A construção de um terminal de Gás Natural Liquefeito (GNL) é apontada nos últimos anos como a resposta para a escassez da oferta de gás natural na região Sul do Brasil. As distribuidoras de gás Sulgás (gaúcha), SCgás (catarinense), Compagas (paranaense) e representantes empresariais desses estados estão unidos nesse sentido. A questão que não é pacífica é quanto ao local em que esse complexo poderia ser instalado.
Na semana passada, a SCgás divulgou uma nota afirmando que o secretário executivo do Ministério de Minas e Energia, Márcio Zimmermann, tinha revelado “que a pasta considera o porto de Imbituba (SC) o mais adequado para receber um posto de regaseificação de GNL”. A declaração teria sido dada durante reunião com o Fórum Industrial Sul, distribuidoras de gás natural do Sul e com coordenadores das bancadas federais dos três estados, realizada em Brasília. Fontes que acompanham o assunto dizem “que não foi bem isso que o secretário afirmou”. A reportagem do Jornal do Comércio tentou entrar em contato com Zimmermann, por três dias seguidos, para confirmar a manifestação, entretanto a assessoria de imprensa do ministério informou que não foi possível contatá-lo.
Conforme o presidente da Fiergs, Heitor Müller, que participou do encontro, o secretário não foi enfático quanto a Imbituba. “No fundo, no fundo, ele citou vários portos.” Indagada sobre o tema, a Sulgás preferiu manifestar-se por nota. Segundo o comunicado, a companhia está participando do grupo que está propondo alterações no Pemat (Plano Decenal de Expansão de Malha de Transporte Dutoviário) para inclusão da ampliação do suprimento de gás natural no Sul do País. De acordo com o documento, esse é um esforço conjunto entre os três estados da região com o Ministério de Minas Energia.
Além do terminal de GNL em Santa Catarina, a proposta inclui outra opção, a implantação de um terminal em Rio Grande e a construção de um gasoduto até Porto Alegre. Pelo fato de o Rio Grande do Sul ficar na ponta do sistema nacional de gasodutos, o terminal de GNL permitiria uma maior redundância no fornecimento e também mais confiabilidade. O presidente da Fiergs é um defensor do aumento da oferta de gás na região Sul e reitera que os agentes envolvidos estão trabalhando em conjunto para isso se tornar realidade. No entanto, Müller admite que prefere que o terminal seja instalado no Estado. O dirigente recorda que os gaúchos “importam” de outros locais mais da metade da energia consumida e o gás poderia alimentar termelétricas para reverter essa situação. Além disso, o empreendimento geraria ICMS e empregos no Rio Grande do Sul.
Müller acrescenta que um dos motivos para que a montadora BMW escolhesse, recentemente, Santa Catarina para instalar uma unidade deveu-se à garantia de que contaria com gás natural. Para tal, comenta o presidente da Fiergs, a empresa do segmento de cerâmica Eliane teve que abrir mão de parte do gás que havia contratado e passou a utilizar como fonte de energia o carvão.
Empresas do Rio Grande do Sul demonstram interesse, mas projetos continuam no papel
Somente no Rio Grande do Sul, o sonho com o terminal de GNL já motivou, em 2012, a realização de um protocolo de intenções entre governo gaúcho, Petrobras, Hyundai e Samsung para viabilizar a implantação de um empreendimento como esse e de uma fábrica de fertilizantes, em Rio Grande. No mesmo município, o Grupo Bolognesi manifestou o desejo de construir um terminal e uma térmica a gás.
O que falta para esses complexos materializem-se é garantir a viabilidade financeira dessas iniciativas. O coordenador do grupo temático de energia da Fiergs, Carlos Faria, argumenta que, se for instalada alguma dessas estruturas na região Sul, dificilmente haverá mercado, no momento, para uma segunda similar. O dirigente enfatiza que o terminal de GNL seria importante para o Rio Grande do Sul. Porém, Faria reconhece que a localização de Santa Catarina, entre os paranaenses e os gaúchos, é um diferencial em favor do estado vizinho. Apesar dessa condição logística, o integrante da Fiergs lembra que a instalação de uma planta como essa passa por uma decisão política, que ainda não está definida. Faria comenta também que os gaúchos apresentam uma demanda reprimida quanto ao gás natural e, a curto prazo, a solução de um terminal de GNL seria mais lógica do que a construção de um novo gasoduto de maior porte.
A presidente da RS Óleo e Gás, Magali Freiberger, concorda que um terminal de GNL seria fundamental para o Estado. Magali diz que a posição dos catarinenses, e a proximidade com São Paulo, pode ser uma vantagem. Entretanto, a dirigente ressalta que o Rio Grande do Sul, por si só, sem enviar gás para outros estados, já representaria um mercado promissor para a instalação de um terminal de GNL.
O diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Adriano Pires, sustenta que tanto Paraná, como Santa Catarina e o Rio Grande do Sul poderiam receber uma unidade dessa natureza. “O importante é que saia o empreendimento”, enfatiza. Pires reitera que há uma demanda reprimida na região Sul. O diretor do CBIE acrescenta que o preço do GNL no cenário internacional tem ficado cada vez mais viável. Uma opção sugerida por Pires é que as três distribuidoras da região Sul formassem uma sociedade para investir em um empreendimento como esse. Qualquer que seja o caminho adotado, o presidente da Fiergs, Heitor Müller, resume a questão: “queremos resultado, queremos gás”.
Fonte: Jornal do Comercio (POA)/Jefferson Klein
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