A Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) encerrou o ano passado com prejuízo líquido de R$ 105 milhões (atribuível a controladores), conforme balanço divulgado ontem. Menores vendas e uma piora no resultado operacional pesaram sobre a última linha do demonstrativo financeiro. Em 2013, a empresa teve ganho de R$ 509 milhões.
A receita líquida caiu 6,8% de um ano para o outro e chegou a R$ 16,13 bilhões, com vendas de 5,2 milhões de toneladas de aço (recuo de 15%). Desse volume, 72% no mercado interno. Com a menor demanda no Brasil, a CSN iniciou, desde setembro, esforço para ampliar vendas ao mercado externo. A proporção de outros países no faturamento passou de 24% para 28%. O câmbio também foi mais favorável à companhia.
Em outro negócio, de mineração de ferro, a empresa vendeu 28,9 milhões de toneladas, com alta de 13%. Dois terços foram da mina Casa de Pedra. O restante, da Namisa, cujo capital tem 40% em mãos de sócios asiáticos.
O prejuízo no ano só não foi maior devido ao lançamento de créditos fiscais, que deixaram a linha de tributos sobre o resultado positiva em R$ 151,2 milhões.
Já no quarto trimestre, a CSN obteve lucro de R$ 67 milhões, revertendo perda de R$ 487 milhões apurada um ano antes. A receita líquida, por outro lado, recuou 22,8%, para R$ 3,82 bilhões, e o resultado antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) ajustado somou R$ 1,01 bilhão, queda de 42,5%.
A empresa conseguiu vender mais ao exterior no trimestre - 31%, contra 26% na mesma base de comparação. Mesmo assim, o volume total de aço caiu 13,5%, para 1,25 milhão de toneladas. Por outro lado, teve impacto dos preços do minério. A média do preço, no ano, foi de US$ 64 a tonelada, uma expressiva queda.
Conforme relatório da Fator Corretora, o balanço da CSN levanta dúvidas sobre a sustentabilidade de suas operações em 2015, A deterioração do mercado doméstico para a divisão siderúrgica e das vendas globais de minério de ferro provavelmente vai continuar a comprimir sua rentabilidade no ano, diz a instituição.
Um dos pontos que mais trouxe preocupação ao analista Artur Losnak, que assina o relatório, é o salto na alavancagem financeira. A relação entre dívida líquida e Ebitda subiu de 3,2 no fim de setembro para 4 vezes no fim do ano, com dívida líquida de R$ 18,9 bilhões.
Por isso, a CSN informou que está cortando dividendo e cortando os investimentos, de R$ 2,2 bilhões para R$ 1,3 bilhão neste ano.
Questionada sobre a competitividade no negócio de minério de ferro, diante da forte retração dos preços, a CSN informou que se mantém competitiva mesmo abaixo de US$ 50 a tonelada, conforme o diretor Daniel dos Santos, diretor de mineração, na teleconferência com analistas [a empresa não faz mais encontro sobre resultados com jornalistas há vários anos].
Santos disse que a empresa está no mesmo patamar de custos da principal concorrente na região do quadrilátero ferrífero de Minas Gerais, que é a Vale. Ele não citou nome da rival. O diretor disse que desde 2013, já se antecipando a um cenário de piora de preços, vem trabalhando na melhoria de qualidade de seu produto, na redução de custos e em mudanças do modelo de operação das minas, principalmente da Namisa. "A gente sobrevive junto com os grandes no Quadrilátero Ferrífero. Seremos os últimos a sair do mercado".
O Ebitda desse negócio despencou 45%, derrubando a margem para 35% no ano. No quarto trimestre foi de 24%. Para este ano, a previsão é embarcar 28 milhões de toneladas de minério de ferro.
Para compensar a retração da demanda de aço no Brasil, a CSN quer ampliar as vendas nos EUA, onde tem uma subsidiária que opera na região do Meio-Oeste. O diretor-executivo comercial, Luiz Fernando Martinez, disse que o plano é dobrar o volume neste ano, de 300 mil para 600 mil toneladas. Disse que é parte da estratégia iniciada em setembro de aproveitar esse mercado, revigorado com a recuperação da economia.
Nos EUA, ele vê oportunidades especialmente em aços de maior valor agregado, os quais seriam embarcados do Brasil. "Hoje, a venda de uma tonelada de material revestido (galvalume e zincado) gera ganho de US$ 230 com o câmbio a R$ 3,15", disse. Com o dólar a R$ 3,25, afirma, a margem gerada fica similar à obtida no Brasil.
A previsão de Martinez é operar com 70% a 72% de venda no mercado brasileiro e o restante da expansão colocar nos mercados dos EUA, Alemanha (aço longo) e da Europa (via filial de Portugal). Em 2015, ele prevê venda total de 6,2 milhões de toneladas, alta de 19,6%.
Fonte:Valor Econômico/Renato Rostás e Ivo Ribeiro | De São Paulo
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