A percepção do risco associado às ações da Petrobras melhorou nas últimas semanas, na esteira das expectativas de recuperação do preço do petróleo, da melhora na confiança dos investidores em relação ao país, e, principalmente, da apreciação do real ante o dólar, o que ajuda a reduzir o custo da elevada dívida da companhia - ainda o principal obstáculo.
Além disso, à medida que os prejuízos acumulados da área de abastecimento diminuem e o mercado passa a elevar as apostas em uma política "empresarial" para os combustíveis, a ação começou a seguir mais o movimento do petróleo. Se antes a defasagem - ou prêmio - era o principal item a se olhar para investir na estatal, hoje, como outras grandes produtoras mundiais, a cotação da matéria-prima faz muito mais diferença.
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Neste ano, até agora, a correlação linear entre o preço do segundo contrato do Brent na ICE Futures e o do papel preferencial da Petrobras, o mais negociado, encontra-se positiva em 87,2%. É quase o mesmo percentual de 2015, que havia sido o maior desta década. Se for considerado o câmbio, porém, o valor cai para 75,2%, mas fica bem acima do segundo maior desde 2011 - 48%, no ano passado.
Isso significa que atualmente quando o petróleo registra valorização é muito mais provável que a ação PN da estatal brasileira siga o mesmo caminho. Em reais, essa conta fica um pouco menor porque o fator cambial já inclui no cálculo uma espécie de balanço entre ganhos e perdas com a venda do petróleo bruto e com a importação dos derivados.
Para se ter uma base de comparação, a americana Chevron, também grande produtora de petróleo, tem correlação histórica de 84,8% na década entre as ações na Nyse e WTI em dólares, ou de 93% em 12 meses. O índice da estatal brasileira com o Brent em reais chegou a ser negativo em 24% - ou seja, quando o barril se valorizava, o papel caía.
Bancos como Morgan Stanley, Goldman Sachs e Itaú BBA melhoraram as projeções para a empresa recentemente. Em um mês, já elevaram preço-alvo para os papéis UBS e Bank of America Merril Lynch (BofA). As ações ordinárias acumulam ganhos acima de 50% no ano e as preferenciais, de mais que 60%, depois de atingirem as mínimas em quase 13 anos entre janeiro e fevereiro, quando o Brent ficou abaixo de US$ 30 o barril.
Desde então, os preços do petróleo se recuperaram e voltaram ao nível de US$ 50. Analistas acreditam que o Brent fechará 2016 entre US$ 45 e US$ 50. No ano que vem, tanto bancos como a própria Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) veem déficit no mercado de petróleo, o que pode levar os preços a US$ 55. Ao mesmo tempo, o dólar saiu de R$ 4,30 para R$ 3,25, o que ajuda a reduzir a dívida em reais da estatal.
A questão do acesso ao crédito ajudou a remover preocupações de analistas sobre a companhia. Havia dúvidas sobre o acesso da estatal ao mercado até que, em maio, foram captados US$ 6,75 bilhões com títulos de dívida no exterior e recompra de papéis no mercado. Depois, a estatal emitiu mais US$ 3 bilhões, pagando taxas menores que na operação anterior.
Segundo o Goldman Sachs, com o dólar a R$ 3,25, o custo da rolagem da dívida fica menor, o que ajuda a reduzir o endividamento, um dos maiores do mundo. O maior desafio para a estatal segue sendo a redução da alavancagem, ao mesmo tempo em que tem de manter investimentos necessários para elevar a produção.
O banco elevou o preço-alvo das ações preferenciais da Petrobras de R$ 6,50 para R$ 8,20. A recomendação, no entanto, permaneceu de venda, pois os analistas avaliam que a companhia ainda precisa resolver a questão do déficit de financiamentos de R$ 310 bilhões a R$ 330 bilhões até 2020, de acordo com os cálculos do banco.
O Morgan Stanley elevou a recomendação dos recibos de ações (ADRs) ordinários da Petrobras, de neutra para compra, subindo também o preço-alvo de US$ 6 para US$ 9,50. Entre os fatores para a avaliação, o banco citou os preços do petróleo, que, segundo os seus cálculos, permite uma "melhora na geração de fluxo de caixa e na gestão de dívidas, removendo preocupações com a liquidez".
Porém, há analistas com visão menos otimista. O Barclays cortou a recomendação dos ADRs ordinários da empresa de neutra para venda, citando riscos políticos e a deterioração econômica do Brasil. O BofA, embora tenha elevado o preço-alvo da PN de R$ 15,70 para R$ 17,50, cortou projeções de resultado neste ano e no próximo. Além disso, principalmente por conta das investigações e da ação coletiva nos Estados Unidos, notou que ainda há muitos riscos e manteve a recomendação neutra.
Para Luana Siegfried, da Raymond James, a situação da Petrobras não justifica ainda uma alteração na sua recomendação, que é de venda. Para melhorar, diz ela, só com a venda de ativos. "A Petrobras segue a mais endividada do setor no mundo", disse ao Valor. "Nossa opinião é que não houve melhora, a produção segue em linha e a dívida continua alta", acrescentou.
Embora os riscos persistam, há uma combinação de fatores que deve permitir a melhora sustentável da estatal, aponta o Itaú BBA. O banco elevou a recomendação da PN de neutra para compra, com o preço-alvo indo de R$ 9 para R$ 14.
A apreciação do real, novamente, foi destacada como determinante para que a estatal melhore o perfil de geração de caixa. "Acreditamos que a nova administração (com novas diretrizes), a entrega de reduções de custos, o programa de venda de ativos e o melhor ambiente para administração da dívida serão os pilares para uma melhora sustentável", disse o banco.
O J.P. Morgan também vê a melhora do perfil de risco da companhia, como maior acesso ao mercado de dívida e a expectativa de que o programa de venda de ativos ganhe força a partir de agora. Ainda assim, o banco manteve a recomendação neutra, levando em conta a dívida muito elevada da empresa e a sua dependência de uma combinação perfeita do câmbio com preço do barril do óleo tipo Brent.
Fonte: Valor Economico/*Renato Rostás e Camila Maia | De São Paulo