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Lições do desmonte da indústria naval - por Ricardo Ávila

Há dez anos, o Brasil vivia o auge de sua indústria naval, gerando milhares de empregos em diversas regiões, como a metade Sul do Rio Grande do Sul. O polo gaúcho trouxe trabalho e esperança de dias melhores. Naquele 2011, o Estaleiro Rio Grande era contratado para projetar, construir e comissionar oito cascos de plataformas flutuantes de produção, estocagem e expedição (FPSOs) para os campos do pré-sal.

Até 2016, três cascos foram entregues, um foi inteiramente fabricado (P-71) e outros dois mais se juntariam a esses até 2019, vindos da China e com nosso projeto e gerenciamento. No entanto, o país viu a implosão de sua indústria naval, com o cancelamento unilateral de contratos e falta de apoio da maior contratante, que preferiu enviar à Ásia grande parte do escopo remanescente e de novas encomendas, gerando lá os empregos que deveriam ser dos brasileiros.

Os números mostram, no entanto, não apenas a qualidade do trabalho feito em solo nacional, como também melhores resultados caso as decisões tivessem sido outras. Exemplo da P-66, que pouco mais de um ano após seu primeiro óleo excedeu a capacidade nominal de 150 mil barris diários de petróleo, chegando a 186,2 mil em setembro de 2018. Mesma situação se deu com a P-69 que, em dezembro de 2020, alcançou uma produção de 190 mil barris diários. Um orgulho para todo o país e sua engenharia.

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Agora, vejamos a P-67: entre sua saída do Brasil rumo à China, enviada para integração e a geração do primeiro óleo, passaram-se 41 meses. Sendo conservador nos prazos e mesmo com os problemas enfrentados pelos estaleiros nacionais, é razoável dizer que a finalização do projeto duraria em torno de 24 meses. Assim, a manutenção do projeto no país teria rendido à Petrobras pelo menos um ano e meio de produção. Já a P-71, fabricada por nós e recontratada na China em 2018, poderia estar produzindo desde 2019, mas não entrou em operação até hoje e a estimativa é de que entre somente em 2023. Considerando uma média de US$ 68,26 por barril no mercado internacional, a plataforma poderia ter gerado mais de US$ 14 bilhões de receita à estatal.

Esses são apenas alguns resultados dos equívocos cometidos nos últimos anos. Os fatores econômicos, alardeados como único norteador na tomada de decisão pela própria Petrobras, mostram que o desmantelamento da indústria naval foi um erro crasso. Não somente a companhia poderia fortalecer sua produção, como isso beneficiaria todo o desenvolvimento econômico do país. Num canetaço, cinco mil empregos diretos e indiretos foram extintos em Rio Grande em dezembro de 2016, acabando com inúmeras cadeias produtivas.

O tempo é sempre o senhor da razão. No momento em que o Brasil vive a angústia do desemprego ainda crescente, é importante olhar para trás. Não com a nostalgia de tempos melhores, mas para evitar que erros de outrora sejam repetidos no presente e futuro, como foi feito com nossa indústria naval.

Ricardo Ávila é formado em Engenharia Mecânica pela Universidade Federal do Rio Grande (FURG), atua há mais de dez anos com gestão de processos e equipes na indústria naval. É diretor operacional da Ecovix, empresa responsável pelo Estaleiro Rio Grande



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