A China quer negociar um novo protocolo sanitário com o Brasil antes de liberar a entrada de carne bovina brasileira em suas fronteiras.
A exigência adia por tempo indeterminado o fim do embargo ao produto brasileiro, anunciado durante a visita ao Brasil do líder chinês, Xi Jinping, no mês passado.
A carne bovina brasileira está barrada na China desde a identificação de um caso atípico do mal vaca loca (encefalopatia espongiforme bovina, ou EEB) no Paraná, no fim de 2012. Em abril deste ano, o Ministério da Agricultura confirmou um novo caso atípico da doença, desta vez no Mato Grosso.
O fim do embargo imposto pelas autoridades de Pequim, anunciado pela presidente Dilma Rousseff em Brasília em 17 de julho, ao lado de Xi, foi considerado pela diplomacia brasileira o principal resultado prático da visita do presidente chinês. A decisão foi publicada no mesmo dia pela agência de vigilância sanitária da China (AQSIQ).
No entanto, os procedimentos para a liberação têm sido mais lentos do que o Brasil esperava. Funcionários da AQSIQ informaram à Embaixada do Brasil em Pequim que serão necessárias pelo menos "algumas semanas" para que o novo protocolo sanitário fique pronto.
Em tese, segundo técnicos, não deveria haver demora. Bastaria atualizar o protocolo anterior, negociado quando o Brasil era um país sem casos de vaca louca, e incluir o atual status, que a OIE (Organização Mundial de Saúde Animal) classifica como "risco insignificante" da doença.
Mas a expectativa brasileira de que o crescente mercado chinês seja aberto à carne bovina do país tem sido frustrada. Questionado pela Folha se a barreira seria removida neste ano, uma autoridade chinesa do setor não se comprometeu com prazos.
"Não posso garantir. Ainda há condições a serem cumpridas", disse Ye Quanbao, vice-diretor da divisão de Américas e Oceania do Ministério da Agricultura chinês.
Com o fim do embargo, a expectativa do governo brasileiro é vender até US$ 1,2 bilhão em carne bovina à China em 2015, aproveitando a ampliação da classe média no país e a crescente demanda por proteína animal. A meta equivale à metade da importação chinesa projetada para 2015.
Em 2011, antes do embargo, o Brasil exportou US$ 37,7 milhões em carne à China.
Especialistas não esperam um caminho curto para a suspensão da barreira chinesa.
"Pela nossa experiência, um protocolo de acesso a mercado de carne raramente é rápido", disse à Folha Joe Haggard, vice-presidente para Ásia e Pacífico da Federação de Exportadores de Carne dos EUA. A carne bovina americana está barrada na China desde 2003, também por um caso de vaca louca.
Segundo outras fontes ouvidas pela Folha, a morosidade pode estar ligada à influência em Pequim de grupos que lucram com o contrabando de carne bovina brasileira via Hong Kong.
Em 2013, a ex-colônia britânica de 7 milhões de habitantes foi o maior importador de carne bovina brasileira.
Fonte: Folha de São Paulo/MARCELO NINIO DE PEQUIM
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