Em um movimento liderado por China e América do Norte, as operações de fusão e aquisição na indústria química mundial deverão se manter em trajetória ascendente em 2015, conforme a quarta edição do Relatório de Fusões e Aquisições da Indústria Química, produzido pela A.T. Kearney. Além do viés de alta, segundo percepção de 60% dos executivos ouvidos pela consultoria, o ano começou com a reversão de uma tendência observada nos últimos três anos no setor químico, com a assinatura de um acordo de US$ 5 bilhões - nível inicial dos chamados "meganegócios".
"Há um papel importante dos investidores ativos, que estão em busca de oportunidades, e a participação relevante de fundos de private equity, que estão buscando, particularmente, negócios na área de especialidades químicas", afirmou ao Valor o diretor do escritório da A.T. Kearney no Brasil, Edson Bouer. Investimentos estratégicos, na esteira de reestruturações de portfólio e enfoque global nas principais áreas de negócio das empresas, também surgem como motores de acordos dessa natureza.
No ano passado, operações de fusão e aquisição envolvendo o setor químico movimentaram US$ 82 bilhões em todo o mundo, com alta de 13% frente ao registrado em 2013 e de 67% na comparação com 2012. O número de acordos, porém, ficou praticamente estável, com queda de 2% na comparação com o ano anterior, para 1.035. Assim como em 2012 e 2013, não houve em 2014 a assinatura de transações superiores a US$ 5 bilhões. Essa marca, contudo, foi superada no início deste ano, com a compra da Rockwood Holdings pela concorrente americana Albemarle Corporation, fabricante de especialidades químicas, por US$ 6,9 bilhões.
Na Ásia, o elevado grau de fragmentação da indústria poderá funcionar como catalisador de novas transações ou ainda atrair companhias com sede em mercados maduros e buscam ampliar sua área de atuação, aponta a pesquisa. Já nos Estados Unidos, o realinhamento de portfólio de grandes empresas e a busca dos investidores por matéria-prima de baixo custo podem impulsionar operações de compra, venda e combinação de ativos.
Já a queda do preço do petróleo, que poderá estimular rodadas de compra e venda de ativos no setor de óleo e gás ao longo dos próximos 12 meses, não deve ter impacto significativo nas transações da indústria química, com exceção de possíveis desinvestimentos decorrentes da queda de margem de empresas de óleo e gás, com presença na área química, e da necessidade de gerar caixa.
No Brasil, comentou Bouer, é mais provável que um negócio ou estratégia definidos fora do país tenham reflexo na base local de ativos - uma fábrica de troca de mãos por causa de uma operação firmada globalmente ou uma unidade é colocada à venda no mercado brasileiro porque não mais está alinhado aos interesses mundiais da matriz. Em 2014, a pesquisa não identificou operações específicas no Brasil.
Na América do Norte, o valor das operações que envolveram a indústria química subiu 16% - ou alta de 24% se considerado o número de acordos. Conforme a A.T. Kearney, sete das dez maiores transações decorreram da decisão do comprador ou vendedor de se concentrar nas atividades principais de negócio. "Desinvestimentos importantes incluíram a venda da área de negócio de tecnologia da água da Ashland, da Philipps 66 em sua área de negócio de melhoradores de fluxo e a venda da CF Industries de sua área de fosfato", informou a consultoria.
Neste ano, na avaliação do diretor da A.T. Kearney e coautor do estudo, Guttorm Aase, a região deve ter papel "dominante" nas fusões e aquisições no setor. "No entanto, a China será a região mais forte de crescimento para as atividades de fusões e aquisições no setor neste ano, impulsionada por uma maior consolidação do mercado local, bem como um aumento na expansão geográfica e investimentos internacionais de entrada no mercado da China", apontou, em nota.
O estudo mostra que investidores com perfil financeiro estiveram envolvidos em "grandes negócios" em 2014, como a venda do Flint Group, fabricante de tintas, vernizes e produtos de limpeza, pela CVC Capital Partners para a Koch Industries e Goldman Sachs Capital, por US$ 3 bilhões. "O foco desses investidores mudou significativamente para produtos químicos especializados em 2014. Apenas um terço das empresas adquiridas por investidores financeiros em 2012 estavam ativas nessa área, enquanto em 2014 a participação foi de 50%", informou a A.T. Kearney.
Outra grande transação firmada em 2014, segundo a consultoria, foi a venda da participação majoritária da Apollo Global Management na Taminco, fabricante de derivados do amoníaco, para a Eastman, avaliada em US$ 2,7 bilhões.
Fonte: Valor Econômico/Stella Fontes | De São Paulo
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