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Realidade x percepção

Por Leandro Barreto

Participei no último dia 5 de agosto em São Paulo da 19ª edição do Congresso  Brasileiro do Agronegócio promovido pela ABAG, em parceria com a  B3, e que reuniu centenas de produtores, empresários, executivos, técnicos, acadêmicos e entidades do setor, além muitas autoridades e um batalhão de repórteres.


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 Logo em seu discurso de abertura o presidente da ABAG, Marcello Brito, conclamou a comunidade Agro do país a combater fortemente o desmatamento ilegal no Brasil, afirmando que nenhum produtor seria a favor disso, momento em que foi ovacionado pela plateia.

Ao longo do dia, muitos dos respeitados panelistas do evento, mais do que corroborarem e ilustrarem o apelo do presidente da ABAG, demonstraram certo desconforto com a maneira “truculenta” como o governo está se comunicando tanto na liberação de agrotóxicos quanto na questão do desmatamento, o que estaria potencializando a desinformação e levando a um perigoso distanciamento entre a “percepção” e a “realidade” do agronegócio brasileiro mundo a fora, podendo provocar sérios danos à imagem dos nossos produtos agrícolas no exterior (esses panelistas também foram  bastante aplaudidos pela plateia ao mencionar as “falhas” de comunicação do governo).

Coincidência, ou não, em sua palestra para um auditório lotado de pessoas atentas a seus fones de tradução simultânea, o chairman do grupo Cofco, Jingtao Chi, projetou um crescimento médio anual de 5% nas suas importações de grãos do Brasil nos próximos cinco anos, mas alertou que, cada vez mais, aumenta a preocupação com a questão ambiental na China: “Vivemos uma transição na agricultura mundial para um modelo mais sustentável. A Cofco tem adotado ações para estimular e premiar produtores que preservam o meio ambiente”.

Ainda mais coincidência foi que o evento acontecia quase que no mesmo momento em que Pequim anunciava a suspenção de novas importações agrícolas americanas (o que já tornava totalmente defasada a projeção do Sr. Chi) e permitia a desvalorização de 10% de sua moeda, o yuan, como resposta ao súbito anúncio do Presidente Trump pelas redes sociais em 1º de Agosto de 2019 referente à nova alíquota de 10% sobre US$ 300bi em importações chinesas, o que levou a uma nova suspensão das negociações entre os dois países e sem perspectivas de quando possam ser retomadas.

Questionada pela Reuters sobre o assunto, a Ministra da Agricultura, sabiamente disse: "Eu digo que o Brasil, embora eu não seja ministra das Relações Exteriores, deve se manter fora dessa briga. Os EUA são um competidor na venda de produtos agrícolas à China. A China é um grande parceiro comercial. O Brasil possui produtos que podem ser vendidos a ambos os mercados", afirmou Tereza Cristina.

Se de uma lado o aumento das tensões entre os dois gigantes, a peste suína na Ásia e o acordo UE/Mercosul está animando setores do agronegócio brasileiro, principalmente, os grãos e as carnes (as exportações de carne bovina brasileira cresceram 20,1% em volume e 11,6% em receita no primeiro semestre de 2019), por outro lado nem o câmbio favorável às exportações brasileiras tem sido capaz de compensar a desaceleração da demanda em alguns dos nossos principais compradores: China, Europa e Oriente Médio, o que tem   impactado negativamente as vendas externas de tradicionais setores exportadores nacionais como: automóveis (queda de 38,4% em valor), madeira (volume/receita em queda desde Nov.18), celulose (queda de 35% no preço/ton), minério (queda de 20% no preço/ton) etc.

Uma importante economista com quem conversei dias atrás me confidenciou que, com as reformas até certo ponto bem encaminhadas no congresso, sua maior preocupação atualmente é com o cenário externo. A escalada do tom, das alíquotas, das retaliações e das trocas de acusações entre as duas maiores economias do mundo têm espalhado preocupação em todo o mundo de que essa Guerra Comercial se transforme numa Guerra Cambial entre países e possa culminar numa nova recessão global.

É fato na raiz de tudo isso está empobrecimento da classe média, catalisado pela globalização e pelas revoluções industriais, e a proliferação das redes socias por estarem tornando o mundo mais polarizado, passional, com informações cada vez mais perecíveis e levando a população de diversos países a “experimentar” novas formas de governo muitas vezes cercadas de populismo, fakenews, radicalismo, oportunismo e vaidades (a esperança reside no fato de que esses novos governos são altamente sensíveis a críticas e capazes de rever posições ou rapidamente mudar rumos mediante pressão popular, notadamente, via redes sociais).

Em outras palavras, alguns segmentos da economia americana podem até estar sendo levados à “percepção” de que uma Guerra Comercial com a China é o único caminho para melhorarem de vida, mas a “realidade” é que essa escalada da irracionalidade nas negociações está levando o mundo para uma nova crise que provavelmente também vai prejudicar esses americanos que hoje genuinamente acreditam e apoiam as ações do presidente americano.

De forma antagônica, nos dias de hoje, não basta o setor agrícola brasileiro de fato “ser” bom, eficiente, socio ambientalmente correto e capaz de se transformar no celeiro do mundo sem derrubar nenhuma árvore, ele precisa “parecer” tudo isso... 

IMPORTANTE: esse conceito de “Realidade X Percepção”, e seus efeitos nocivos para o Agronegócio brasileiro, foi trazido à tona durante o evento pelo ex-ministro, ex-deputado e Presidente do Instituto CNA, Roberto Brant.

Leandro BarretoLeandro Barreto é Sócio da Solve Shipping






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