A demanda mundial de produtos siderúrgicos em 2020 terá uma contração de 6,4% ante o ano passado, informou hoje a World Steel Association (Worldsteel) ao divulgar seu relatório de previsão (Short Range Outlook-SRO) para este e o próximo ano.
De acordo com a entidade empresarial, o volume previsto de consumo de aço para 2020, devido aos impactos da covid-19, será de 1,65 bilhão de toneladas.
Tradicionalmente, o SRO é publicado nos meses de abril e outubro. No entanto, em razão da pandemia, a Worldsteel decidiu prorrogar o relatório de abril para o início de junho.
Para 2021, a previsão é que a demanda por aço nas economias mundiais deverá mostrar recuperação, para 1,72 bilhão de toneladas. Esse número representa aumento de 3,8% em comparação ao volume esperado para este ano, conforme as estimativas da entidade.
A redução deste ano na demanda global por material siderúrgico, conforme a Worldsteel, será mitigada por uma recuperação mais rápida esperada na China em comparação ao restante do mundo.
A previsão pressupõe que as medidas de bloqueio da maioria dos países continuem sendo atenuadas durante junho e julho, com os controles sociais de distanciamento permanecendo em vigor, e que as principais economias produtoras de aço não sofram ondas secundárias substanciais da pandemia.
Al Remeithi, presidente do Comitê de Economia da Worldsteel, afirmou no comunicado que a crise da covid-19, com suas conseqüências desastrosas para a saúde pública, também representa uma enorme crise para a economia mundial.
“Nossos clientes foram atingidos por um congelamento geral no consumo, por paradas e por interrupções nas cadeias de suprimentos. Portanto, esperamos que a demanda por aço diminua significativamente na maioria dos países, especialmente durante o segundo trimestre.”
Com o alívio das restrições iniciado em maio, esperamos que a situação melhore gradualmente, mas o caminho da recuperação será lento, comentou Remeithi.
Ele destacou, no entanto, ser possível que o declínio na demanda de aço na maioria dos países seja menos severo do que durante a crise financeira global [2008/2009], uma vez que os setores relacionados ao consumo e serviços, que foram os mais atingidos, são menos intensivos em aço.
“Em muitas economias desenvolvidas, a demanda por aço já estava em um nível baixo, ainda não tendo se recuperado totalmente de 2008”, afirmou. Porém, executivo ressaltou que a previsão é apresentada em um momento de alta incerteza.
“Como as economias estão reabrindo sem uma vacina ou cura, existem riscos negativos significativos. Se o vírus puder ser contido sem o segundo e o terceiro picos, e se as medidas de estímulo do governo continuarem, poderemos ver uma recuperação relativamente rápida.”
O SRO aponta que, como a maioria dos países vem reabrindo gradualmente de seus bloqueios desde meados de maio, a recuperação das atividades econômicas é esperada no terceiro trimestre.
Embora todos os setores consumidores de aço sejam afetados pelas medidas de bloqueio, os setores de máquinas mecânicas e automotivos estão altamente expostos a um choque de demanda prolongado, bem como a interrupções nas cadeias de suprimentos globais.
A força da China
Como maior produtor (53%) e consumidor (quase 50%) mundial de aço, a China está saindo do bloqueio à frente de outros países. Sua recuperação econômica começou no final de fevereiro, com a economia se aproximando rapidamente da normalização, com exceção nos setores de hospitalidade e turismo, diz o SRO.
O profundo congelamento da atividade econômica em fevereiro resultou em uma queda de 6,8% no PIB e 16,1% no investimento em ativos fixos no primeiro trimestre. A produção industrial caiu 8,4%, com o setor automotivo apresentando a pior queda de 44,6% no primeiro trimestre.
No final de abril, todos os principais setores consumidores de aço voltaram à produtividade quase total, embora a operação completa do setor manufatureiro seja prejudicada pelo colapso da demanda de exportação. Após o levantamento do bloqueio em Wuhan, em 8 de abril, o setor de construção já atingiu 100% de produtividade.
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A recuperação da demanda por aço será mais visível no segundo semestre de 2020. Ela será impulsionada pela construção, principalmente pelo investimento em infraestrutura, pois o governo apresentou várias novas iniciativas para o segmento.
Já a recuperação da indústria manufatureira será mais lenta devido a uma recessão grave na economia global. A indústria automotiva deverá recebera apoio de medidas de incentivo do governo.
Esperamos que a demanda chinesa de aço aumente 1% em 2020 (para 916,5 milhões de toneladas). Também esperamos que o benefício dos projetos de infraestrutura iniciados em 2020 continue e suporte a demanda de aço em 2021, informa a Worldsteel.
Não se espera um programa de estímulo substancial, visto em 2009, pois isso pode funcionar contra o desejo do governo de continuar a reequilibrar a economia, destaca o relatório.
“No entanto, se o ambiente econômico global afetar mais profundamente a recuperação da economia chinesa, o governo poderá precisar dar um novo impulso à economia, implicando um risco ascendente para a demanda de aço.”
Economias desenvolvidas
A demanda por aço nas economias desenvolvidas – União Europeia, Estados Unidos, Japão e Coreia do Sul – deverá diminuir em 17,1% neste ano, informa o relatório da Worldsteel.
Embora a desaceleração seja liderada pelos setores de consumo e serviços, deslocamentos maciços nos gastos, mercados de trabalho e confiança estão alimentando declínios amplos nos setores de uso de aço. A repercussão de perdas substanciais de empregos e falências, confiança fraca e medidas contínuas de distanciamento social sugerem apenas uma recuperação parcial de 7,8% em 2021, diz o SRO.
As economias em desenvolvimento – exceto a China – estão menos bem equipadas para enfrentar a pandemia da covid-19 do que as economias desenvolvidas, com capacidade inadequada de saúde, levando a medidas mais rígidas de bloqueio em alguns países.
O SRO aponta Índia, outros países da Ásia, América Latina (que é particularmente vunerável por causa de problemas políticos e dependência de altos preços das commodities), Rússia, Ucrânia e nações do Norte da África e Oriente Médio.
“O espaço fiscal limitado para apoiar a economia, a queda nos preços das commodities, a fuga de capitais e a depreciação da moeda tornam o declínio da demanda de aço em alguns países em desenvolvimento tão grave quanto o das economias desenvolvidas.
A demanda nessas economias, sem considerar a China, deverá cair 11,6% em 2020, mas haverá uma recuperação substancial de 9,2% em 2021.
Fonte: Valor