A administração pública, por não ter a agilidade e flexibilidade que as empresas privadas têm, precisam adaptar seus planos para que eles possam ter essa agilidade requerida. Mas, em minha opinião, isso não é motivo para que os gestores públicos fiquem acomodados com as limitações impostas por exigências legais. Por incrível que pareça, o gestor público precisa ser muito mais criativo e habilidoso para poder atingir os resultados eficientes exigidos das empresas. Quando falo em gestor público, me refiro à todos com cargos de gestão na organização. Um exemplo é o Plano de Desenvolvimento e Zoneamento Portuário (PDZ) que as Autoridades Portuárias elaboram, mas que precisam ser aprovados pela Secretaria Nacional de Portos e Transportes Aquaviários (SNPTA).
Um plano precisa ser consistente, apresentar objetivos e apontar o caminho para se atingir o que foi proposto. Mas principalmente, um plano precisa ser flexível para proporcionar mudanças de rota para atingimento do objetivo. Pensando nisso, quando da elaboração dos PDZ dos quatro portos que elaboramos, propusemos a utilização de uma nomenclatura que não era utilizada nesses portos até então: Terminal Multiuso. Inicialmente, enfrentamos resistência, pois ouvimos muitos argumentarem: “vocês não estão planejando...”.
Mas é aí que entra a diferença entre os planos das empresas privadas e o nosso. No nosso caso, esse era exatamente o plano: dar a possibilidade de ouvir o mercado e dar liberdade para nossa área Comercial trabalhar de forma pró-ativa. Nós tínhamos milhões de metros quadrados disponíveis em nossos portos. Os PDZ anteriores decretavam uma utilização para cada área. O que observávamos era que na prática, ou as áreas não eram utilizadas ou a utilização divergia do previsto.
Chegamos à conclusão que precisávamos ouvir o mercado para saber quais necessidades poderíamos atender e adaptar nossas áreas. Dessa forma, garantiríamos flexibilidade e liberdade para a área Comercial da Companhia prospectar cargas que o mercado demandasse. As necessidades do mercado mudam e surgem oportunidades de negócio que não estavam previstas e, se não estivermos preparados para sermos flexíveis, seremos engolidos pela concorrência, podendo prejudicar também, cadeias logísticas de comércio exterior que dependem de nossos portos. Isso ocorre, pois como mencionei, não é a própria autoridade portuária quem altera seu PDZ. Na verdade, ela altera, mas quem aprova essa alteração é a SNPTA, o que nos tira a autonomia para termos a agilidade necessária.
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O planejamento comercial deve considerar ainda pesquisa de mercado e pesquisa de satisfação de usuários para direcionar seus esforços na elaboração das ações prioritárias.
Estamos vendo na prática essa situação. Abrimos vários editais de chamamento público, visando identificar interessados em nossas áreas, seja em projetos que já mapeamos ou em novas oportunidades de negócio ainda não mapeadas. O resultado está sendo bastante animador. Mesmo com essa crise terrível causada pela pandemia do Covid-19, estamos recebendo bastante manifestação de interessados. Nós analisamos as propostas levando em conta a viabilidade dos projetos e a compatibilização com as características das áreas e demais operações do porto.
Após essa etapa, estaremos aptos a enviar à Secretaria Nacional de Portos e Transportes Aquaviários os projetos com os devidos estudos de viabilidade técnica, econômica e ambiental (EVTEA) junto com as manifestações de interesse. Somado à isso, enviaremos nossa análise de quais projetos tem maior apelo do mercado, maior volume de investimento previsto e maior retorno financeiro à Autoridade Portuária, solicitando, dessa forma, a priorização dos projetos para arrendamento.
Dessa forma, entendo que estamos contribuindo ao máximo para fomentar os investimentos privados em nossas áreas, contribuindo com a SNPTA, gerando retorno econômico, financeiro e social para a Companhia e também para Estado e Município onde estamos situados, além é claro, de gerar valor para uma cadeia inteira de comércio exterior.
Eduardo Correia Miguez é gerente de desenvolvimento de negócios e especialista portuário na Companhia Docas do Rio de Janeiro (CDRJ).