Quando o tema é clima, ouvimos falar o tempo todo que estamos vivendo um período de mudanças climáticas cada vez mais severas. Estudiosos se aprofundam no tema para entender melhor os fenômenos e, com o uso de tecnologia, conseguem excelentes resultados.
Nossa Amazônia é um dos espaços que mais sentem os efeitos das mudanças climáticas. Nos últimos anos, vimos acontecer fenômenos que podemos chamar de “estranhos”, mas os cientistas e estudiosos mostram que são repetições de ocorrências anteriores, muitas vezes agravadas pela ação do homem.
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Portanto, se os pesquisadores conseguem se surpreender cada vez menos, pois estudam os fenômenos, por que não usamos melhor as informações disponibilizadas por eles e nos planejamos para situações que podem ser extremas, como foram as secas de 2023 e 2024 na região amazônica, que quase deixaram a região isolada para o abastecimento e o escoamento da produção da Zona Franca?
Em 2023, fomos surpreendidos pela seca, apesar de já se observar que o rio baixava numa velocidade superior à dos anos anteriores. Batimetrias precisavam ser feitas para conhecer com mais detalhes os pontos críticos, mas a opção foi aguardar para ver se realmente iria baixar... Infelizmente, baixou e inviabilizou a chegada de navios a Manaus por um período de mais ou menos 40 dias. 45.000 TEUs deixaram de ser movimentados. A indústria tentou se antecipar, sem sucesso, e houve desabastecimento da região e encarecimento de produtos de consumo como arroz, feijão, carne, cimento etc. O Governo Federal contratou dragagem emergencial para alguns trechos, mas, infelizmente, o resultado deixou a desejar, seja pelo equipamento utilizado, seja pelo momento da sua realização. Felizmente, a seca é passageira: voltou a chover e o rio encheu. Alguns entenderam que o problema estava superado.
Chegou 2024, e novamente veio a vazante do rio, forte e com clara indicação de que teríamos nova seca extrema. O Governo Federal, então, decidiu contratar dragagem por um período de cinco anos, o que poderia ter sido uma solução importante, mas a demora na contratação e no início do serviço, com o adequado planejamento, fez com que seu resultado, mais uma vez, fosse infrutífero.
O setor privado, prevendo a situação crítica, atuou como pôde, seja pela antecipação do envio da produção, pela instalação de um píer flutuante, pelo aumento da oferta de espaço nos navios, entre outras ações. Infelizmente, os custos das operações aumentaram e, mais uma vez, a sociedade pagou por isso.
Estamos em 2025, com a dragagem de cinco anos contratada, sendo que um ano já passou. Na região, vemos notícias de alagamentos todos os dias. Será que este ano não será mais um de seca severa? O que dizem os estudiosos?
No mundo da logística, só existe uma solução para a imprevisibilidade: planejamento. Ao que tudo indica, este ano não deveríamos nos preocupar, pois o serviço de dragagem está contratado.
Mas não podemos descansar. Algumas perguntas precisam ser respondidas o quanto antes: quando será feita a batimetria para identificar os pontos críticos e verificar se são os mesmos de 2024? Quando teremos o plano de dragagem conhecido, baseado nas últimas batimetrias? Quando teremos o equipamento selecionado e na área para início do trabalho? Quando teremos a batimetria pós-dragagem?
Perguntas corriqueiras em um ambiente de navegação, mas que, se não forem respondidas no momento adequado, representarão, mais uma vez, a perda da oportunidade de mitigar um problema tão relevante — ficando, novamente, à mercê de que a iniciativa privada adote medidas paliativas, mas com custo para a sociedade.
Não é o que desejamos!
Luis Fernando Resano é Diretor Executivo da ABAC (Associação Brasileira dos Armadores de Cabotagem).