O minério de ferro termina 2014 como a pior commodity do ano. O preço caiu 50%, para o menor patamar desde 2009. Ontem, a tonelada matéria-prima do aço valia US$ 67,90, praticamente metade dos US$ 134,20 no último dia de 2013. O preço médio de 2014, que está pouco abaixo de US$ 100 por tonelada, é 26% inferior ao valor médio de 2013.
Dois fatores principais, um estrutural e um conjuntural, levaram o preço da commodity a despencar neste ano. O primeiro foi o grande aumento da capacidade de produção global, que levará o mercado a uma situação de excesso de oferta nos próximos anos.
Ao mesmo tempo, a conjuntura econômica não ajudou a impulsionar a demanda como se esperava no passado. Além da desaceleração da China - maior consumidor global de minério de ferro, com dois terços das importações globais -, a recuperação da Europa e dos Estados Unidos segue lenta, pelo menos nos setores que utilizam o aço e sua matéria-prima.
Esse cenário continua em 2015. A expectativa é de um adicional de quase 200 milhões de toneladas de minério de ferro ao mercado até o fim de 2016, considerando apenas novos projetos, que têm custos mais baixos de produção. A maioria do novo volume - cerca de 80% - sairá do Brasil e da Austrália, principalmente de operações das maiores mineradoras globais, como BHP Billiton, Rio Tinto, Fortescue Metals, Vale e Anglo American.
Com isso, as expectativas para os próximos anos são de preços médios na casa dos US$ 80 por tonelada, distantes dos US$ 100 por tonelada tão comuns de 2009 para cá. Uma das projeções mais pessimistas para o setor é a do analista Ivan Szpakowski, do Citi, de um preço médio de US$ 65 por tonelada em 2015 e 2016.
Por outro lado, também são esperados fechamentos de operações nos próximos anos. No entanto, os cortes serão bem menores do que os aumentos de produção. A capacidade das mineradoras de reduzir seus custos para conseguir sobreviver em um cenário de preços mais baixos será determinante para o futuro do mercado.
"A necessidade de incentivar fechamentos de minas e adiamentos em novos projetos será o principal mecanismo para determinar o preço do minério em 2015 e 2016", afirmam os analistas Christian Lelong e Amber Cai, do Goldman Sachs, em relatório publicado recentemente. O Morgan Stanley afirma que mais de 150 milhões de toneladas já foram cortadas do mercado até dezembro deste ano, cerca de 10% da produção global.
A maior parte dos fechamentos tem acontecido na China, embora também estejam sendo interrompidos projetos de pequeno porte no Brasil e na Austrália. Analistas estimam que em 2021 mais da metade da atual produção chinesa de minério de ferro estará gerando apenas prejuízos.
Para a demanda por minério de ferro, as expectativas são de leve crescimento de 3% no ano que vem. No primeiro trimestre de 2015, espera-se demanda fraca das siderúrgicas chinesas em decorrência, entre outros fatores, de restrições ao crédito no país.
Considerando aumentos e cortes de produção e a nova realidade do minério de ferro, o Morgan calcula um excesso de 184 milhões de toneladas da commodity no mercado em 2015. No ano seguinte, o superávit será de 255 milhões, segundo o banco. Os analistas Tom Price e Joel Crane estimam para 2015 preço médio de US$ 77 a tonelada. Para o período de 2016 a 2018, calculam US$ 75 a tonelada.
Mesmo com minério de ferro de boa qualidade - o que garante um prêmio sobre o valor de referência -, a Vale e outras mineradoras brasileiras estão sendo prejudicadas pela queda do preço da commodity. A Anglo American, que deu início neste ano à produção do complexo Minas-Rio, vem afirmando que está fazendo ajustes internos para reduzir custos, embora tenha uma margem de lucro com o preço atual.
Os resultados da balança comercial brasileira também já refletem o impacto da queda do preço do minério nas receitas do país com venda do produto ao exterior. Segundo maior item da pauta de exportações brasileira, atrás da soja, o minério produzido no Brasil é vendido principalmente para a China.
Nos primeiros nove meses de 2014, os embarques para o mercado chinês somaram aproximadamente US$ 11,2 bilhões, 21% menos do que no mesmo período de 2013. Essa forte queda aconteceu justamente por causa do recuo da cotação do minério, já que em volume foi verificado um aumento de 3%, para 158 milhões de toneladas, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC).
Fonte: Valor Econômico/Olivia Alonso | De São Paulo
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