Percorrer de carro a estrada que corta o porto de Roterdã é praticamente uma viagem para os padrões holandeses. São 37 quilômetros desde o ponto em que os primeiros galpões e gruas começam a surgir na paisagem até o fim da via.
A distância --menos da metade da rota entre Haia e a capital Amsterdã -- dá uma dimensão da grandeza do maior porto da Europa, desbancado como maior do mundo em 2004, pela China.
PUBLICIDADE
Outro termômetro é sua movimentação: por ano, são 467,4 milhões de toneladas movimentadas. No porto de Santos, o maior do Brasil, foram 130 milhões em 2017.
Os limites do porto de Roterdã, porém, vão além dos Países Baixos e, neste ano, parte da expansão da companhia que administra o empreendimento holandês deverá ocorrer no Brasil.
O porto acaba de obter a licença ambiental e de instalação para a construção do Porto Central, no Espírito Santo. A entrada no empreendimento se deu em 2014, com a formação de uma joint venture com a brasileira TPK Logística (controlada pela Polimix).
Localizado em frente a bacias de exploração do pré-sal, o porto tem como prioridade o setor de petróleo, ao menos nessa primeira fase de construção, que deverá se iniciar em breve.
"É o que tem a demanda mais urgente. O Brasil tem um déficit de armazenamento, então será uma solução logística para as empresas", diz Duna Uribe, gerente de projetos internacionais do porto.
Agora, o momento é de firmar contratos comerciais com os clientes para definir o investimento --que havia sido estimado em R$ 3 bilhões para a primeira etapa.
Além do Porto Central, a empresa poderá fechar uma aquisição no Ceará, no porto de Pecém, um terminal de uso privado do governo estadual, já em operação.
"Começamos fazendo uma consultoria, em 2015, e durante o processo surgiu o interesse. Agora, estamos investigando a viabilidade de adquirir uma participação. Isso vai ser definido neste ano", afirma Uribe, que é cearense.
TRANSIÇÃO ENERGÉTICA
Se no Brasil o foco é petróleo, na Europa a preocupação é encontrar soluções para depender menos de combustíveis fósseis e não perder relevância com a transição energética que grande parte dos países europeus tem vivido.
Hoje, cerca de 50% da carga movimentada em Roterdã é de petróleo e seus derivados --naquela mesma estrada que atravessa o porto, Uribe aponta a todo momento refinarias e tanques de gás natural.
Nos últimos anos, a demanda não caiu, mas se estabilizou. "As empresas deixaram de fazer novos investimentos nessa área", afirma a executiva.
"A tendência é de descarbonização na Europa. Precisamos de um plano para sobreviver. Vai melhorar o que existe para poluir menos? Vai atrair outros mercados, de biocombustíveis? Tem muitos projetos em andamento."
Fonte: Folha SP