O sistema Banco Mundial/Fundo Monetário Internacional (FMI) foi criado em 1945, para reerguer as economias abaladas pela guerra. O lado positivo disso é que conta com apoio dos gigantes da época, que ainda são os líderes de hoje, exceto pela ascendência de China e Japão e pelo revigoramento da Alemanha. O lado negativo é que, como tudo mais, está sob o comando dos países ricos, como a Inglaterra, primeiro país industrializado do mundo e seu sucessor, os Estados Unidos. Nada se faz no sistema financeiro – nem na ONU – sem o apoio dos grandes.
Os integrantes dos Brics – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – se insurgiram, com razão, contra esse Clube do Bolinha e propuseram uma alternativa ao Banco Mundial e ainda a criação de uma agência de classificação de riscos própria. Muito importante seria o Banco dos Brics. No entanto, talvez por sorte dos oligarcas de sempre, a crise se abateu com intensidade sobre Brasil e Rússia. A Índia está mais ou menos e a África do Sul sempre foi fraca. A China continua a crescer e, embora repleta de dólares, talvez não queira colocar todos os seus ovos na cesta do Banco dos Brics.
Dados revelados pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) apontam que, em sete anos, o novo banco deverá contar com US$ 10 bilhões. O valor, para cobrir cinco países, é insignificante. Só a Petrobras pretendia, antes da crise, investir US$ 220 bilhões de 2014 a 2018. Esse banco só seria representativo se, desde o início, contasse com recursos ponderáveis, para servir de real contraponto ao Banco Mundial.
A agência de classificação de risco própria é outro sonho bom, mas distante. O embaixador brasileiro na Rússia, José Vallim Guerreiro, declarou que o grupo dos Brics discutirá, em março a criação de uma agência de classificação de risco própria, para servir de alternativa às “três grandes do Ocidente” (Standard & Poor’s, Moody’s e Fitch), que dominam o mercado de rating. Afirmou à agência russa RIA que um grupo de contato sobre assuntos econômicos e comerciais está trabalhando em nível de especialização.
O embaixador lembrou, com propriedade que, na crise de 2008, as agências de risco foram acusadas de terem supostamente manipulado dados para esconder o estado real dos investimentos frágeis originados nas potências ocidentais. Acentuou o embaixador: “Os emergentes sentem necessidade de um banco e de uma agência de classificação de risco, para não ficar nas mãos dos ricos. Mas essas tarefas não são fáceis de serem levadas a cabo. Um banco exige, além de capital, capacitação técnica”. Quanto à agência, o capital exigido é bem menor, mas o mercado impõe uma qualidade muito elevada, sem a qual a agência será vista como órgão meramente político. O banco e a agência são duas boas idéias, mas só deveriam ser levados à frente em bases sólidas. Um banco com baixo capital e uma agência que fosse boazinha com países amigos trariam mais perdas do que ganhos ao Brasil e a todos os Brics.
Fonte: Monitor Mercantil/Sergio Barreto Motta
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