A contratação de mão de obra para uma nova siderúrgica, instalada em Santa Cruz, no Rio, é o pivô do atrito sem precedentes que envolve o empresário Benjamin Steinbruch, principal acionista da Cia. Siderúrgica Nacional (CSN), a ThyssenKrupp CSA Cia. Siderúrgica do Atlântico - dona da nova usina - e o Instituto Aço Brasil (IABr). A entidade reúne os fabricantes de aço no país, entre os quais Gerdau, Usiminas, ArcelorMittal e a própria CSN.
O caso veio à tona recentemente, logo depois de o IABr aprovar, em junho, a entrada da CSA no seu quadro de sócios com direito a voto nas decisões estratégicas. Isso foi feito sem a aprovação da CSN, cujo representante deixou a reunião sequer sem votar, em protesto, porque Steinbruch era contrário à filiação da CSA naquele momento. Até então, a postulante era apenas afiliada, sem poder participar e votar nas reuniões do conselho diretor.
"Estava acertado [no IABr] que a CSA só se tornaria sócia quando ela começasse a produzir aço e, naquele momento, a empresa ainda não estava nem operando seu alto-forno", afirmou Steinbruch ao Valor. Poucas semanas antes, a empresa tinha sido inaugurada com a presença do presidente da República. "Mas essa não é a principal nem a única questão do meu protesto", acrescentou o empresário. "Eles retiraram 200 engenheiros e técnicos da CSN de forma antiética, sem nenhum respeito, oferecendo salários absurdos", afirmou.
Tais fatos ocorreram a partir de 2008, quando a CSA começava a preparar seu quadro de funcionários para operar a usina, uma gigantesca fábrica desenhada para produzir 5 milhões de toneladas por ano e precisaria de muita gente. Previa entrar em operação em abril de 2009, mas sua construção atrasou mais de um ano. E a contratação de mão de obra no setor, na época, conforme reportagem do Valor em abril de 2008, gerou uma disputa entre as siderúrgicas do país, com "roubo" de empregados de várias empresas. A CSN alega que no total perdeu 400 funcionários para a CSA.
"Não era uma forma apropriada a que a CSA estava fazendo para quem estava vindo de fora", afirmou Steinbruch. "Não podemos aceitar que um estrangeiro venha competir em nosso mercado comportando-se de maneira tão agressiva e hostil", acrescentou.
Conforme informações obtidas pelo Valor, a CSN levou à direção do IABr (na época ainda com a sigla IBS) várias reclamações sobre o comportamento da CSA para recrutar pessoal, o que qualificava de agressivo e acintoso. A entidade, presidida até abril de 2008 por Rinaldo Campos Soares (da Usiminas) e até abril deste ano por Flávio Azevedo (da Vallourec) acatou os pleitos de Steinbruch, que chegou a participar de uma reunião na sede da entidade, no Rio.
O IBS enviou cartas à direção da subsidiária da ThyssenKrupp no Brasil, que era comandada por Aristides Corberllini, e até ao comando do grupo na Alemanha. Os documentos repudiavam os procedimentos adotados pela CSA e recomendava que eles fossem modificados, conforme um relato feito ao Valor.
Com a aprovação da CSA ao conselho diretor do IABr em junho, a CSN adotou uma "retirada temporária" da entidade e não tem previsão de voltar a participar das suas reuniões. No momento, segundo apurou o Valor, empresários do setor foram escalados para ter um encontro com Steinbruch e convencê-lo a voltar atrás em sua decisão de abandonar o IABr. "O que buscamos é pôr panos quentes nesse episódio", informou uma fonte. E acrescentou: "Não é nada bom ter a CSN fora da entidade, assim como não é salutar impedir que um novo 'player', que investiu no país US$ 8 bilhões, seja impedido de participar do IABr".
Steinbruch mostra-se, por enquanto, irredutível e afirma não ter sido procurado por ninguém do IABr. Procurada para falar sobre o assunto, a entidade informou que não iria se pronunciar porque tratava-se de uma questão interna e que dizia respeito aos dois sócios. A preocupação das lideranças do setor é pôr um ponto final nessa questão e manter um clima de unidade entre seus pares para atuarem em conjunto nos seus pleitos.
O empresário relembra que a CSA alugava ônibus e os postava na frente da usina da CSN em Volta Redonda. Com megafones em punho convidava os funcionários e oferecia transporte para que conhecessem a fábrica da ThyssenKrupp no Rio. "Eles ficavam dentro de hotéis enviando e-mails e incitando nossos empregados", diz Steinbruch. Segundo ele, a CSN poderia ter treinado pessoal para a CSA, assim como fez Gerdau. "Não precisava dessa atitude agressiva".
Em nota, a ThyssenKrupp CSA informou que "nega veementemente todas as acusações e informa que 70% de sua mão de obra foi treinada pela própria empresa - parte nas siderúrgicas da ThyssenKrupp na Alemanha e parte no Brasil - tendo atualmente mais de 102 mil candidatos inscritos em seu website de recrutamento, disponível desde 2006. Esclarece também que seu programa de recrutamento foi conduzido de forma ética e com respeito às regras convencionais de mercado."
Fonte: Valor Econômico/ Ivo Ribeiro, de São Paulo
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