De olho no potencial de expansão no movimento de cargas e de redução dos custos para exportadores e importadores, o porto gaúcho de Rio Grande pretende fechar acordos de cooperação operacional com os terminais de Montevidéu e Buenos Aires. A negociação com autoridades uruguaias começou em abril, na feira Intermodal South America, realizada em na capital paulista, e o plano é reunir os dirigentes dos três portos para tratar do assunto em um encontro no Uruguai no mês de julho, disse o superintendente de Rio Grande, Dirceu Lopes.
"Vamos trabalhar com a ideia de complementaridade em vez de competição entre os portos do Cone Sul", disse o executivo, que assumiu o cargo em janeiro. Segundo ele, como o canal de acesso ao terminal do Rio Grande do Sul é mais profundo do que a entrada do Rio da Prata, os navios que partem dos países vizinhos com carga incompleta podem ser preenchidos em Rio Grande e os que chegam podem ser descarregados parcialmente no porto gaúcho antes de seguir para Montevidéu e Buenos Aires.
Para o presidente da Associação Brasileira dos Terminais Portuários (ABTP), Wilem Manteli, se o plano sair do papel "será uma medida inteligente e oportuna". De acordo com ele, é possível estimar uma redução de custos de frete de até 30% com a concentração das cargas originárias ou destinadas ao cone sul em navios de maior porte. Outra vantagem seria a possibilidade de desenvolvimento de um sistema hidroviário para ligação entre os portos, comentou.
"Com a integração há ganho de escala e eliminação de gargalos", acrescentou Manteli. Segundo Lopes, o projeto requer a adesão dos demais agentes do setor, como operadores portuários, armadores, importadores e exportadores, enquanto a gestão do transporte das mercadorias entre os portos pode ser compartilhada pelos sistemas informatizados sem maiores dificuldades. "Somos indutores do processo de captação de cargas", disse o superintendente.
A ideia da integração ganhou força depois da conclusão do prolongamento dos molhes e da dragagem do acesso ao porto gaúcho, no ano passado. Com a obra, a profundidade do canal interno (entre os molhes) foi ampliada de 14 metros para 16 metros, o que permitiu um aumento de até 12 mil toneladas de carga por navio. No mês passado, no pico da safra gaúcha de grãos, as embarcações deixaram o porto de Rio Grande com até 72 mil toneladas, disse Lopes.
O projeto requer a adesão dos demais agentes do setor, como operadores portuários e os armadores
Já no acesso à bacia do Rio da Prata, a profundidade é de dez metros e limita a operação dos navios, afirmou Manteli. Segundo o superintendente do porto gaúcho, nessas condições as embarcações podem navegar com pouco mais de 30 mil toneladas de carga. Em 2010, Montevidéu movimentou um total de 9,2 milhões de toneladas, com crescimento de 20,8% sobre 2009, enquanto em Buenos Aires o volume avançou 18,6%, para 11,7 milhões de toneladas, e em Rio Grande cresceu 15,9%, totalizando 27,7 milhões de toneladas.
No primeiro trimestre o movimento no porto gaúcho aumentou 24,8% sobre igual período de 2010, para 6,3 milhões de toneladas, e a previsão para o acumulado do ano é de 35 milhões de toneladas, informou Lopes. Segundo o superintendente, se a integração for concretizada, ela poderá atrair novas rotas para Rio Grande e gerar um potencial, no médio e no longo prazo, de crescimento adicional de até 35% no volume de cargas.
O porto gaúcho prevê para 2013 ou 2014 atingir a capacidade instalada, de 50 milhões de toneladas por ano
Mesmo sem o pretendido acordo com Montevidéu e Buenos Aires, o porto gaúcho já projeta para 2013 ou 2014 o esgotamento da capacidade instalada atual, estimada em torno de 50 milhões de toneladas por ano. De acordo com Lopes, terminais privados que operam no local já estão solicitando novas áreas para expansão de suas estruturas e a licitação para as obras de modernização de 1.125 metros do cais público, estimadas em cerca de R$ 125 milhões, deve ser lançada em três meses.
O porto também está elaborando um plano estratégico de longo prazo, já que pouco menos da metade dos 2,5 mil hectares concedidos pela União ao Estado está ocupada hoje, em parte por estaleiros recém instalados no chamado "polo naval" gaúcho. Entre as alternativas em estudo estão a expansão para áreas no município vizinho de São José do Norte e a utilização da Ilha do Terrapleno, que fica em frente ao cais público e foi construída com sedimentos extraídos na primeira dragagem do canal, por volta de 1910.
Atualmente a ilha abriga uma base de helicópteros da Marinha e a cessão da área já foi solicitada pelo Estado no governo anterior. Conforme Lopes, o local tem 8 mil metros disponíveis para construir 15 ou 16 berços de atracação, o que significaria praticamente dobrar a capacidade atual de movimentação de carga em Rio Grande. O projeto ainda não está definido, mas o superintendente admite que o investimento poderá ser realizado em regime de parceria público-privada (PPP).
PUBLICIDADE
Fonte: Valor Econômico/Sérgio Bueno | De Porto Alegre