O presidente interino da BR Distribuidora, Marcelo Bragança, disse que não vê nenhuma mudança estrutural no mercado brasileiro de combustíveis. “O mercado tende a perseguir a paridade [de importação]. Não estamos vendo nenhuma mudança estrutural nesse sentido”, afirmou em teleconferência com analistas e investidores, ao ser questionado sobre as oportunidades de importação, num momento em que a Petrobras vem sendo acusada desde o início do ano por concorrentes de praticar preços abaixo do preço de paridade de importação (PPI).
Bragança destacou que a companhia tem acompanhado as discussões sobre preços no país e disse que a proposta discutida no governo para criação de um fundo de estabilização, para suavizar as volatilidades, “pode ser bem-vinda”. “Mas nossa visão, até mesmo pelo histórico do mercado, é que preços vão continuar buscando alinhamento com preços internacionais”, comentou.
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O executivo disse que o mercado brasileiro passou por momentos de “estresse” na capacidade de fornecimento para o mês de março, mas que não vê riscos de desabastecimento para o país.
“O mercado ficou mais estressado na capacidade de fornecimento, mas está buscando a atender [à demanda], apesar de algumas restrições em alguns polos de suprimento. Na BR, mesmo que com eventuais restrições pontuais, conseguirmos adquirir no mercado externo. O mês [de março] teve um ou outro pequeno ruído, mas não vejo risco de desabastecimento”, afirmou na teleconferência sobre os resultados de 2020.
A BR encerrou o primeiro bimestre de 2021 com vendas em alta, na comparação com igual período de 2020, no período pré-pandemia de covid-19, disse Bragança.
A expectativa, segundo ele, é que o primeiro trimestre seja positivo para a empresa, do ponto de vista das vendas. Questionado sobre a possibilidade de impactos de uma nova onda da pandemia de covid-19 nos negócios da BR, o executivo disse que é difícil fazer projeções neste momento, sobre as vendas da distribuidora para o ano.
“Mas a companhia, hoje, está mais resiliente para passar por crises”, afirmou.
Alavancagem, aquisições e dividendos
O diretor financeiro da BR Distribuidora, André Natal, disse que a companhia aumentou o teto da meta de alavancagem de olho em novas oportunidades de aquisições, mas que a ideia é balancear a estratégia de alocação de capital entre compras de ativos e, eventualmente, distribuições adicionais de dividendos.
“O espírito é que consigamos ter nessa banda, fazer uso dela para uma construção mais balanceada [de alocação de capital], considerando distribuições adicionais aos acionistas e oportunidades de aquisição”, afirmou durante a teleconferência. “Seria possível imaginarmos distribuições adicionais [caso não se materializem as aquisições], mas o que gostaríamos muito de fazer é ter um balanceamento de alocação, tanto em oportunidades orgânicas e inorgânicas e distribuições adicionais de dividendos sempre que isso fizer sentido”, completou.
A BR Distribuidora decidiu aumentar o limite de sua meta de alavancagem, medida pela relação entre dívida líquida versus Ebitda (Lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização) ajustado, para até 2,5 vezes.
Desde a privatização, a empresa vinha operando com um nível de alavancagem dentro da faixa de 1 vez a 1,5 vez. Segundo Natal, a revisão do teto é fruto da queda dos custos de captação, associada em parte à queda da taxa de juros e em parte à resiliência e melhorias nas margens que a empresa vem demonstrando ao mercado.
“A companhia atingiu uma margem de segurança mais confortável para fazer essa discussão para flexibilização e ampliação do teto da banda [de alavancagem]”, disse.
O diretor disse ainda que um eventual programa de recompra de ações da companhia “faz sentido”, embora não haja nada de concreto nos planos da empresa. Segundo o executivo, a revisão do teto da meta de alavancagem da BR “abre espaço para cogitarmos” a recompra.
“Não temos nenhuma decisão tomada para um programa aberto de buyback [recompra de ações], mas concordamos que a direção é boa e faz sentido em relação aos preços atuais [dos papéis da empresa]”, afirmou.
Um eventual programa de recompra será pensado, sempre, de forma a assegurar a segurança da operação para os investidores e afastar riscos, disse. O executivo citou que a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) veda operações do tipo em situações de oferta de ações projetada. Ele lembrou que a Petrobras tem planos de vender sua fatia remanescente de 37,5% na companhia. Embora a operação ainda não esteja aberta, a sinalização de ocorrência, segundo Natal, pode suscitar questionamentos a uma eventual recompra.
“O que a gente consegue garantir é a discussão [sobre a possibilidade de um programa de recompra de ações] e tomarmos todos os cuidados regulatórios e jurídicos, para fazermos no timing e de forma correta... Vamos sempre buscar fazer um movimento desse tipo de maneira segura”, afirmou.
Oportunidades
Natal disse que a companhia participa, neste momento, de “várias frentes” de oportunidades de aquisições, de olho na estratégia de reposicionamento da empresa frente à transição energética.
“Fomos muito ativos em 2020, mas continuamos muito ativos no M&A [fusões e aquisições]. Tem muita coisa acontecendo e estamos participando de muitas coisas paralelas”, afirmou.
Questionado se a BR está mais disposta a investir em aquisições de ativos grandes no mercado, Natal respondeu que a empresa “não tem preferência por tamanhos”. “Queremos que sejam negócios que acreditamos que tenham potencial de geração de valor, preços interessantes de entrada e onde tenhamos vantagens competitivas. Não temos uma preferência particular de tamanho. O portfólio que olhamos hoje tem da duas coisas [ativos menores e maiores]”, comentou.
Fonte: Valor