Após garantir a contratação de R$ 1,4 bilhão em conteúdo local, até março de 2014, por meio da expansão da CPMC Celulose Riograndense, entidades do Estado estão de olho em novos investidores. O projeto da planta de Guaíba ainda deve render mais R$ 200 milhões até o final do ano para a indústria gaúcha, mas o Desenvolve RS, grupo composto por entidades associativas e sindicatos, pretende avançar em outras frentes de negociação: com a produtora chinesa de caminhões Foton Aumark; e com a Braskem, que participa do processo de implantação de uma fábrica de borracha sintética da polonesa Synthos, em Triunfo.
“Estamos falando em 37,4% dos R$ 5 bilhões investidos pela Celulose Riograndense. Trata-se, sim, de um case de sucesso. E o know-how adquirido nesse trabalho precisa ser transferido para outros projetos”, afirma o vice-presidente regional da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Hernane Cauduro. Além disso, Cauduro ressalta a intenção de estreitar o diálogo com o governo estadual e, inclusive, buscar parcerias em contas governamentais. “Estamos negociando para que, sempre que um investidor mostrar interesse no Rio Grande do Sul, possamos, no mínimo, mostrar nossos potenciais fornecedores”, explica.
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A Foton Aumark do Brasil, representante nacional para caminhões leves, médios e pesados da fabricante chinesa Beiqi Foton Motor, investirá R$ 60 milhões na planta a ser instalada em Guaíba. O projeto deve sair do papel em abril e ficar pronto no segundo semestre de 2015. Em reunião realizada, na última semana, na Federasul, o CEO da empresa, Luiz Carlos Mendonça de Barros, acenou positivamente com a possibilidade de utilizar mão de obra e máquinas gaúchas. “Estamos trazendo uma fábrica que vai utilizar insumos gerados no Rio Grande do Sul. Serão 300 empregos diretos e mais de 1,2 mil indiretos que movimentarão uma cadeia de negócios”, garantiu Mendonça.
O comunicado realizado no final de março, em que a fabricante polonesa de borrachas especiais Synthos anunciou seus planos de instalar uma indústria no polo petroquímico de Triunfo, chamou a atenção do Desenvolve RS. O projeto foi confirmado pela Braskem, responsável pelo fornecimento de matéria-prima, e sua unidade de butadieno, inaugurada em 2010, irá vender 80 mil toneladas por ano a partir de 2017. Os valores envolvidos não foram divulgados. “Considerando a crescente demanda por borracha sintética no Brasil e em outros países da América do Sul, não temos como objetivo substituir a produção local, mas tentar substituir importações na região”, disse o presidente-executivo da Synthos, Tomasz Kalwat, em comunicado à imprensa.
“Já conversamos com a Foton e eles sinalizaram positivamente. Queremos criar uma agenda com cronograma de ações, apresentando necessidades e os recursos disponíveis para trabalhar com conteúdo local nessa fábrica de caminhões. Podemos fornecer máquinas e equipamentos, além de implementos para linha de montagem, parte elétrica, automação, entre outros”, disse Cauduro. No mesmo sentido, o Desenvolve RS quer se aproximar do projeto da fábrica de borrachas: “Estamos iniciando as conversas com a Braskem”, resumiu o dirigente da Abimaq.
Para o presidente da Fiergs, Heitor José Müller, as ações em prol da contratação de recursos gaúchos são positivas, pois estão inseridas em dois contextos básicos: a necessidade de reindustrialização e a retomada da competitividade da indústria frente aos produtos importados. “Estamos fechados com as ideias desenvolvidas por entidades como a Abinee e Abimaq e temos muito interesse que essas questões evoluam. Precisamos de uma agenda de impacto para favorecer a reindustrialização como fator de alavancagem do desenvolvimento brasileiro, em especial do gaúcho”, afirmou.
Cauduro garante que a indústria gaúcha tem potencial para atender às novas demandas. “Se tivéssemos participado do processo da Celulose Riograndense desde o início, quando foram definidos os conceito desse processo - os fornecedores, os equipamentos e que tipo de tecnologia seriam utilizados – poderíamos estar contribuindo com até 50% do conteúdo local”, exemplificou. Nesse sentido, o Desenvolve RS trabalha, também, na qualificação das empresas para satisfazer as exigências dos investidores. “Estamos articulados para nos aproximarmos de potenciais contratantes que venham se instalar aqui. Por isso, desenvolvemos sistemas para identificar oportunidades, homologar e, quando necessário, capacitar fornecedores”, destacou.
Falta de competitividade é um desafio
Preocupada com a falta de competitividade, a Fiergs defende a tomada de medidas que protejam e auxiliem a indústria gaúcha. “Em 2003, a balança comercial brasileira de manufaturados teve um superávit de U$ 9 bilhões. Dez anos depois, no ano passado, fechamos com déficit de U$ 105 bilhões. O comércio cresceu 110%, mas a partir da venda de produtos importados, pois a indústria praticamente estagnou nesse período”, lamenta o presidente da Fiergs, Heitor José Müller.
Além de ações que favoreçam a contratação de conteúdo local por novos investidores, Müller reclama por mudanças na carga tributária. “Hoje, os impostos fazem com que nossos produtos cheguem 35% mais caros no mercado em comparação com os importados. Isso cria um entrave para o produto nacional tanto no mercado interno quanto para exportação.” Melhorias na infraestrutura também estão na pauta da Fiergs. “Precisamos melhorar nossa infraestrutura, principalmente de transportes. Nosso custo com logística é de até 18%. Nos Estados Unidos, nem chega a 8%, por exemplo. É muita diferença para conseguirmos concorrer”, afirma Müller.
Para a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), a retomada do setor passa pela exigência de contrapartidas das empresas que receberem incentivos para se instalarem no Rio Grande do Sul. “Realizamos um estudo para ver quanto representa na cadeia local de máquinas e equipamentos o impacto de um investimento dentro do Estado. Cada real investido pode se multiplicar por 2,1. Ou seja, se os R$ 1,4 bilhão da Celulose Riograndense fossem revertidos em máquinas compradas da indústria local, geraríamos R$ 3 bilhões em riqueza”, conta o vice-presidente regional da Abimaq, Hernane Cauduro.
Fonte: Jornal do Commercio (POA)