Equipamentos localizados a até 6 quilômetros da costa gaúcha têm a função de movimentar petróleo e derivados
A maior parte da nafta (principal matéria-prima petroquímica) que vai para a Braskem, no polo de Triunfo, e do petróleo que abastece a refinaria Alberto Pasqualini (Refap), em Canoas, chega ao Rio Grande do Sul pelas duas monoboias de Tramandaí.
Situados a quatro e seis quilômetros da costa, os equipamentos também servem para levar até os navios gasolina e óleo diesel destinados à exportação. Devido ao aumento da movimentação de líquidos pelas estruturas, essas companhias, com a Transpetro (subsidiária da Petrobras), atualmente estudam a implantação de uma terceira monoboia no Litoral gaúcho.
Conforme cálculos da Transpetro, um projeto como esse gira em torno de R$ 50 milhões e demanda um ano de serviço. O gerente de matérias-primas da Braskem, Cristiano Costa, explica que a necessidade desse empreendimento deve-se, principalmente, ao aumento das exportações de combustíveis da Refap. E a própria Braskem tem um volume considerável de movimentação. A empresa consome cerca de 4 milhões de toneladas de matérias-primas ao ano. Desse total, cerca de 75% chegam através da monoboia, proveniente de importação ou da Petrobras, e o restante é fornecido localmente pela Refap ou pela refinaria de petróleo Riograndense (ex-Ipiranga).
Na terça-feira passada, o navio SKS Mosel, de bandeira norueguesa, iniciou a operação do maior fornecimento de nafta (procedente da Argélia) já realizado pela monoboia: 90 mil toneladas. O capitão de manobra da Transpetro, Rômulo Quirino dos Prazeres, foi o responsável pela operação de conexão do navio com a monoboia.
A ligação entre a embarcação e a estrutura é feita por mangotes de 16 polegadas (uma espécie de mangueira). Posteriormente, os produtos são transportados por oleodutos até o Terminal Almirante Soares Dutra (Tedut), em Osório e, após, são deslocados através de oleodutos terrestres para a Refap e a Braskem.
No caso das exportações de diesel e gasolina, o caminho feito é o inverso até os combustíveis chegarem aos navios. No ano passado, 224 navios realizaram ações envolvendo as monoboias.
O coordenador de operações do Tedut, Sandro Nenes Muller, lembra que no mês de julho foi registrado o recorde de operações, 27 navios. “Foi o maior índice de produtos movimentados (o recebimento e o envio de produtos somaram 3,279 milhões de metros cúbicos) nos 41 anos de existência do terminal e o maior faturamento (rendimento bruto mensal de R$ 8,984 milhões)”, afirma Muller.
No total, em 2009, foram movimentados pela Transpetro, no Rio Grande do Sul, em torno de 18 milhões de metros cúbicos em produtos. A companhia possui uma rede de oleodutos no Estado de cerca de 500 quilômetros de extensão. Um dos seus principais complexos, o oleoduto Osório-Canoas (Oscan), tem uma capacidade de movimentação de 1,6 milhão de litros/hora.
Estudo levantará potencial das hidrovias no Estado
Em março deverá ser organizado um encontro que reunirá representantes da Associação Brasileira dos Terminais Portuários (ABTP), governo do Estado, Assembleia Legislativa e Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs) para discutir as hidrovias gaúchas. O presidente da ABTP, Wilen Manteli, adianta que desse evento deverá sair uma proposta para a realização de um estudo para levantar as potencialidades desse modal logístico no Estado.
O dirigente relata que a expectativa é reunir representantes de cerca de 45 municípios ribeirinhos. Ele enfatiza que há um grande potencial de transporte de cargas, turístico, de lazer e esportivo a ser explorado no Rio Grande do Sul. Manteli acredita que é possível aumentar o fluxo de cargas em contêineres e de produtos ligados ao setor de agronegócios pelos rios. Ele também ressalta que os maiores investimentos que precisariam ser feitos na hidrovia gaúcha já foram realizados, como é o caso da implantação de eclusas (obra que ajuda a resolver problemas com desníveis dos rios).
Manteli lembra que uma embarcação na hidrovia pode transportar de 150 a 200 contêineres e isso significa retirar das estradas o mesmo número de caminhões. O presidente da ABTP defende que o Rio Grande do Sul pode se espelhar em exemplos como o da região do Mississipi, nos Estados Unidos, e o da Holanda para desenvolver suas vias fluviais.
Conforme o deputado estadual Sandro Boka (PMDB), a reunião de março também será aproveitada para convencer os prefeitos a regularizar as áreas que margeiam os rios e a Lagoa dos Patos e criar projetos de incentivos fiscais para a atração de investimentos nesses locais. O deputado lembra que algumas cidades já apresentaram interesse em desenvolver portos fluviais como é o caso de Canoas, Tapes e Arambaré.
Boka pretende convidar a governadora Yeda Crusius e o secretário estadual de Infraestrutura e Logística, Daniel Andrade, para apresentar o projeto elaborado por uma comitiva holandesa que tem como objetivo planejar futuros investimentos. Em meados de 2009, a pedido do governo do Estado, o presidente da Associação dos Portos de Amsterdã (Amport), Wim Ruijgh, apresentou propostas para o desenvolvimento da hidrovia gaúcha. Os holandeses apontaram entre as possíveis oportunidades o transporte de cargas a granel de Cachoeira do Sul a Rio Grande. O coordenador da diretoria de Infraestrutura Hidroviária do Dnit, Paulo Roberto Coelho de Godoy, informou que o governo federal tem interesse em promover a chamada hidrovia do Mercosul. A intenção é reativar o porto de Santa Vitória do Palmar e iniciar a navegação pela Lagoa Mirim ainda em 2010.
Apelo ambiental beneficia o transporte por rios
O cenário atual, em que as mudanças climáticas e os impactos ambientais são temas da imprensa internacional, contribui para que as hidrovias sejam melhor aproveitadas. O deputado estadual Sandro Boka (PMDB) salienta que o transporte por embarcações apresenta uma emissão de gases muito inferior à verificada com a movimentação de cargas realizada por caminhões.
Outro ponto enfatizado pelo deputado é que existe hoje um gargalo logístico no Rio Grande do Sul concentrado na BR-116. A rodovia é um dos principais acessos ao porto do Rio Grande. Segundo ele, a rodovia encontra-se com um fluxo de veículos muito intenso. “A grande saída para o transporte ao porto será a hidrovia e temos que nos preparar desde já para essa questão”, defende Boka O diretor operacional da Navegação Aliança, Ático Scherer, concorda sobre as vantagens das hidrovias e que será útil realizar um estudo sobre as possibilidades que o modal apresenta para as cidades gaúchas. Ele, inclusive, sugere a criação de um conselho de desenvolvimento dos municípios ribeirinhos para apresentar a potencialidade de cada lugar.
“Mas, para desenvolver essas ideias, é preciso mapear as condições da hidrovia”, alerta o dirigente. Ele acrescenta que ainda há uma burocracia muito grande para a implantação de projetos na via fluvial. Scherer comenta que o aumento de fluxo de cargas pelas hidrovias implicaria a construção de novas embarcações e, por consequência, o aquecimento da economia e a geração de postos de trabalho.(Fonte: Jornal do Commercio/RJ/Jefferson Klein)
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