O diretor-geral da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), Décio Oddone, disse que o Brasil precisa desconstruir alguns mitos sobre a exploração e produção de gás não convencional. Segundo ele, os reais riscos associados ao uso da técnica de faturamento hidráulico, que é alvo de muitas contestações por parte de ambientalistas, precisam ser melhor debatidos.
“Essa prática (exploração não convencional) já foi feita 700 mil vezes nos Estados Unidos. Será que não há maneiras de mitigarmos os riscos? Recuso-me a acreditar nisso”, disse Oddone. “É claro que existe forma de fazer [a perfuração] de modo responsável e sério”, complementou.
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Ele destacou que o arcabouço regulatório está pronto e que, enquanto o Brasil abre mão da geração de renda proporcionada pela exploração não convencional, o país corre o risco de se consolidar como consumidor do gás de xisto (shale gas) americano.
“As distribuidoras de gás do Nordeste estão fazendo chamada pública para comprar gás e a Bahiagás está pedindo oferta inclusive de GNL (gás natural liquefeito) importado. Isso significa que a sociedade brasileira não permite que se explore shale na Bahia, mas que o Estado pode importar gás do shale dos EUA, gerando renda, royalties nos Estados Unidos”, afirmou Oddone, em referência a uma série de liminares que impede hoje a exploração não convencional no Brasil.
Durante o governo Michel Temer, o Ministério de Minas e Energia chegou a manifestar a intenção de promover um projeto-piloto de exploração não convencional na Bacia do Recôncavo, na Bahia, para monitorar os riscos associados à atividade. Oddone se disse um entusiasta da iniciativa, mas que ainda não conversou com o novo governo para debater a continuidade do projeto.
Oddone ponderou, contudo, que o sucesso dos EUA na exploração não convencional é difícil de se repetir. O diretor-geral da ANP citou que, para além do potencial geológico americano, o mercado americano é beneficiado por questões relacionadas à facilidade de obtenção de financiamento da atividade nos Estados Unidos, a juros baixos, infraestrutura de gasodutos já existente e peculiaridades fundiárias – nos EUA, o dono da terra é proprietário do subsolo também e se torna, muitas vezes, sócio do negócio, o que reduz a resistência dos proprietários de terra em relação à exploração do shale.
Para além da mistificação da exploração não convencional, Oddone disse que o Brasil precisa desconstruir uma série de outros mitos associados à indústria petrolífera.
“Os mitos no Brasil que devem ser desmistificados são inumeráveis. O primeiro mito é que o monopólio é bom, que nossas reservas de petróleo podem ficar eternamente à espreita da Petrobras para fazer exploração ao seu ritmo, ao seu bel prazer e seu critério. Não temos tempo para isso”, afirmou Oddone, durante participação no evento de lançamento do caderno “O Shale gas à espreita no Brasil: desmistificando a exploração dos recursos de baixa permeabilidade”, da FGV Energia, no Rio.
Fonte: Valor