Não será vendendo as sondas contratadas pela Sete Brasil no estado atual - nem mesmo daquelas com obras físicas mais adiantadas - que os principais bancos do país vão minimizar as perdas que tiveram com empréstimos à companhia, criada por inspiração da Petrobras.
Contabilizada uma eventual recuperação dos R$ 484 milhões que a Sete informou em seu balanço sobre quanto as sondas poderiam valer se fossem vendidas hoje, além da recuperação de garantia oferecida pelo Fundo de Garantia para a Construção Naval (FGCN), a perda de Banco do Brasil, Bradesco, Itaú, Santander e Caixa com crédito à empresa pode ser estimada em cerca de R$ 10 bilhões.
PUBLICIDADE
Após impostos, o efeito negativo na última linha do balanço ficaria em R$ 5,5 bilhões.
Outro grande credor é o FI-FGTS, que sai da operação com perda bruta aproximada de R$ 2 bilhões apenas com os empréstimos, sem contar o capital perdido na condição de sócio.
Havia certa dúvida no mercado nos últimos trimestres sobre como os bancos vinham contabilizando as provisões referentes aos empréstimos feitos à Sete.
A leitura era de que algumas instituições já tinham baixado 100% do valor restante a receber - após a execução da garantia contratada com o FGCN, enquanto outros bancos ainda estariam mantendo os créditos com provisão de 70% do valor.
Uma possível explicação para a diferença seria o fato de que a maior parte dos empréstimos tomados pela Sete foi contratada no nível das sondas, num subtotal de R$ 12,68 bilhões em valores de dezembro de 2015, e não pela holding, que tinha recebido outros R$ 4,74 bilhões. Como a maior parte dos empréstimos é referenciada em dólar, cabe notar que a taxa de câmbio na virada do ano estava em R$ 3,90.
Como algumas sondas tem obras físicas mais avançadas do que outras e, portanto, mais chance de ficar prontas, alguns bancos poderiam se ver mais protegidos do que outros.
A partir de dados do balanço de 2015 da Sete, publicado na sexta, o Valor estimou a exposição de cada uma dessas instituições, bem como o efeito sobre elas, ao se considerar o acionamento da garantia do FGCN, que assumiu, em fevereiro, R$ 3,89 bilhões do prejuízo de parte dos empréstimos (além da perda que já havia registrado em 2014 em crédito coordenado pelo Standard Chartered) e também o potencial de R$ 484 milhões a ser recuperado pela venda das sondas que começaram a ser construídas.
Após os dois efeitos, restariam R$ 12,61 bilhões a receber por agentes financeiros, sendo quase tudo devido a BB (R$ 3,49 bilhões), FI-FGTS (R$ 2,09 bilhões), Itaú (R$ 1,89 bilhão), Bradesco (R$ 1,6 bilhão), Santander (R$ 1,6 bilhão) e Caixa (R$ 1,73 bilhão).
Não é possível saber se todo o valor já foi provisionado.
Ao fazer a estimativa de recuperação dos valores, a consultoria contratada pela Sete tomou como base a venda das seis sondas mais avançadas (com mais de 50% de avanço físico) nas condições atuais, bem como a alienação de equipamentos e de sucata de oito unidades cujo estado de produção está entre 5% e 50% do total. As duas que estão mais de 80% construídas, chamadas de Urca e Arpoador, foram avaliadas em R$ 89,8 milhões e R$ 85,9 milhões, respectivamente.
As quinze sondas cujo avanço físico está abaixo de 5% tiveram valor recuperável estimado em zero.
Fonte: Valor Economico/Fernando Torres | De São Paulo