As negociações entre Braskem e Petrobras para celebração de um novo contrato de fornecimento de nafta avançaram e as empresas estão em vias de assinar um acordo de longo prazo, conforme informou ontem o Valor PRO, serviço de informações em tempo real do Valor. Segundo fontes com conhecimento do assunto, os termos acertados, que serão anunciados em breve, são “positivos” e “equilibrados” para as duas partes, considerando-se o cenário atual. A estatal, segunda maior acionista da Braskem, é também sua principal fornecedora e a nafta ainda é a matéria-prima mais utilizada nas operações no Brasil.
O início das conversas em torno do novo contrato, que cobre mais de 10% de toda matéria-prima consumida pela Braskem, ainda em 2019, não foi amistoso, segundo apurou o Valor. Mas as negociações voltaram a fluir depois da troca de comando na Braskem, que ocorreu em novembro, após a Petrobras gazer pressão sobre a sócia Odebrecht pela mudança.
PUBLICIDADE
Ao mesmo tempo, a estatal mantém o plano de vender parte de suas refinarias neste ano, apesar da crise desencadeada pela covid-19. A garantia de contratação de derivados tende a valorizar esses ativos, o que também teria incentivado a busca por um entendimento sobre a nafta neste momento.
Conforme uma das fontes, o contrato de nafta com a Braskem deve ser assinado ainda no primeiro semestre. Já os acordos relativos ao fornecimento de propeno e gás para a Riopol, no Rio de Janeiro, e para São Paulo, que vencem em 2021, seguem em negociação.
A maior proximidade entre estatal e petroquímica, que vinha ampliando as importações de matéria-prima, foi percebida pelo mercado, especialmente nas últimas semanas. Com a queda no consumo de combustíveis no mercado doméstico, na esteira das medidas de isolamento para conter o avanço da covid-19, a Petrobras se viu com excedente de nafta e a Braskem aceitou sentar-se à mesa para negociar volumes adicionais - a empresa é a única compradora de nafta no mercado brasileiro. No início de maio, a petroquímica informou a assinatura de um aditivo ao contrato firmado em 2015, acertando a compra de nafta adicional em abril, substituindo os volumes que seriam importados.
O aditivo abrangeu 220 mil toneladas, das quais 190 mil toneladas com um desconto de US$ 35 por tonelada para as centrais petroquímicas na Bahia e no Rio Grande do Sul e 30 mil toneladas para o complexo petroquímico paulista, com desconto de US$ 35 por tonelada, tomando-se como referência a cotação ARA (índice de preço formado nos portos de Amsterdã, Roterdã e Antuérpia).
O contrato a que se referiu a Braskem no comunicado tem prazo de cinco anos e foi fechado às vésperas do Natal de 2015, após alguns aditivos ao acordo anterior - encerrado em 2014 em meio às investigações da Operação Lava-Jato. A Braskem admitiu o pagamento de propina para ser favorecida nesse acordo anterior, que havia sido firmado em 2009 e previa um intervalo de preço variável de 92,5% a 105% da cotação ARA.
No acordo seguinte, assinado portanto ainda sob a desconfiança levantada pela Lava-Jato, o preço acertado foi “o possível diante das circusntâncias”, conforme uma fonte: 102,5% do preço ARA e pouco competitivo se comparado aos custos da matéria-prima de petroquímicas que concorrem com a Braskem no mercado internacional.
Há cinco anos, a Petrobras entregava cerca de 70% da matéria-prima utilizada pela Braskem nas operações brasileiras, ou cerca de 7 milhões de toneladas por ano. Hoje, a nafta ainda é relevante, mas vem perdendo participação na matriz de insumos da petroquímica. Em 2019, correspondeu a 38% do consumo total, contra 90% dez anos antes. Da nafta total usada no ano passado, 36% veio da Petrobras e o restante foi importado.
A forte desvalorização do petróleo e a pandemia de covid-19, que teve efeito pontual no consumo de nafta nacional em abril, não influenciaram os termos do novo contrato de longo prazo, segundo uma fonte ouvida pelo Valor. Em geral, os acordos de fornecimento de matéria-prima têm duração de cinco ou dez anos, com possibilidade de prorrogação por igual período, de forma que a crise atual não teria peso suficiente para influenciar o preço acertado.
Na média, analistas e consultorias projetavam preço médio de US$ 470 a US$ 480 por tonelada de nafta em 2020, contra US$ 505 em 2019. Agora, as estimativas foram reduzidas em US$ 200 a tonelada.
Procuradas, Braskem e Petrobras não comentaram o assunto.
Fontes: Valor