País asiático é o principal parceiro do Paraná e responde por 15% das importações e 16% das exportações. Em 10 anos, negócios cresceram 22 vezes
Sob todos os ângulos, os números apontam para o mesmo fenômeno: o comércio entre Paraná e China cresceu de maneira sem precedentes nos últimos 10 anos. A soma das exportações e importações, aumentou 22 vezes entre 2000 e 2010. Da 18.ª maior origem das importações no início da década passada, Pequim é hoje o maior fornecedor de produtos, equipamentos e máquinas ao estado. A venda para o país asiático também deu um salto, passando de US$ 130 milhões, em 2000, para US$ 2,2 bilhões no ano passado, um crescimento de 17 vezes. A China responde por 16% do total exportado e 15% das importações do Paraná.
Os dados, do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic), revelam que o movimento que surpreendeu o mundo e colocou a potência asiática no centro da economia mundial também afeta os principais setores do estado: não há quem não tenha sentido o impacto da presença chinesa, seja porque a vê como uma fornecedora barata, um grande mercado comprador ou uma concorrente ameaçadora. Essa dependência do comércio chinês também se reflete na reação dos empresários, que começam a desviar a atenção de medidas governamentais de proteção ao mercado local para se focar no que eles próprios podem fazer para tirar proveito do crescimento chinês.
“O primeiro passo é conhecer a concorrência. Não adianta ficar aqui chorando”, diz Elias Antunes, especialista em mercado asiático e consultor da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep). Desde 2005, ele participa de um projeto da entidade que leva empresários à China. “Vamos conhecer os produtos, preços e processos produtivos. O empresário visita uma fábrica chinesa e descobre uma série de inovações que aumenta a competitividade e pode ser adotada aqui.”
Diretor-presidente da Pormade, fabricante de portas de União da Vitória, no interior do estado, Claudio Zini importa máquinas chinesas há dois anos. De lá para cá, foram cinco visitas ao país para estreitar relações. Segundo ele, um equipamento de beneficiamento de madeira comprado antes na Alemanha ou na Itália é oferecido na China por preço até 40% menor. “Claro que não tem aquela durabilidade de um produto alemão, que funciona por 20 anos, mas hoje com a tecnologia a máquina entra em absolutismo antes de terminar sua vida útil.”
Qualidade
A questão da qualidade dos produtos ainda é uma das principais defesas da indústria nacional contra a invasão chinesa. Começando pelos aparelhos elétricos, o Inmetro vai ampliar, a partir de julho, o número de produtos importados certificados com selos de qualidade. A estratégia vale para as importações de todos os países, mas mira especificamente a China, país de reputação duvidosa quando o assunto é qualidade técnica.
Mas mesmo essa percepção de produtos de pior qualidade começa a mudar. Antes uma exportadora principalmente de artigos têxteis e calçados, a China começou a invadir o país com produtos de maior tecnologia. Até o fim do ano, por exemplo, pelo menos 21 modelos de automóveis chineses estarão sendo comercializados no Brasil. Dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostram que 45% das empresas que competem com companhias chinesas perderam participação no mercado doméstico. O levantamento também revela que as pequenas empresas são as mais afetadas.
Usando o inimigo
O empresário Ernesto Nicolau Scirea, dono de uma confecção em Palmas (Centro-Sul do estado), está buscando inspiração no modelo chinês para enfrentar o inimigo – o setor têxtil é um dos mais afetados pelos produtos chineses. No ano passado, ele visitou a Feira de Cantão, um dos maiores eventos comerciais da China. O resultado é a abertura de uma empresa de importação de cortinas e colchas. “Esse primeiro passo é para a venda no atacado. Depois, a ideia é comprar máquinas e equipamentos e fazer o produto aqui mesmo.” Segundo ele, com a redução da margem de lucro e o aumento da produtividade é possível brigar com os produtos de lá.“Os encargos trabalhistas brasileiros são um fardo enorme, mas se aprendermos com a produtividade dos chineses, dá para competir. O chinês é mais focado. Enquanto um brasileiro prega 20 botões em um minuto, o chinês prega 50. É uma cultura que precisamos desenvolver aqui também.”
Fonte: Gazeta do Povo (PR)/Breno Baldrati
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