Apesar de ter atingido produção recorde de minério de ferro no terceiro trimestre, a Vale registrou prejuízo de R$ 3,38 bilhões no período, resultado da queda no preço do minério de ferro no mercado internacional, da desvalorização do real frente ao dólar e de perdas com dívida e derivativos, decorrentes da variação cambial.
No período, o impacto do câmbio no resultado foi estimado em R$ 6,22 bilhões, e o da queda no preço do minério, de R$ 3,32 bilhões.
No segundo trimestre, a Vale havia lucrado R$ 3,19 bilhões, e, no terceiro trimestre de 2013, os ganhos haviam atingido R$ 7,95 bilhões.
"Entregamos um forte resultado operacional no trimestre, com excelente produção de minérios de ferro, cobre e níquel", disse o presidente da Vale, Murilo Ferreira, ao analisar os resultados em teleconferência com analistas e os principais executivos da companhia.
A empresa lembrou que o preço do minério de ferro esteve em US$ 102 dólares nos últimos seis meses, US$ 85 dólares nos últimos três e fechou setembro em US$ 80 dólares.
Para a empresa, a reação no preço do minério de ferro está demorando porque produtores independentes, ainda que operando com dificuldades, ainda têm estoques para oferecer ao mercado. A expectativa da empresa é a redução da oferta, à medida que o preço em atual patamar torna inviável a produção por mineradoras menores com produto de qualidade inferior.
RECEITA
A receita caiu 6,3% entre o segundo e o terceiro trimestres, de R$ 22,47 bilhões para R$ 21,06 bilhões, puxada principalmente pela redução de 11% na cotação do minério de ferro no período. No ano, a queda no preço é de 35%.
Em nove meses, a receita da Vale atingiu US$ 66,37 bilhões, 8,7% abaixo do que os R$ 72,72 bilhões havia obtido em igual período de 2013.
A elevada produção de minério de ferro, 85,7 milhões de toneladas em três meses, o maior volume extraído em um trimestre na na história da companhia, não se refletiu nos resultados porque a empresa enfrentou dificuldade em transportá-lo de sua principal mina em produção, Carajás (PA).
O motivo foi o bloqueio da ferrovia Carajás, concessão da Vale, por quilombos em manifestações, em setembro. Assim, 9,3 milhões de toneladas estão em estoques, e a empresa diz já ter negociado parte desse volume "em condições mais vantajosas".
A geração de caixa, medida pelo indicador Ebitda, registrou queda de 25% entre o segundo e o terceiro trimestres, de R$ 9,14 bilhões para R$ 6,85 bilhões.
"Permanecemos muito focados na geração de caixa. Havendo oportunidade de desinvestimento de ativos não estratégicos, vamos continuar desenvolvendo essas alternativas", disse Ferreira.
A empresa espera que, nos próximos meses, o efeito do câmbio desvalorizado deixe de ser negativo e passe a ser favorável à empresa, uma vez que deverá reduzir os custos.
INVESTIMENTOS
A Vale informou ter investido US$ 8,2 bilhões nos primeiros nove meses do ano, um valor 21,2% abaixo do que desembolsou em igual período de 2013, em especial pela redução no volume de projetos.
"Está claro que não vamos atingir os US$ 13,8 bilhões que planejamos para o ano. Teremos uma redução de US$ 1 bilhão de dólares", diz o diretor financeiro e de relações com investidores, Luciano Siani. Os executivos
da Vale dizem esperar um orçamento para investimentos menor no próximo ano, resultado do impacto do câmbio e "da boa gestão dos projetos".
O presidente da empresa diz que a empresa só vai investir em expansão de ativos "de classe mundial". "Não estamos focados em aumentar o volume a qualquer preço. Queremos projetos que possamos expandir e que ofereçam um produto de qualidade diferenciada", diz Ferreira.
Fonte: Folha de São Paulo/SAMANTHA LIMA DO RIO
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