As empresas de mineração estão entrando em um período de mudanças estruturais dentro de um contexto de preços mais fracos das commodities, do aumento de insumos como a energia elétrica e a desaceleração econômica da China. Esse realinhamento do setor depende de uma redução sustentável de custos, do aumento da produtividade e do retorno para o acionista, além da adoção de novas formas de inovação, entre outros itens. A análise faz parte do trabalho "As Tendências da mineração", elaborado pela Deloitte.
O estudo aponta dez questões a serem enfrentadas pelas empresas do setor em 2014. E será apresentado hoje, em evento fechado, em Belo Horizonte. É a sexta edição do estudo, que sugere que chegou a hora de as mineradoras mudarem a forma de fazer negócios, tarefa árdua para um setor não acostumado a mudanças radicais. O cerne do estudo é que as empresas terão que abraçar a inovação de forma mais agressiva, disse Eduardo Raffaini, sócio-líder da Deloitte no Brasil para a área de mineração.
As mineradoras vêm trabalhando forte na redução de custos, mas o fazem de forma "reativa", o que não é sustentável a longo prazo, segundo Raffaini. Um caminho é readaptar o modelo operacional com busca de maior eficiência via tecnologia (automação), racionalização da cadeia de fornecedores e adoção de projetos modulares. O executivo afirmou que existem soluções de tecnologia da informação (TI) que ajudam as empresas a tomar decisões. Uma delas é a Analytics, da própria Deloitte.
Raffaini disse que, em termos de inovação, é importante que a indústria de mineração procure referências em outros setores. Se a busca for por eficiência operacional, a referência pode ser o setor de manufatura. Se for olhar a gestão de risco, a mineradora pode se basear na indústria de óleo e gás. Em termos de cadeia de suprimentos, o exemplo pode vir do setor automotivo ou do segmento de bens de consumo. E no caso de TI, o exemplo vem do mercado financeiro.
Segundo Raffaini, as tendências identificadas no estudo da Deloitte não têm variado muito nos últimos seis anos, mas estão se intensificando de forma estrutural. Os desafios incluem a exploração de depósitos com teores mais baixos de minério, a exploração de jazidas mais distantes e de difícil acesso e pressões sociais e ambientais cada vez maiores. O uso intensivo de pessoas, água, energia e capital são pressões que pesam sobre o setor.
A relação entre oferta e demanda de commodities minerais é analisada no estudo. Com base em projeções de mercado, a Deloitte registra no estudo a existência de oscilações no mercado transoceânico de minério de ferro. A médio prazo, entre 2015 e 2018, a entrada de novos projetos deve produzir excedentes de oferta em relação à demanda, o que tende a exercer pressão adicional sobre os preços. Mas a longo prazo a Deloitte acredita que três fatores devem equilibrar a relação entre oferta e demanda no minério de ferro. O crescimento econômico dos Estados Unidos, a expansão da urbanização na China e o bom desempenho de países do Sudeste asiático como Malásia, Filipinas e Indonésia.
No carvão, o estudo mostra que a queda nos preços de gás natural nos Estados Unidos deslocou, em 2012, os volumes de carvão térmico na geração de energia interna. Como resultado, os produtores americanos de carvão estão empurrando volumes para os mercados de exportação, contribuindo para elevar os excedentes no mercado global de carvão térmico transportado por mar.
O trabalho dedica também um capítulo ao tema financiamento. Mostra que fundos soberanos da Ásia e do Oriente Médio e fundos de private equity tendem a se tornar novas fontes de crédito para a indústria de mineração global, em especial para as pequenas empresas, as chamadas "juniors companies". "Financiamentos vindos de países como Catar, Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita podem não estar longe", afirma o trabalho da Deloitte. O estudo diz que, de acordo com a Preqin, firma que estuda o segmento de private equity, oito fundos de mineração levantaram US$ 8,5 bilhões só em 2012. "Embora as empresas de private equity normalmente se afastem do setor de mineração, o interesse pode aumentar conforme as avaliações caírem e a concorrência entre as grandes empresas de mineração diminuir." Os fundos de pensão podem ser outra fonte. "O setor poderia angariar mais interesse a partir deste trimestre à medida que os fundos de pensão passem a olhar os ativos de mineração como um potencial hedge contra a inflação", diz trecho do estudo.
O baixo retorno aos acionistas nos últimos anos fez com que as empresas de mineração caíssem em "desgraça" entre os investidores. "Com as taxas internas de retorno não mais sustentáveis, o setor registrou números recordes de amortizações e depreciações." Pela primeira vez em dez anos, a Bolsa de Valores de Toronto não teve ofertas públicas inicias de ações de mineração em todo o primeiro trimestre de 2013 e o financiamento na Bolsa da Austrália caiu vertiginosamente, diz o estudo.
Fonte:Valor Econômico/Francisco Góes | Do Rio
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