As exportações brasileiras somaram no ano passado US$ 242.178 bilhões, 1% a menos do que em 2012. Praticamente o mesmo percentual de participação das micro e pequenas empresas nas vendas para o exterior. "Apesar de crescerem em ritmo mais acelerado que as exportações em geral, as remessas das MPEs para o mercado externo ainda estão muito aquém do desejado", afirma Luiz Barretto, presidente do Sebrae. "A força do consumo interno faz com que os empresários estejam muito voltados para o consumidor brasileiro, mas com incentivo e programas específicos de capacitação pretendemos que eles percebam que também há grandes oportunidades no exterior".
Mas, não basta querer. É preciso ir além. A atividade exportadora envolve mais do que produzir um bem competitivo em relação aos concorrentes internacionais. Exportar exige uma estratégia para encontrar mercados potenciais, a promoção dos produtos brasileiros e cumprir com requisitos internacionais de qualidade, além de conhecer a fundo os processos logísticos e os trâmites burocráticos de exportação.
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"Sozinha fica impossível à pequena empresa ultrapassar as fronteiras do país. Falta conhecimento e verba", afirma Fábio Alexandre Vieira, sócio da Prime Host, empresa de Santos (SP), especializada em serviços de data center. No final de 2010, um dos clientes atendidos no Brasil solicitou que a empresa prestasse o mesmo serviço no exterior. "Nos colocaram na parede e nem tínhamos cogitado a possibilidade de nos internacionalizar", conta Vieira. "Sem saber o caminho das pedras, procuramos a ajuda do Sebrae, que nos ofereceu cursos de capacitação e a consultoria do indiano Apurva Chandra, que trabalhou no Brasil com apenas 10 empresas".
Com a ajuda do consultor, os sócios não só abriram um escritório nos Estados Unidos, com mediadores que falavam português, como acreditam que chegaram de uma forma mais profissional. "Tivemos surpresas, não nego, mas bem menores do que se arriscássemos uma investida solo", afirma Vieira. "Encontrar um intermediário que falasse português nos ajudou a entender melhor os processos locais e o endosso do Sebrae serviu para os futuros clientes nos olharem como um competidor de competência internacional".
Mesmo quem começa suas atividades lá fora acaba buscando ajuda na hora de expandir o network e ganhar novas fronteiras. Foi o caso da grife de moda brasileira Izolda, que nasceu em Londres, no final de 2010, cidade onde as irmãs Juliana e Alessandra Affonso moravam. "As blogueiras e editoras de moda gostaram, começaram a divulgar e os pedidos a aumentar", diz Juliana. "Como a economia na Europa estava ruim, desembarcamos em São Paulo."
Confecção instalada, as sócias buscaram a ajuda da Associação Brasileira de Estilistas (Abest), a fim de ganhar visibilidade e, acima de tudo, capacitação na área de gestão. Foi por meio da entidade que elas puderam desfrutar dos benefícios oferecidos pela Apex-Brasil para empresas com potencial exportador. "A primeira iniciativa foi a participação em uma feira de moda em Paris, a segunda a Semana do Brasil no Bon Marché, que não surtiram grandes resultados, pois não tinham o nosso perfil", afirma Júlia. "Mas, abriram a nossa cabeça para saber como queríamos apresentar a marca no exterior." A opção escolhida foi um showroom exclusivo, viabilizado com verbas da Apex-Brasil, por onde passam compradores de grandes cadeias do varejo. Nas três primeiras edições, todas em Paris, os resultados superaram as expectativas, com a marca fechando contratos de exportação para a Arábia Saudita, Inglaterra, Tailândia, Rússia, México, Estados Unidos, Barain, Japão e Coréia do Sul. O próximo será em Miami, com a linha praia, que deverá ajudar a grife Izolda a ampliar os atuais 20 pontos de venda fora do Brasil.
O projeto desenvolvido pela Abest é um entre os cerca de 80 realizados pela Apex-Brasil em andamento este ano com a proposta de oferecer apoio técnico às empresas brasileiras em seu processo de internacionalização, especialmente para aquelas que pretendem ampliar suas operações em mercados onde a agência possui centros de negócios - Miami, São Francisco, Bogotá, Havana, Luanda, Bruxelas, Moscou, Pequim e Dubai. Muitos deles visam não só promover as empresas, mas também divulgar o produto brasileiro, tornando-o conhecido no exterior.
Esta foi a proposta da Apex-Brasil no início dos anos 2000, quando formou o primeiro consórcio de pequenos produtores de vinho da região do Vale dos Vinhedos, no Rio Grande do Sul, entre eles, a Casa Valduga, de Bento Gonçalves. "Na época, o vinho brasileiro não estava no cenário internacional. Nós escrevemos as primeiras linhas desse processo", lembra Juciane Casagrande, diretora comercial. "Quando entramos para o consórcio, além de não saber prospectar novos mercados, também não sabíamos como precificar os produtos. Foi a Apex que promoveu cursos de precificação, organizou visitas e missões a regiões produtoras internacionais e fincou a nossa bandeira em várias feiras, principalmente, na França, Alemanha e Estados Unidos".
Mais de uma década depois, dos cerca de 2 milhões de litros produzidos por ano pela Casa Valduga, em torno de 10% segue para nada menos do que 24 países. "Foi um trabalho feito passo a passo, com investimentos em gestão e capacitação, que começou a dar retorno há três anos. A tendência é crescer ainda mais, já que o Brasil está em evidência e nossos vinhos são reconhecidos como 'premium' no exterior", avalia a executiva. "Há 10 anos, nós batíamos na porta dos varejistas ingleses e eles não nos recebiam. Hoje, são eles que passaram a nos procurar".
Fonte:Valor Econômico\Por Katia Simões | Para o Valor, de São Paulo