Os bancos ajustam suas operações para atender à profusão de investimentos em obras de infraestrutura a serem realizadas no país, especialmente no setor de energia, incluindo petróleo e gás, que prometem movimentar centenas de bilhões de reais nos próximos anos. O Banco do Brasil (BB) acaba de criar uma área específica para a avaliação desses megaprojetos. Já o Santander aproveitou o processo de fusão com o ABN Amro no último ano e meio para se antecipar à demanda adicional, reforçando sua equipe de "project finance" (financiamento de projetos).
"O país passou muito tempo sem investir em empreendimentos de grande porte", observa Walter Malieni Júnior, diretor de crédito do BB. A área de atacado do banco ganhou uma divisão dedicada à análise de projetos de energia, composta por dez analistas "selecionados entre as melhores cabeças da instituição", como faz questão de dizer o executivo. Estão sendo avaliados por essa equipe, no momento, cerca de 20 projetos.
Somente o da usina hidrelétrica de Belo Monte, cujo custo orçado pelo governo gira em torno de R$ 20 bilhões, requer atenção exclusiva. Foi destacada no BB, há um ano, uma pessoa para estudar o projeto. "É preciso analisar todos os detalhes que envolvem a operação. Será construída uma fábrica de cimento próxima às obras ou o material vai ser transportado? Quantas turbinas serão necessárias? Onde os trabalhadores ficarão alojados?", enumera Malieni Júnior. Não foi decidida ainda qual deve ser o papel do banco em Belo Monte, pois os executivos aguardavam as definições sobre a formalização da Sociedade de Propósito Específico (SPE) responsável pela usina, que saíram ontem.
Dentre as construções em andamento, a obra da usina de Jirau, no Rio Madeira, em Rondônia, receberá do BB R$ 1bilhão, a maior fatia dos R$ 3,58 bilhões que serão repassados pelos cinco agentes financeiros credenciados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O desenho de "project finance" oferece como garantias os recebíveis que serão originados pela usina durante a operação e o penhor de suas ações. Para a hidrelétrica de Santo Antônio, também no Rio Madeira, serão liberados pelo BB outros R$ 600 milhões de repasse do BNDES.
Tanto o BB como os demais bancos estão de olho na demanda a ser criada pelas obras relacionadas ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que exigirão investimentos de R$ 465,5 bilhões entre 2011 e 2014 na área de energia. A partir de 2014, a previsão é que sejam consumidos mais R$ 627,1 bilhões. São projetos de longo prazo, que requerem financiamentos superiores a dez anos. Pelo menos metade desse dinheiro virá do BNDES. "Em alguns casos, serão feitos empréstimos-ponte até que o recurso de longo prazo saia", afirma João Carlos Zani, diretor do Bradesco Banco de Investimento (BBI).
O objetivo dos bancos é participar não só dos consórcios de financiamento como também disputar a liderança das assessorias, responsáveis pela estruturação dos modelos de captação. "Assessoria e crédito andam juntos", diz Zani, que orientou sua equipe no BBI a não deixar escapar qualquer projeto do radar. "O levantamento deve abranger, inclusive, a cadeia de fornecedores", acrescenta ele. O BBI acabou de ser contratado para estruturar o financiamento de cinco projetos, entre linhas de transmissão de energia e portos. Fazem parte do portfólio atual outros três mandatos de hidrelétricas. "Estamos também recebendo muitas cotações para pequenas centrais hidrelétricas [PCHs]."
Para fazer frente ao aumento da demanda por investimentos em infraestrutura, o Santander aproveitou a fusão com o ABN Amro e dobrou sua equipe de "project finance". "Não houve ganho de sinergia na área, aproveitamos tudo", conta Eduardo Müller Borges, diretor de mercado de crédito do banco. Hoje, metade dos 18 analistas de "project finance" do banco de capital espanhol está focada na cobertura do setor de energia.
O crescimento do número de mandatos no Santander está sendo puxado pelos projetos ligados a petróleo e gás, a exemplo das licitações da Petrobras para a construção de plataformas de perfuração e sondas para a camada pré-sal. "Se há pouco tempo eles representavam 15%, hoje já respondem por um terço do total", afirma Borges.
Mas, de seis meses para cá, o executivo do Santander tem percebido uma mudança sutil no perfil da demanda, que passou a incluir projetos de energias alternativas, principalmente eólica. Está marcado para agosto o segundo leilão de fontes alternativas de energia. A expectativa é que sejam contratados 3 mil megawatts (MW), ante 1,83 mil MW em dezembro de 2009.
Fonte:Valor Econômico/Aline Lima, de São Paulo
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