Apesar de reconhecer a importância de uma taxa cambial estável, economistas, acadêmicos e empresários são unânimes ao afirmar que não é possível desenvolver uma política industrial baseada apenas no câmbio.
O presidente da Associação Brasileira da Indústria Farmoquímica (Abiquifi), José Correia, explica que, nesse segmento, os maiores entraves ao crescimento são os custos com energia e os encargos sobre a folha de pagamentos.
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Para William Marcelo Nicolau, diretor-presidente da Cipatex, que atua há 50 anos nos setores plástico e químico, com presença no mercado externo, folha de pagamento, energia e tributos representam mais de 50% do preço de venda. "A inflação crescente aumenta custos, que não têm sido repassados em função da forte competição com produtos asiáticos."
O doutor e mestre em desenvolvimento econômico Lucas Dezordi, professor de economia da Universidade Positivo, considera fundamental a simplificação e a racionalização dos tributos. "Não podemos mexer apenas na taxa de câmbio sem antes ajustar os prazos de recolhimento de tributos, como ICMS, IPI, PIS/Pasep e Cofins, ao fluxo de caixa das empresas."
Paulo Fraccaro, superintendente da Associação Brasileira da Indústria de Artigos e Equipamentos Médicos, Odontológicos, Hospitalares e de Laboratórios (Abimo), afirma enfaticamente que o maior entrave ao crescimento da indústria no país é o orçamento público.
Na opinião do professor da Fundação Getulio Vargas (FGV-SP) Luiz Carlos Bresser-Pereira, o Brasil sofre da "doença holandesa", em função de ser um forte exportador de commodities. Essa condição provoca uma sobrevalorização crônica e cíclica da taxa de câmbio, o que impede o país de exportar de forma significativa bens manufaturados, acarretando um processo de desindustrialização. Ele defende uma tarifa sobre importação de bens industrializados para reanimar o setor e atingir o que chama de taxa de equilíbrio industrial competitiva.
Para Guilherme Lopes, professor do bacharelado em relações internacionais do Centro Universitário Senac, a perspectiva de uma taxa de câmbio mais competitiva certamente favorecerá o setor industrial como um todo. Mas ele faz uma ressalva: "É preciso analisar os efeitos de um movimento muito brusco do câmbio sobre os índices de inflação, já excessivamente pressionados".
O economista Marcelo Anache, professor da Faculdade Mackenzie, considera a proposta de Bresser-Pereira uma alternativa razoável no curto prazo, que beneficiaria o setor industrial como um todo. Ele observa que não haveria reflexo na renda dos exportadores de bens primários, porque o imposto seria compensado pela desvalorização.
"A tarifa sobre a importações de bens industrializados deve ser seletiva, de modo a não dificultar a importação de insumos que possibilitem uma melhoria competitiva da nossa indústria. Por outro lado, as condições para o Real se desvalorizar, nesse momento, são muito estreitas, principalmente por causa da inflação e dos custos políticos", analisa Anache.
Fonte: Valor Econômico/Suzana Liskauskas | Para o Valor, do Rio