Acostumada a se posicionar sobre temas de política econômica quentes no noticiário, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) prepara o ingresso no debate e formulação de temas de longo prazo - e não necessariamente concentrados na questão industrial. A CNI lança amanhã o Observatório da Indústria, um "think tank" que contará com cerca de sete acadêmicos ligados à área de pesquisa econômica trabalhando em torno de temas que serão, depois, levados à seminários e, eventualmente, publicados em livros.
"A ideia é deixar as questões do dia para a equipe técnica da CNI, e buscar com esse grupo o debate influir sobre a política econômica mais ampla, que lida com os desafios de longo prazo, não com questões pontuais", diz Armando Monteiro, presidente da CNI. Monteiro, que deixa a CNI no fim do mês após oito anos de mandato, foi eleito senador pelo PTB de Pernambuco e afirmou ao Valor que o Observatório "deve formular uma agenda sobre o desenvolvimento".
Segundo Rafael Lucchesi, coordenador técnico da CNI, a ideia é "envolver a academia", procurando se desvencilhar dos estudos apenas com técnicos e economistas da área industrial. "O grupo vai gerar insumos para os agentes públicos e, para tanto, procuramos analistas com diferentes pensamentos para expandir o leque de propostas", disse. De acordo com Lucchesi, quatro nomes já estão confirmados: Samuel Pessôa, economista da FGV-RJ, Ricardo Paes de Barros, analista do Ipea, João Manoel Mello, da PUC-Rio, e André Portela, economista da FGV-SP. Para Portela, "trata-se de um enorme estímulo à produção intelectual", uma vez que há posições conflitantes sobre alguns temas. "Será um verdadeiro 'think tank'", afirma.
Pouco conhecidos no Brasil, os "think tanks" existem há mais de cem anos. O termo foi cunhado nos EUA, nas primeiras décadas do século XX, para definir as organizações que estudam e produzem análises e reflexões para influir no debate público a fim de moldar as definições políticas aos interesses da organização. Livremente traduzidos como "tanques de pensamento", o termo se disseminou nos EUA após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), quando "think tanks" à direita e à esquerda surgiram. Medidas tomadas pelo governo do presidente Ronald Reagan (1981-1988) em áreas diversas, como política cultural e limite de gastos do Estado, foram resultados de discussões feitas pela Fundação Heritage, o mais famoso "think tank" conservador dos EUA.
A Sociedade Fabiana, fundada em janeiro de 1884 em Londres, é tida como o primeiro "think tank" do mundo. Centro de discussões sobre a implementação do socialismo por meio de reformas - e não por revoluções, como queriam os marxistas- a Sociedade Fabiana era formada por intelectuais, como George Bernard Shaw, e escritores, como Ramsay MacDonald, que ocupavam destacado espaço no debate público.
A partir dos estudos e conversas realizados pelos encontros da Sociedade Fabiana os integrantes do "think tank" escreviam artigos, que eram publicados em jornais e informativos sindicais. Mais tarde, a Sociedade Fabiana ajudou a formar o Partido Trabalhista inglês, em 1900.
Em diversos países ricos, como EUA e Japão, os "think tanks" gozam de regimes tributários especiais por sua "contribuição ao interesse nacional de longo prazo".
Fonte: valor Econômico/João Villaverde | De São Paulo
PUBLICIDADE