Será debatida na próxima semana uma proposta que poderá transformar o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) em sócio relevante da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) nos seus principais negócios.
Este é um dos desenhos em estudo para viabilizar a aquisição, por parte da CSN, dos ativos da alemã ThyssenKrupp no Brasil e nos Estados Unidos. Desde o ano passado, estuda-se um modelo que coloque o banco estatal como acionista da operação. Porém, mais recentemente, ganhou força a ideia de o BNDES tornar-se sócio de peso de todos os negócios do grupo controlado por Benjamin Steinbruch, apurou o Valor. O banco, conforme informações da empresa, é dono de apenas 1,9% do seu capital por meio de seu braço BNDESPar.
Se essa possibilidade for levada adiante, ainda terão de ser definidos o tamanho e o desenho da participação da instituição como acionista da companhia. A reunião da semana que vem, a ser realizada na sede do BNDES, no Rio, servirá justamente para discutir os caminhos possíveis para a atuação do banco.
O BNDES já não é mais um grande credor da CSN. De acordo com informações disponíveis no site do banco estatal, há pelo menos cinco anos não há registro de novos financiamentos da instituição à companhia.
A entrada direta da instituição como sócia da CSN, abarcando todos os negócios - aço, mineração, logística, cimento e energia - poderia ajudar a contornar os maiores entraves à compra dos negócios do grupo alemão.
Os ativos colocados à venda pela ThyssenKrupp - a Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA), no Rio, e uma laminadora no Estado americano do Alabama - não são baratos. A CSN, segundo informações reveladas na quarta-feira, fez uma proposta de US$ 3,8 bilhões para ficar com eles.
Se fechada por esse valor, a aquisição consumiria mais da metade dos R$ 15 bilhões que a siderúrgica tinha em caixa no fim de setembro. Ao mesmo tempo, absorver os ativos elevaria o grau de alavancagem da CSN, que encerrou o terceiro trimestre do ano passado com dívida líquida de R$ 15,6 bilhões.
Em relatório publicado no fim de novembro, o analista Felipe Reis, do Santander, considerava improvável a aquisição dessas companhias pela siderúrgica de Steinbruch. Em seus cálculos, o negócio elevaria de 3,8 vezes para 5,1 vezes a relação entre a dívida líquida e o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortizações (Ebitda) da CSN.
Um aumento de capital no grupo, com a entrada do BNDES, reduziria o peso das dívidas no balanço da empresa. Ao mesmo tempo, poderia contribuir para dissipar o temor de investidores de que a aquisição consumiria o caixa da CSN em um mau momento do setor.
Procurado, o BNDES informou que não comentaria o assunto. A
Ontem, as ações da CSN abriram o dia na Bovespa com forte queda diante das notícias - caíram até 4,9%, liderando as quedas do pregão. Fechou o dia como a segunda maior baixa do Ibovespa, com 3,7%, a R$ 11,98.
Pesava sobre os papéis a percepção dos investidores de que a companhia poderá entrar em uma guerra de propostas e pagar caro pelos ativos da ThyssenKrupp num momento de demanda fraca. "Investidores de curto prazo consideram o movimento negativo porque haverá um desembolso de caixa e provavelmente um aumento nos investimentos necessários", afirmou Marcelo Varejão, analista da Socopa, à Bloomberg News. "É um mau momento para o setor siderúrgico e parece mais adequado preservar caixa."
O "Wall Street Journal" noticiou ontem que além da oferta de US$ 3,8 bilhões da CSN pelos ativos, a Thyssen também recebeu propostas iguais de US$ 1,5 bilhão da ArcelorMittal e da Nucor pela usina do Alabama. O jornal atribuiu a informação a fontes familiarizadas com o negócio.
Um interlocutor ouvido pelo Valor confirmou as propostas, mas afirmou que elas são, por enquanto, indicativas. Ou seja, ainda poderão ser modificadas e não representam um compromisso definitivo dos interessados.
A CSA, localizada no Rio, entrou em operação em meados de 2010 e tem capacidade de produzir 5 milhões de toneladas de placas por ano. A laminadora americana, do mesmo ano, está apata a fazer 4,5 milhões de toneladas anuais de chapas, principalmente para o setor automotivo.
Fonte: Valor Econômico/Talita Moreira | De São Paulo
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