A movimentação de líquidos no Porto de Santos não será afetada pela paralisação das operações da Granel Química na Ilha Barnabé, na Margem Esquerda do cais santista. Segundo especialistas do setor, os terminais do complexo têm capacidade para absorver as operações durante o período de cerca de dois anos quando a Ageo Terminais realizará obras para se instalar no local.
A Ageo venceu, no ano passado, um leilão promovido pelo Ministério da Infraestrutura para o arrendamento da área antes operada pela Granel Química, desde 1992. Com o fim do contrato, nos últimos sete anos, a empresa passou a operar com base em sucessivas decisões judiciais.
PUBLICIDADE
Porém, com a assinatura do arrendamento entre a pasta de Infraestrutura e a Ageo, em 9 de abril, o governo deu um ultimato para que a Granel desocupe o terreno. Isto deve acontecer em cerca de 90 dias.
Agora, a empresa aponta que haverá “um hiato na tancagem de carga, no trabalho e na receita da Autoridade Portuária”. No entanto, segundo o consultor portuário Marcos Vendramini, as outras instalações do cais santista têm plena capacidade de absorver as operações que a Granel deixará de realizar.
“O Porto sobreviveu à saída da Vopak (empresa que operava líquidos na Ilha Barnabé). Também passou pelo incêndio da Ultracargo (que durou nove dias e deixou instalações inoperantes). Por que não vai poder absorver a demanda da Granel? Haverá um aquecimento do mercado, mas há muito tempo já se sabia que isso iria acontecer”, destacou o consultor, que atuou em parceria com a Empresa de Planejamento e Logística (EPL, ligada ao Ministérioda Infraestrutura) nos estudos que viabilizaram a licitação do terminal portuário santista.
O presidente da Federação Nacional dos Operadores Portuários (Fenop), Sérgio Aquino, tem a mesma opinião. Segundo ele, este “hiato” já estava previsto pelas autoridades. “Ninguém pode argumentar surpresa e nem que isso seja reflexo da imprevisibilidade. Estava prevista nos estudos de viabilidade a transferência dessas operações para outros terminais”, destaca.
Autoridade Portuária
De acordo com o diretor de Relações com o Mercado e Comunidade da Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp, a AutoridadePortuária), Danilo Veras, a Granel tem até agosto para desmontar seus 99 tanques pressurizados e entregar a área à Ageo. A decisão de remover as estruturas foi da empresa que deixará a área. Caso isto não aconteça, ela poderá ser penalizada pelo Governo Federal.
“A Codesp tem internamente um time dedicado aos estudos financeiros. Esse time verificou que não existiria nenhum impacto para o Porto de Santos, pois a carga que a Granel opera é cativa. Dado ao comportamento de custo, de logística, essas cargas virão para o Porto de Santos de qualquer forma e para outros terminais”, explicou Veras.
O executivo também rebate apontamentos de que o complexo santista pode perder receita durante o período em que a área ficará inoperante. “O ponto não é que a Codesp vai perder receita. Pelos estudos que a gente tem até o momento, essa carga vai se dividir naturalmente para outros terminais e isso enseja que a gente tenha a reacomodação da área para um novo player. Essa é a questão”, afirmou Danilo Veras.
Docas descarta desabastecimento
Técnicos da Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp) apontam que a paralisação temporária das operações da Granel Química no Porto de Santos não oferece risco de desabastecimento de insumos necessários à indústria no País. Porém, uma empresa do setor papeleiro recorreu à Justiça para garantir as operações do terminal.
Trata-se da Cadam, uma das maiores produtoras e exportadoras de caulim para revestimento de papelão e papel. Procurado, o representante da empresa no País confirmou a ação judicial para garantir que as operações com insumos sejam mantidas no terminal inoperante. Porém, preferiu não dar maiores declarações sobre o caso.
Segundo o diretor de Relações com o Mercado e Comunidade da Codesp, Danilo Veras, a Docas foi alvo de diversos questionamentos, inclusive internacionais, sobre a questão. Por isso, iniciou um trabalho para identificar os impactos da paralisação das operações do terminal na cadeia logística do Porto.
“A primeira discussão que bateu na nossa área foi: vai faltar combustível? Os nossos estudos falaram que não, dado que você tem uma capacidade muito superior ao que é colocado pela Granel. Segunda coisa: vai faltar material de refino. Também não, dado que temos o Porto de São Sebastião abastecendo as refinarias aqui. Por último, o que bateu foi o caulim, que é um tipo de cal, usado para papéis especiais, cartões de perfil mais caro, um mercado disputado no mundo. Nosso time mapeou que não vai haver desabastecimento”.
Segundo Veras, o que haverá é um sobre custo devido à acomodação logística. E isto ocorrerá pois as empresas tomaram a decisão de não ter outras rotas de suprimento, além da Granel Química, e não se prepararam para o fim das operações, o que já estava previsto.
Fonte: A Tribuna