A China está estudando um plano de investimentos de até US$ 1,5 trilhão durante cinco anos em sete setores estratégicos, segundo fontes. Esse plano visa acelerar a transição do país da condição de fornecedor de produtos baratos ao mundo para provedor líder de tecnologias de alto valor.
Analistas expressaram ceticismo em face do enorme volume de dinheiro - equivalente a cerca de 5% do Produto Interno Bruto (PIB) chinês, em base anual -, mas disseram que a espantosa dimensão do número é uma indicação da determinação do governo de catalisar uma mudança estrutural na economia.
Entre os setores em foco estão: fontes energéticas alternativas, biotecnologia, tecnologia da informação de nova geração, equipamentos industriais de alta tecnologia, materiais avançados, carros movidos a combustíveis alternativos e tecnologias para poupar energia e não agressivas ao ambiente.
Muito provavelmente, a maior parte dos recursos não virá do governo central, que procurará estimular gastos de empresas, investimentos de governos locais e empréstimos por bancos. A Conferência Central de Trabalho Econô-mico, encontro anual decisivo no qual os líderes de mais alto escalão definem as políticas econômicas para o ano seguinte, provavelmente endossarão o plano focado nos sete novos setores estratégicos ao reunirem-se no fim deste mês.
"O Conselho de Estado está ponderando um plano para investir até 2 trilhões de yuans [US$ 300 bilhões] por ano nos sete novos setores estratégicos durante os próximos cinco anos", disse à Reuters uma fonte próxima à liderança e com conhecimento direto sobre a proposta. A fonte não quis ser identificada devido à delicadeza da informação.
Pequim já disse que deseja incentivar os setores, uma política que espera tornará o país menos dependente de práticas industriais "sujas", de baixo tecnologia. O valor adicionado total agregado pelos sete setores estratégicos representam atualmente cerca de 2% do PIB. O governo disse desejar que eles gerem 8% do PIB em 2015 e 15% até 2020. Ao estimular esses setores, a China estaria fazendo uma grande aposta em que a tecnologia pode ajudar a estabelecer uma ponte entre a oferta reduzida de commodities e a demanda em rápido crescimento que levou o país a tornar-se a segunda maior economia do mundo.
O plano quinquenal do Partido Comunista para 2011-2015 defende "incubar e desenvolver" os setores. Mas até agora o governo não divulgou nenhum número definindo quanto dinheiro vai gastar como parte do plano quinquenal para reformar a economia.
Os investimentos propostos para os setores deverão rivalizar (em ordem de grandeza) com o pacote de estímulo governamental de dois anos que mobilizou 4 trilhões de yuans e chegou ao fim em novembro. "É um desses números tão grandes que, mesmo que seja exagerado, o número real provavelmente ainda será grande", disse Ben Simpfendorfer, economista do Royal Bank of Scotland em Hong Kong.
Em sua declarações, as autoridades chinesas muitas vezes ambicionam enormes investimentos como uma maneira de reunir apoio para iniciativas de investimentos, ainda que os números em última instância não correspondam às metas originais.
"A concentração nos sete novos setores estratégicos fará crescer a competitividade chinesa e elevará sua economia a patamares mais altos na cadeia de valor", disse Zhao Changhui, economista-chefe do Banco de Exportação e Importação da China. "Isso dará rumo para uma transformação da economia chinesa", afirmou Zhao. "É o próximo estágio da globalização".
O governo também deve dar tratamento preferencial aos investidores em termos de impostos e de aquisição de terras.
O "China Times", publicado em chinês, informou que a alíquota do imposto de renda para os investidores nos sete setores será reduzida para 7,5%. A imprensa oficial também informou que a China vai investir 5 trilhões de yuans em projetos de energia renovável ao longo da próxima década. O dinheiro gasto nos sete setores focados pela iniciativa que envolverá 10 trilhões de yuans poderá, em certa medida, poderá sobrepor-se (aos projetos de energia renovável). Os planos também poderão defrontar-se com oposição de alguns setores do governo.
A Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma (CNDR), a poderosa agência de planejamento do país, disse que o setor de energia eólica já está sofrendo excesso de capacidade, levantando dúvidas sobre a necessidade de grandes investimentos em energia alternativa. Ontem, a CNDR não quis comentar.
Xu Jian, economista da China International Capital, em Pequim, questionou se os sete setores visados têm condições de absorver tal afluxo de dinheiro. "Eles ainda estão em seu estágio inicial de desenvolvimento. São distintos de setores convencionais, que são de grandes escala. Assim, nesses termos, esse investimento pode ser grande demais", disse.
O plano precisa ser aprovado pelo do Congresso Nacional do Povo, o Parlamento chinês, que irá realizar a sua sessão anual em março de 2011.
Fonte: Valor Econômico/Benjamin Kang Lim e Simon Rabinovitch | Reuters, em Pequim
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