MUNIQUE - O elevado endividamento da Petrobras e de outras companhias de petróleo entrou no radar do Banco Internacional de Compensações (BIS), espécie de banco dos bancos centrais, pelo impacto que pode ter sobre o sistema financeiro e a economia como um todo.
Em nível global, a dívida do setor cresceu duas vezes e meia desde 2006 e alcançou US$ 2,5 trilhões em dezembro de 2014, grande parte dela acumulada por grandes companhias de petróleo estatais de economias emergentes.
O BIS exemplifica que o estoque de captações de crédito (junto aos bancos e por emissão de títulos de dívida) das companhias brasileiras de petróleo aumentou 25% ao ano, entre 2006 e 2014; das chinesas subiu 31% e, das russas, 13%. A expansão anual foi de 17% no caso de empresas de outros emergentes.
Por sua vez, o Royal Bank of Canadá (RBC) nota que a Petrobras é a companhia com a maior presença na maioria dos índices de títulos corporativos de emergentes. E que, da dívida de curto prazo de US$ 112 bilhões do Brasil, US$ 54 bilhões são títulos da Petrobras.
“Como o mercado imobiliário mostrou durante a crise financeira, quando um setor da economia está fortemente endividado, a baixa do valor subjacente de seus ativos pode provocar perturbações no curto prazo, que amplificam todo choque inicial”, diz Hyun Song Shin, chefe de pesquisa do BIS e um dos autores do estudo ampliado que o banco publica em seu relatório trimestral sobre a atividade bancária global.
Conforme o BIS, o aumento do endividamento das petroleiras de emergentes contrasta com a divida estável de grandes empresas do setor nos Estados Unidos. Além disso, em vários casos, os empréstimos coincidiram com amplos pagamentos de dividendos aos governos, que controlam essas estatais de petróleo.
Para o banco, o elevado peso da dívida pode forçar as empresas a manter a produção, apesar da queda do preço, com objetivo de gerar fluxo de caixa necessário para o serviço da dívida e, assim, mais pressão de baixa é colocada na cotação do barril.
O estudo mostra que as atividades de “hedging” (proteção) são um sinal de oferta onde a baixa dos preços é associada a um aumento de vendas do petróleo no mercado futuro.
“A liquidez do mercado e a capacidade dos operadores de absorver as vendas determinam em qual medida o fato de vender em um mercado orientado para a baixa provoca uma amplificação do efeitos sobre os preços”, diz.
Nota que várias companhias já anunciaram redução de gastos de capital de 30% e mesmo de 50%. Ao mesmo tempo, a produção de petróleo se mantém em nível elevado, como é o caso nos EUA, onde muitos produtores de gás de xisto estão bastante endividados.
A recente queda no preço do petróleo representa um declínio significativo no valor dos ativos que garantem essa dívida. O BIS constata que bancos nos EUA já começaram a cortar linhas de crédito de curto prazo para companhias de petróleo de xisto, ou a exigir colaterais adicionais.
A situação também complica a avaliação de efeitos macroeconômicos da menor cotação do barril, por seu impacto sobre despesas de capital e orçamento de governos.
Persiste também o risco de investidores de renda fixa de longo prazo - como o apetite limitado para perdas - se juntar a uma onda de vendas de papéis das companhias.
O banco aponta também a potencial interação entre colapso do preço do petróleo e taxa de câmbio. Avalia que, se o dólar mais forte for acompanhado por aperto nas condições financeiras, as petroleiras dos países emergentes, que se endividaram muito, poderão ser particularmente afetadas.
(Fonte: Valor Econômico/Assis Moreira)
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