Uma grande empresa de energia exportará em breve petróleo americano sem permissão explícita do governo, outro sinal de que o embargo federal de décadas à exportação de petróleo bruto está definhando.
O acordo da BHP Billiton para vender cerca de US$ 50 milhões em petróleo ultraleve do Texas para compradores estrangeiros sem aprovação formal do governo provavelmente é o primeiro de muitos à medida que as petrolíferas procuram novos mercados e preços mais altos para o maior volume de petróleo extraído nos Estados Unidos.
O governo federal está bastante dividido sobre a permissão das exportações americanas de petróleo, que estão restritas desde a década de 70. As grandes petrolíferas, incluindo a Exxon Mobil Corp., têm defendido o fim do embargo, alegando que as vendas externas podem criar empregos nos EUA e melhorar a balança comercial.
As exportações são uma pequena fração da produção dos EUA, que subiu para 9 milhões de barris diários
Mas os opositores dizem temer que as exportações possam elevar os preços da gasolina nos EUA, prejudicando consumidores e contrariando eleitores.
Políticos dos dois lados da questão não foram encontrados para comentar, mas a nova exportação pode aumentar a pressão sobre a administração Obama e o Congresso para que discutam a política de exportação em breve. Os produtores americanos de petróleo estão planejando fazer um forte lobby nos próximos meses, enquanto as refinarias e empresas químicas, que se beneficiam do abundante petróleo americano de baixo custo, devem se opor.
A BHP informou, na terça-feira, que assinou um acordo para vender 650 mil barris de petróleo sem refino. A grande trading suíça Vitol SA está comprando o petróleo ultraleve, conhecido como condensado, segundo uma pessoa a par do assunto.
Pessoas do setor afirmam que o Departamento de Comércio dos EUA, que supervisiona as exportações de petróleo, está incentivando as empresas a buscar exportações independentes sem a emissão de autorizações, um processo que está sendo chamado "autoclassificação". O departamento não respondeu aos pedidos de entrevistas. As autoridades do departamento têm afirmado que não houve mudanças nas políticas americanas de exportação de petróleo.
Por quase 40 anos, os Estados Unidos permitiram as exportações de combustível refinado, como gasolina e diesel, mas não exportações de petróleo, com raras exceções, que precisaram de autorizações especiais.
Como o "The Wall Street Journal" divulgou em junho, duas companhias do Texas receberam instruções confidenciais do departamento permitindo a exportação de um tipo de petróleo levemente processado, mesmo sem ter passado por uma refinaria. Especialistas do setor dizem que as instruções indicam o que as empresas precisam fazer para que o petróleo seja qualificado como um combustível que pode ser exportado. Pessoas do setor acreditam que outras empresas adotarão tais métodos.
É o que a BHP está fazendo, sem esperar pelas instruções do governo. "Levamos o tempo necessário para examinar as questões envolvidas e assegurar que o condensado processado é elegível para exportação", informou a empresa anglo-australiana.
Cerca de 1,6 milhão de barris de petróleo americano leve já foi exportado desde que o Departamento do Comércio emitiu as instruções. E há cargas extras planejadas até o fim do ano. As exportações são uma pequena fração da produção americana de petróleo, que aumentou para cerca de 9 milhões de barris diários, segundo a agência de informação de energia dos EUA. As importações são responsáveis pelo restante do consumo diário do país, de 20 milhões de barris.
Rusty Braziel, da consultoria RBN Energy LLC, diz que os preços fora dos EUA teriam que ser muito maiores que no país para justificar os custos do embarque. "Eu não tenho certeza se economicamente é vantajoso abrir os portões neste momento", diz ele.
Os preços globais do petróleo caíram fortemente desde o fim de junho com as empresas elevando a produção de petróleo, da Líbia até Dakota do Norte. Entretanto, a demanda mundial por combustíveis está fraca. Os preços menores de petróleo se traduzem em gasolina e diesel mais baratos, aliviando o bolso dos consumidores.
Mas as petrolíferas que fizeram investimentos significativos temem que os preços baixos do petróleo bruto irão forçá-las a parar de perfurar poços. Elas estão cada vez mais ansiosas para contornar o embargo das exportações de petróleo americano e ganhar acesso a novos mercados.
Refinarias e outros compradores de petróleo leve da Ásia estão interessados no petróleo condensado americano para que possam diversificar a origem do produto para além do Oriente Médio.
As empresas que receberam permissão especial do governo americano para exportar o petróleo minimamente processado foram a Enterprise Product Partners LP, operadora de dutos e de tanques de armazenagem de petróleo de Houston, e a Pioneer Natural Resources Co., petrolífera de Dallas. Elas despacharam a primeira carga de condensado ao exterior no fim de julho.
A BHP vendeu petróleo ultraleve de seus campos em Eagle Ford no sul do Texas para a Enterprise para aquela primeira carga e participou de algumas das exportações mais recentes da empresa, que deve totalizar 4 milhões de barris até o fim do ano.
No processo, a BHP aprendeu a processar ligeiramente o petróleo ultraleve, seguindo instruções do governo. (Colaborou Alison Sider.)
(Fonte: Valor Economico/Christian Berthelsen e Lynn Cook | The Wall Street Journal
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