O Irã é o maior comprador do milho brasileiro no exterior, e o imbróglio que impede o abastecimento de navios em Paranaguá tem potencial para interromper quase 30% das exportações do grão.
Apenas em 2018, as vendas ao exterior somaram 22 milhões de toneladas. Dessas, 6,4 milhões foram para o Irã. No primeiro semestre deste ano, segundo dados do Imea (Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária), outras 2,4 milhões de toneladas já foram embarcadas ao país.
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Das quase 100 milhões de toneladas de milho produzidas nesta safra, 76 milhões foram na chamada safrinha, cuja colheita se concentra nos meses de junho e julho. Por isso, as exportações ocorrem em maior volume no segundo semestre —no primeiro, os portos são ocupados por soja.
Quando os embarques deveriam ganhar corpo, o impasse se instalou, a partir da recusa da Petrobras de abastecer os navios pelo receio de sofrerem sanções.
O questionamento de entidades que representam o setor produtivo está no embargo a alimentos, que seriam imunes a punições.
“Não há razão para embargo de produto agrícola”, diz Alysson Paolinelli, ex-ministro da Agricultura e atual presidente da Abramilho (Associação Brasileira de Produtores de Milho).
Medindo palavras, Paolinelli afirma não saber se é prudente a entidade brigar com a Petrobras sobre o abastecimento do navio iraniano.
“O milho é um alimento importante, e o Irã é o maior comprador”, diz.
Assim como o representante da Abramilho, a Aprosoja-MT também se move com cautela. Antônio Galvan, produtor e presidente da associação, diz que a entidade ainda não acionou órgão de pressão, como a Frente Parlamentar de Agricultura na Câmara ou a CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil).
Ele afirma, porém, que os preços do milho começaram a cair no estado, o que atribuiu ao impasse.
Segundo Galvan, a baixa chegou a R$ 2 a saca, cotada a cerca de R$ 23. No mesmo período, o dólar também caiu, o que afeta os preços do cereal.
Mato Grosso é o principal produtor de milho do país e já colheu quase 90% da safra deste ano, que deve se encerrar nas próximas semanas.
As vendas também estão avançadas —quase 80% da safra do estado havia sido negociada até o começo do mês, ainda de acordo com o Imea.
A Anec, que representa os exportadores, principalmente de soja e milho, não quis comentar o impasse. No Paraná, a Faep, federação que representa produtores do estado, vê prejuízos ao agronegócio.
Afirma que o milho embarcado pode perder qualidade e, no futuro, ser devolvido.
A entidade reforçou que “as sanções econômicas contra o Irã, estabelecidas pelos EUA e em alinhamento com os interesses do governo federal, não devem ser aplicadas em caso de transporte de alimentos, assim como de medicamentos e equipamentos médicos.
“O transporte de comida está previsto no que se encaixa como ‘exceção humanitária’”, afirmou a entidade, em nota.
Fonte: Folha SP