Foram nada menos do que três anos de preparação para que a Novomel, com sede em São Paulo, estivesse, na linguagem popular, "redonda" para exportar. A empresa, criada em 1996 com o objetivo de vender própolis para o Japão, em pouco tempo descobriu que não bastava ter um bom produto. Era preciso ter estrutura de produção, processos de gestão bem definidos e muita competitividade. "Insistir em exportar mel a granel como 95% das remessas brasileiras que seguem para o exterior significaria suar a camisa por muito pouco, ou melhor, nadar com grandes chances de morrer na praia", afirma Carlos Pamplona Rehder, 36 anos, diretor de exportação.
Em 2007, com um bom portfólio de produto acabado posicionados no mercado premium, somando sete variedades de mel considerados gourmet, a Novomel fechou seu primeiro lote de exportação. "No início, levávamos 35 dias para lotar um contêiner com 8 mil unidades. Hoje, em cinco dias, despachamos 20 mil unidades", observa. Os destinos? China, Emirados Árabes e Canadá para onde seguem 100 toneladas de mel silvestre, de laranja e açapeixe por ano, em embalagens de 500 gramas e sachês de 100 gramas. O mel gourmet é selecionado em cooperativas de apicultores do Paraná, São Paulo e Minas Gerais, que juntos somam 14 mil colmeias.
"As exportações de mel respondem por 10% do faturamento da empresa, que esse ano deve chegar a R$ 2 milhões", diz Rehder. "Só atingimos esse patamar porque apostamos no segmento premium, o que nos permitiu fornecer mel para o maior exportador do produto a granel do mundo, a China." A Novomel está presente em 75 supermercados chineses, 30 canadenses e em 5 de Dubai.
Das 9.871 empresas exportadoras, 5.789 não realizaram vendas externas durante o ano passado
A Novomel é uma das cerca de 1.200 micro e pequenas empresas nacionais que exportam para os cinco principais destinos dos produtos brasileiros no exterior, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), isto é, Estados Unidos, China, Argentina, Holanda (porta de entrada da União Europeia) e Alemanha. Grupo que ganha a companhia dos Emirados Árabes, Canadá, Japão e Nigéria quando levado em conta apenas as micro e pequenas empresas exportadoras apoiadas pela Apex.
De 1989 a 2010, o número de países que fazem parte dos destinos das exportações brasileiras saltou de 14 para 24, um crescimento de 71%. Os três principais destinos continuam sendo Estados Unidos, China e Argentina. Mas, embora os destinos tenham se ampliado, a participação, em valores exportados, das micro e pequenas empresas caiu. Dados do MIDC desse ano revelam que das 9.871 empresas exportadoras, 5.789 não exportaram em 2010, enquanto 5.273 novas empresas estrearam nesse mercado no ano passado. No saldo, 4.082 deram continuidade aos processos de exportação. "Esse fluxo de entrada e saída representou 68% nas MPEs enquanto nas grandes empresas foi de 16%", afirma Jaime Kochi, consultor do Sebrae-SP. "A conclusão é de que as micro e pequenas empresas são muito vulneráveis às instabilidades econômicas mundiais." Outros dados que justificam essas observações são os valores em dólar movimentados por esse grupo de empresas: US$ 3 bilhões em 2007, US$ 2,3 bilhões em 2008; US$ 1,3 bilhão em 2009 e US$ 1,9 bilhão em 2010.
Para Kochi, os motivos dessas instabilidades são vários, entre eles, a falta de cultura exportadora do empresário, dificuldade de divulgação dos produtos em virtude de ganho muito baixo e as ofertas de compra feitas por intermediários que prospectam os produtos no país. "Se você não tiver um produto muito diferenciado e não for bem competitivo dificilmente dará continuidade ao processo de exportação, mesmo correndo o risco de fechar portas abertas com sacrifício", diz Mervin Lowe Neto, sócio da P3D, desenvolvedora paulista de softwares educacionais com tecnologia 3D para o ensino fundamental e médio. "As remessas para o mercado externo representam apenas 20% dos negócios da empresa desde a crise econômica de 2008. No ano passado, as exportações renderam US$ 500 mil. Nossa meta era o dobro".
Neto admite, contudo, que os resultados com exportação são colhidos a longo prazo, depois de muita semente plantada. É com esse pensamento que a P3D investe na participação de feiras internacionais voltadas à área de educação. E foi por isso, também, que passou dois anos negociando com empresários chineses. Compensou. O primeiro lote de produtos embarca para aquele país em janeiro, no valor de US$ 300 mil.
Também atuando na área de tecnologia, a pernambucana D'Accord Music Software, especializada em softwares para ensino de música, driblou alguns percalços, como logística de entrega, distribuição e a própria burocracia de exportação, ao viabilizar a compra de seus produtos pela internet. Fundada em 2001, a empresa tem mais de 30.000 clientes usuários finais no exterior e mais de uma dezena de projetos sob-medida desenvolvidos, entre outros, para as matrizes da Nokia e da Mattel. "As exportações para 106 países respondem por 30% dos negócios e já chegou a 50% do faturamento, estimado em R$ 1 milhão esse ano. Esse mercado é assim, oscila, mas não dá para abrir mão", afirma o sócio Américo Amorim, que uma vez por ano visita clientes no exterior para conhecer suas demandas.
Fonte: Valor Econômico/Por Katia Simões | Para o Valor, de São Paulo
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