape vai implantar no País um novo modelo para o setor. “Hoje, não existe nada parecido com isso em portos públicos brasileiros”, diz Rui Botter, professor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, especialista em portos.
Ímã para atrair fornecedores
A transformação de Suape em S/A busca, acima de tudo, fortalecer o projeto Suape Global - que, como nome explica, quer abrir as portas do mundo para o porto pernambucano. O projeto prevê a criação de polos de produção para as indústrias naval e de petróleo a partir de uma trinca de grandes empreendimentos: o Estaleiro Atlântico Sul, que já está construindo o primeiro navio, a Petroquímica Suape e a Refinaria Abreu Lima, os dois últimos em fase de implantação. As três empresas são consideradas “estruturadoras” - funcionam como um ímã para atrair centenas de fornecedores de insumos e de equipamentos.
A administração do porto reforçou os investimentos em infraestrutura para garantir a chegada de uma nova leva de empresas. Neste ano, a previsão é que sejam desembolsados quase R$ 800 milhões. O valor recorde é 68% superior ao aplicado em 2009. Os recursos financiam a reforma de cais e píers, a abertura de novos acessos às áreas industriais, a drenagem do leito do mar e outras obras pontuais. “Vamos formar em Pernambuco uma cadeia global de bens e serviços para as indústrias de petróleo, de gás e naval”, diz Aires. “Por isso, temos pressa em fazer investimentos e nos estruturar.”
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Os benefícios do projeto Suape Global são considerados gigantescos para porto. Para se ter uma dimensão do retorno, basta analisar os efeitos de um único empreendimento: a refinaria Abreu Lima. Sozinha ela responde por US$ 12 bilhões dos US$ 17 bilhões que neste momento estão sendo investidos em Suape. No pico da obra, previsto para fevereiro de 2011, estima-se que vá gerar 20 mil postos de trabalho. Quando começar a operar, em abril de 2013, deve empregar 1500 funcionários especializados. A unidade terá capacidade de processar 280 mil barris de petróleo por dia, que serão transformados em um leque de produtos: gás de botijão, nafta petroquímica, coque e combustível para navios.
O maior diferencial, e carro chefe da linha com 70% da produção, será um tipo de diesel novo para os padrões brasileiros. “A Abreu Lima vai produzir diesel com baixo teor de enxofre a partir de petróleo pesado”, diz Marcelino Guedes Gomes, presidente da refinaria. “Além de ser ambientalmente melhor, esse diesel vai dar autossuficiência ao mercado brasileiro de diesel, hoje dependente de importações.” Computada na conta de Suape, a operação da refinaria criará um novo paradigma para os resultados. “Quando a refinaria entrar em operação, vai multiplicar por três o volume de carga em Suape”, diz Aires, vice-presidente do complexo. “A receita passará dos atuais R$ 42 milhões para R$ 200 milhões.”
Fonte: Último Segundo/Alexa Salomão, de Ipojuca (PE)
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