A descarbonização das indústrias e da cadeia logística está em voga em todos os fóruns de discussão em virtude da necessidade urgente de mitigar o impacto que essas atividades geram ao meio ambiente.
Considerando essa necessidade, 196 países assinaram o Acordo de Paris, se comprometendo com ações e metas para redução das emissões de gases do efeito estufa.
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A Organização Marítima Internacional (IMO), responsável pela regulamentação do transporte marítimo internacional, definiu o ano de 2050 para zerar as emissões dos navios e estipulou metas graduais de redução de emissão dos gases de efeito estufa no transporte marítimo.
Isso mostra o engajamento da cadeia logística portuária na descarbonização de suas operações e passa a abrir um caminho de novas oportunidades de negócios ligados ao desenvolvimento de transporte sustentáveis.
A descarbonização da cadeia logística possui diversos atores envolvidos, que devem atuar em conjunto, podendo inclusive, atuar para a criação de corredores verdes, gerando um ganho competitivo de mercado para todos os elos dessa cadeia logística.
A criação de um corredor verde de exportação ou importação depende de todos esses integrantes da cadeia estarem desenvolvendo mecanismos para descarbonizar suas operações, garantindo assim a preocupação com o atingimento de metas para um transporte mais sustentável. Certamente as empresas integrantes desses corredores terão uma grande visibilidade no mercado, agregando valor às suas operações.
A figura abaixo ilustra um fluxo logístico resumido, dando ênfase na parte portuária.
A figura abaixo exemplo de algumas ações que podem ser desenvolvidas pelos diversos atores que compõem essa cadeia logística.
Além dos aspectos já apresentados acima, os portos também podem contribuir com a disponibilidade de canais de acesso e berços com profundidades adequadas para receberem navios maiores, tornando as operações mais eficientes e proporcionando a descarbonização mediante o ganho operacional.
Alguns portos podem se destacar através de parcerias com empresas atuantes na cadeia e estimular a criação dos corredores verdes. Como já abordado, essa parceria pode gerar um significativo ganho de competitividade, gerando diferenciais para os clientes que valorizam ações sustentáveis e que precisam descarbonizar também suas cadeias produtivas. A partir dessa discussão, o mercado de crédito de carbono ganha relevância tanto para as empresas que estão implantando ações de descarbonização quanto para empresas que precisam cumprir metas. Há uma grande expectativa de desenvolvimento desse mercado nos próximos anos no Brasil.
Nesse cenário, os Portos do Rio de Janeiro e de Itaguaí podem se destacar pelas suas características.
O Porto do Rio de Janeiro conta com seus dois terminais de contêiner com equipamentos eletrificados e passa por dragagens que proporcionarão a atracação dos maiores navios que operam no país. Além disso, estão sendo conduzidas ações para fornecimento de energia de solo, o shore power que irá permitir que as embarcações não fiquem emitindo gases poluentes através da queima de diesel fóssil enquanto estão atracadas no porto.
O Porto de Itaguaí, por sua vez, conta com mais de dois milhões de metros quadrados disponíveis para implantação de terminais e indústrias e está localizado próximo ao Distrito Industrial de Santa Cruz. Esse é o maior distrito industrial do estado do Rio de Janeiro e conta com grandes indústrias instaladas.
Através do programa de simbiose industrial, implantado no distrito, as empresas conseguem atuar em estreita colaboração, gerando novos negócios e reduzindo seus custos através de parcerias. Nesse cenário, o Porto de Itaguaí se desponta também como uma ótima opção para a implantação de novos negócios que possuam sinergia com as empresas do entorno, assim como para a exportação de excedentes de produção.
O projeto que está em andamento no Porto de Itaguaí prevê a implantação de uma planta piloto de hidrogênio de baixo carbono e a produção de combustíveis sustentáveis. A parceria com as indústrias do entorno se torna fundamental para fomentar o consumo desses produtos para que o projeto possa ganhar tração e proporcionar ganho de escala, contribuindo com a viabilidade financeira do projeto.
Esse projeto está em total consonância com a nova legislação sobre combustíveis sustentáveis e com a Lei nº 15.103, sancionada em 22 de janeiro de 2025, que instituiu o Programa de Aceleração da Transição Energética (Paten) no Brasil.
Uma das possibilidades que será estudada é a utilização do HVO (Hydrotreated Vegetable Oil), que é um diesel verde e pode substituir o diesel fóssil sem necessidade de adaptação dos motores. Essa pode ser uma opção, inclusive, para abastecer os motores a diesel dos geradores das embarcações, não necessitando de complexas estruturas para fornecimento de energia de solo nos terminais portuários. Os estudos que estão em andamento é que mostrarão se esse caminho é técnica e economicamente viável.
Dessa forma, entendo que o consumo no mercado interno através da parceria com as indústrias do entorno e eventuais consumidores de combustíveis sustentáveis para embarcações poderão fornecer a viabilidade inicial do projeto, para que plantas maiores possam ser implantadas e viabilizar novas demandas no futuro.
O estado do Rio de Janeiro, através de seus portos, tem um grande potencial para se destacar na transição energética, descarbonizando as indústrias e as operações logísticas. Há um grande potencial para ser explorado, como novas indústrias, mercado de crédito de carbono e soluções logísticas sustentáveis.
Vamos continuar prospectando e integrando empresas e entes públicos para viabilizarmos esse novo momento da nossa economia!
Eduardo Miguez é gerente de Desenvolvimento de Negócios da Portos Rio Autoridade Portuária