Descobrir como a coleta e reciclagem de lixo e resíduos pode se tornar um bom negócio tem mobilizado indústrias, comerciantes e recicladores. Iniciativas no formatos de startups e cooperativas ganham espaço nos processos de negociação de resíduos, presencial ou virtualmente, nas chamadas plataformas digitais. A inovação parece ser mesmo um caminho inevitável nos desafios da gestão de resíduos sólidos e do pós-consumo no Brasil, onde a Lei 12.305/10, da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), sancionada em 2011, oficializou a responsabilidade compartilhada para toda a cadeia de custódia.
Para criar um ambiente favorável à sustentabilidade em cadeias de valor, o Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getulio Vargas (GVCes) lançou em final de 2011 um projeto que aproxima pequenas e médias (PMEs) de grandes empresas. "A inovação é um veículo a serviço de práticas mais sustentáveis e o diálogo, a possibilidade de identificação de oportunidades de avanço nas relações que tradicionalmente operam pela lógicas de preço, qualidade e prazo", diz Paulo D. Branco, vice-coordenador do GVCes.
No quesito reúso, a água é o grande protagonista nesse novo filão de negócios. Divisão de água da multinacional francesa, a Veolia Water Solutions & Technologies é líder mundial na prestação de serviços relacionados ao tratamento desse recurso natural, além de efluentes líquidos. No Brasil, a empresa atua na divisão de soluções e tecnologias em todas as atividades relacionadas à gestão das águas, projetando, implantando e operando sistemas de tratamento de água e efluentes derivados dos mais diferentes tipos de atividades. Entre seus clientes estão multinacionais dos segmentos de alimentos, higiene e beleza e papel e celulose, que consomem muita água, assim como as mineradoras.
"A ideia é tentar reintroduzir ao máximo a água no ciclo de vida do produto", diz Ruddi de Souza, diretor da Veolia. Numa planta de celulose em Guaíba (RS), a empresa pretende atingir 40% de reaproveitamento e reúso da água com três unidades de tratamento. Os demais 60% serão devolvidos ao rio em melhores condições que na captação original. "Na média operamos uma rentabilidade de 5%, considerando os custos e taxas a serem pagas e, em termos de volume, movimentamos cerca de R$ 100 milhões em 2012, atendendo quatro empresas de petróleo, alimentos, e papel e celulose", diz.
De olho nessas oportunidades, há quem tenha até mudado de área profissional, como o publicitário paulista Vinícius Buso, 36, que há três anos se uniu ao pai na Recinert Ambientale, empresa que transforma resíduos gerados em obras de construção civil. A Recinert também faz a venda do material reciclado de demolição, negociando cerca de 50 mil metros cúbicos por ano.
"Em São Paulo, é recorrente a necessidade de demolição para novas construções, já que quase não há terrenos vazios. Aliado à escassez de espaços para novas construções soma-se a dificuldade dos deslocamentos na cidade, que levam em torno de 25, 30 quilômetros, o que torna a indústria de reciclagem pouco competitiva", diz Vinícius, que também é formado em administração de empresas e economia.
A vantagem do seu negócio é reciclar o material no local onde ele é gerado e reutilizá-lo no próprio canteiro de obras, a partir de uma unidade móvel, proporcionando uma economia significativa. As construtoras e as demolidoras, que até há pouco tempo tinham de pagar pelo envio do entulho para aterros sanitários oficiais ou clandestinos, agora têm a alternativa de manter o resíduo reciclado nos locais onde operam. Com a vigência da nova lei, a fiscalização deve ser intensificada. Além disso, as grandes construtoras têm buscado certificações que igualmente compartilham do rigor na verificação da correta destinação de resíduos.
Com receita prevista para 2013 da ordem de R$ 2,5 milhões, o sócio conta que em 2012, o resultado foi de R$ 1,5 milhão, quase o dobro do ano anterior.
Para mitigar os efeitos danosos do descarte inadequado de eletroeletrônicos, gerar renda aos seus cooperados, a Coopermiti trabalha para que o lixo eletrônico (e-lixo) gerado na sociedade seja recolhido, reciclado e descartado de forma ambientalmente correta.
Por ano, a média de coleta é de 25 toneladas, mas a capacidade para coletar e processar é de 100 toneladas por mês. A receita é rateada entre os 25 cooperados.
Fonte:Valor Econômico/Andréa de Lima | Para o Valor, de São Paulo
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