Especialistas do setor de petróleo são unânimes em prever cenário de "grande volatilidade" nos preços do produto neste ano. Eles evitam fazer estimativas sobre valor médio do óleo em 2019, e preferem trabalhar com projeções de intervalos de variações entre US$ 50 e US$ 70 o barril. O professor Edmar de Almeida, do Grupo de Economia da Energia (GEE), do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), lembra que "os preços caíram muito rapidamente no fim do ano passado e estão subindo neste início de ano; aumentaram 20% em janeiro, atingindo cerca de U$ 50 o barril".
Por trás de tanta incerteza está o planeta conturbado: "São muitas as zonas de conflito que contribuem para a instabilidade dos preços", diz o professor Istvan Kasznar, da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas, da Fundação Getulio Vargas (Ebape/FGV). Ele cita a tensão comercial entre Estados Unidos e China, sanções econômicas ao Irã, a crise migratória na Europa, a insegurança da Grã-Bretanha com o Brexit, a pressão sobre a Venezuela.
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"Somam-se a isso projeções de menores taxas de crescimento dos grandes players da economia mundial, o que deprime a demanda de petróleo e não permite vislumbrar altas significativas nos preços do produto", diz o professor da FGV. Previsões do Banco Mundial (Bird) apontam para crescimento global de 2,9% em 2019 - abaixo das projeções anteriores - e para 2,8% em 2020-21. Também o Fundo Monetário Internacional (FMI) reviu para baixo suas previsões de expansão da economia mundial.
Do lado da oferta, o quadro é igualmente nebuloso. "Há dúvidas sobre o comportamento da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep). Se ela e países aliados, liderados pela Rússia, terão capacidade para cumprir o acordo de redução de produção, firmado no fim do ano passado", observa Almeida, da UFRJ, Ainda assim, e apesar da gangorra do mercado, ele acredita ser possível preços mais altos, ao longo do ano, em média, que o atual patamar.
O professor Kasznar, da FGV, divide a trajetória dos preços internacionais do petróleo em quatro principais "macro fases".
As décadas de 1950 e 1960, marcadas pela disputa pelo controle do Canal de Suez, principal escoadouro de petróleo dos países árabes para a Europa; e pela da Guerra Fria, entre Estados Unidos e antiga União Soviética.
Depois, os choques do petróleo, em 1973 e 1979, quando as cotações pulam de patamares, atingindo até US$ 106 (a preços de 2017).
O terceiro ciclo, segundo o professor, vai de 1979 a 1999, "período de grandes desajustes de preços, que levam a novo choque do petróleo, em 2008". Anos depois, em 2011, o preço chega ao pico de US$ 121, refletindo incertezas diante do conflito da Primavera Árabe, onda de revoltas e revoluções populares contra governos do mundo árabe.
Posteriormente, as cotações cederam para US$ 54, em 2015, 2017. "Agora, entramos na era da busca por energias limpas. Nessa quarta fase, ainda vemos preços elevados do petróleo, acima de patamares históricos", observa Kasznar.
Fonte: Valor