A Confederação Nacional da Indústria (CNI) projeta desaceleração da economia no próximo ano, com a previsão da taxa de expansão do Produto Interno Bruto (PIB) passando de 7,6% em 2010 para 4,5% em 2011. Bem mais modesta também é a estimativa de crescimento do setor industrial, que passaria de uma alta de 10,9% neste ano para 4,5% no próximo ano.
As projeções foram apresentadas ontem pelo presidente da entidade, Robson Andrade. Durante balanço do ano, ele voltou a apontar o câmbio valorizado como principal problema do setor industrial que, em níveis cada vez maiores, disputa nichos do mercado interno com as importações.
O outro entrave aos negócios, frisou Andrade, é o uso exclusivo da taxa básica de juros pelo governo no controle da inflação. "A taxa de juros não pode ser a única âncora da estabilidade", criticou. Para a CNI, 2011 começa sob a égide da inflexão da política monetária como forma única de inibição do IPCA.
Nas projeções apresentadas, a entidade estima que a taxa Selic passará de 10,75% ao ano para 12% em 2011. Ao elevar a taxa em 1,25 ponto percentual, a CNI antevê um ciclo curto de recrudescimento da política monetária, sintetizada em altas decididas em três encontros do Comitê de Política Monetária (Copom).
O cerne dessa previsão está na interpretação da CNI sobre o governo Dilma Rousseff (PT). Para Andrade, a presidente eleita tende a não concentrar o controle da inflação na política monetária, reforçando a política fiscal por meio do corte de despesa pública. "O próximo governo tem uma visão desenvolvimentista. Acho que teremos a oportunidade de mudarmos um pouco as coisas", comentou ele ao se referir a uma eventual opção da próxima administração federal em não usar exclusivamente a calibragem da taxa Selic para monitorar a variação de preços.
Ainda assim, o economista da entidade, Flávio Castelo Branco, lembra que a possibilidade de um ciclo de alta de 1,25 ponto percentual na taxa de juros só será crível se o governo mudar a proposta orçamentária em tramitação no Legislativo e anunciar um efetivo programa de eliminação de despesas. "Com esse Orçamento que está no Congresso, não há chance de ciclo curto de alta na Selic", advertiu. A CNI também estima que a taxa média de juros passará de 9,90% para 11,84% ao ano em 2011.
Ao abordar a estabilidade, Robson Andrade informou que a CNI vai elaborar um estudo aprofundado sobre "mecanismos de preços" no país, como forma de qualificar o debate sobre inflação na interlocução com o governo.
Nesse estudo, a entidade pretende analisar a complexidade da indexação, os efeitos da memória inflacionária na variação dos preços e as recomposições das margens de lucratividade das empresas. Para a CNI, o IPCA chegará ao fim do próximo ano em 5%, acima do centro da meta de 4,5%.
Andrade lembra que no passado, a recomposição das margens de lucratividade era a forma usada pelas empresas para se capitalizar e compensar a inexistência da estabilidade monetária e uma economia desorganizada, na qual as projeções de crescimento não se confirmavam. "Hoje há um cenário que permite planejar negócios, embora haja algumas incertezas", afirmou.
A CNI não antevê soluções pontuais para o câmbio, que tende a seguir valorizado. A solução é, segundo o dirigente da entidade, o governo reforçar as medidas tributárias, estabelecendo quarentena para a permanência dos capitais de curto prazo no país e novos aumentos do IOF. Ele também defende a adoção de medidas de defesa comercial e barreiras técnicas não-tarifárias.
Fonte: Valor Econômico/Luciana Otoni | De Brasília
PUBLICIDADE