A queda do preço do minério de ferro no mercado internacional fará com que US$ 11,6 bilhões evaporem das exportações brasileiras este ano. Segundo estimativas da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), as vendas externas da commodity somarão US$ 30,2 bilhões em 2012, ante US$ 41,8 bilhões em 2011, uma redução de 28%. Ainda assim o minério deve se manter como principal item na pauta, posto que ocupa desde 2005. Em 2013, no entanto, o vice-presidente da AEB, José Augusto de Castro, avalia que ele pode perder o reinado para o complexo de soja (grão, farelo e óleo), caso a supersafra de soja que vem sendo esperada para o ano que vem se confirme.
A queda no preço do minério também deve afetar o resultado financeiro da Vale, que lidera a produção mundial do insumo. Analistas preveem que o caixa operacional da empresa despenque até 43% este ano, de US$ 35 bilhões em 2011 para US$ 19,7 bilhões em 2012. A projeção é de Felipe Reis, analista do Santander que assina relatório sobre a mineradora e que considera no seu cálculo o padrão contábil americano. O preço do minério é uma das principais razões para a esperada queda.
Em suas estimativas, a AEB considera o preço médio da commodity exportada pelo país de US$ 97 a tonelada em 2012, 23% abaixo do valor negociado no ano passado (US$ 126). Em volume, a associação prevê um ritmo de queda bem menor, de apenas 6%: cerca de 311 milhões de toneladas exportadas, ante 331 milhões de toneladas em 2011. A Vale é a maior exportadora do insumo, tendo respondido por 90% do minério exportado em 2011.
Dados preliminares para o mês de agosto divulgados ontem pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic) mostram queda de 38% em valor (de US$ 4,5 bilhões para US$ 2,7 bilhões) do minério exportado, na comparação com igual mês de 2011. Para Castro, a tendência é que nos próximos meses o efeito da queda de preço no mercado internacional seja sentida com mais força:
— A recente queda no preço do minério na China, que é o motor do mercado internacional dessa commodity, vai se refletir na balança comercial principalmente a partir de outubro, quando entram em vigor os novos contratos trimestrais da Vale.
PREÇO ABAIXO DE US$ 100
A China vem desacelerando seu ritmo de crescimento e, consequentemente, seu apetite pelo minério de ferro. No mercado spot (à vista) chinês, referência para negociações internacionais, a tonelada foi negociada abaixo de US$ 100 mês passado pela primeira vez em dois anos. O valor serve de base também para índices de preços usados pela Vale em seus contratos com clientes. A mineradora tem contratos mensais e trimestrais. Nesta última modalidade, o preço do minério se baseia na média da cotação dos três meses anteriores. Por isso, o ritmo de queda nas exportações brasileiras do minério tende a se acentuar a partir de agora.
Por seu peso nas exportações — cerca de 12% do total — a redução no preço do minério também puxará para baixo as vendas externas, embora em menor proporção. A estimativa da AEB é que as exportações globais somem US$ 237 bilhões em 2012, 7,4% abaixo dos US$ 256 bilhões registrados em 2011.
O desequilíbrio da balança comercial foi um dos fatores que contribuíram para o mau desempenho do Produto Interno Bruto (PIB, soma de bens e serviços produzidos no país) no segundo trimestre. As exportações retraíram 3,9% no período, ante os três primeiros meses do ano. Na mesma base de comparação, a economia cresceu modestos 0,4%.
— Os números mostram quão problemática é a dependência em relação às commodities, cujas cotações dependem de eventos que fogem a nosso controle — diz Castro.
Segundo ele, 70% da pauta de exportações brasileira estão atreladas a matérias-primas e derivados, como aço e suco de laranja. No ano que vem, a expectativa é que essa dependência se mantenha, embora seja esperada uma dança das cadeiras no ranking dos principais itens da pauta. O complexo de soja deve atingir a marca de US$ 30 bilhões em vendas externas, ficando pouco acima do minério.
Em 2011, a cotação do minério deu um salto: o preço médio da tonelada exportada pelo Brasil foi de US$ 126, valor 35% acima dos US$ 93 do ano anterior. O boom foi capitaneado pela demanda chinesa, que ainda mantinha crescimento econômico acelerado
Fonte: O Globo
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