O presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Luiz Aubert Neto, afirmou hoje que, embora a entidade tenha apurado em abril crescimento de 4,4% no número de empregos e de 1,7% no Nível de Utilização da Capacidade Instalada (Nuci), não há motivos para euforia, porque os dados se referem apenas a um turno de trabalho. Ou seja, há ainda dois turnos ociosos.
"Eu me sinto enganado quando vejo na imprensa gente defendendo o aumento de juros para conter a demanda, quando há um ano estávamos para quebrar. Tivemos de demitir mais de 50 mil funcionários e há empresas no setor que registraram queda de até 50% do faturamento", disse Aubert, para quem não faz sentido, neste momento, medidas para conter o crescimento.
De acordo com o presidente da Abimaq, o que deveria ter sido feito para reduzir o consumo de bens duráveis, como os da linha branca, seria encolher os prazos de financiamento, que em alguns casos chegam a 36 meses. Para Aubert, se for reduzido o prazo, os valores das prestações aumentam, a demanda cai e não há necessidade de aumentar juros, o que encarece o custo do setor produtivo.
Aubert saiu ainda em defesa do governo e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) - que, segundo ele, tem sido vítima de críticas por estar aumentando os gastos públicos ao conceder financiamentos para investimentos. "Esses financiamentos serão pagos e, não fosse o Programa de Sustentação do Investimento (PSI), do BNDES, estaríamos aqui chorando gotas de sangue", disse.
Lobby
Aubert afirmou que é necessário combater a inflação, mas ponderou que defender a elevação da Selic (a taxa básica de juros da economia) ao nível de 13% ao ano, como alguns analistas vêm fazendo, é expressão de um lobby do setor financeiro. Segundo ele, é preciso discutir quais são os interesses "desses soldados" do setor.
Para o presidente da Abimaq, não tem cabimento o Brasil estar entre as economias que têm as maiores taxas de juros do mundo e um índice de investimento - Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) - que não ultrapassa 19% do Produto Interno Bruto (PIB). Aubert afirmou que a cada 1 ponto porcentual de aumento da Selic é transferido do setor produtivo para o financeiro algo entre R$ 13 bilhões e 14 bilhões. "Ninguém é contra o câmbio flutuante, por exemplo, mas dá para falar em câmbio flutuante com a taxa de juros mais alta do mundo?", questionou.
Aubert acrescentou que há outras formas de combater a alta de preços, além do aumento de juros. Segundo ele, se uma siderúrgica quiser elevar o preço do aço, pode-se recorrer à importação para evitar o repasse do aumento ao restante da economia. De acordo com o presidente da Abimaq, o preço do aço brasileiro chega a ser 30% mais alto do que o alemão, por exemplo.
Quanto ao aumento do aço anunciado há alguns meses - em alguns casos de até 100% -, o repasse para o setor de máquinas e equipamentos, segundo Aubert, deverá ocorrer no prazo de um ou dois meses. O aumento só não foi repassado até agora porque o setor estava com estoques elevados na data do anúncio.
O presidente da Abimaq sugeriu que se faça uma reforma financeira no País, uma vez que o setor produtivo não tem como se sustentar com taxas de juros tão elevadas. Segundo ele, o Brasil é o único lugar do mundo onde se garante o rendimento da caderneta de poupança de 6% ao ano livre de impostos. "Temos de mexer nisso. Alguém tem de tomar coragem para mudar essa situação", disse.
Fonte: (Fonte: O Estado do Paraná)
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