Uma das principais preocupações manifestadas por economistas durante o 22º Congresso Brasileiro de Economia, realizado em Belo Horizonte, na semana passada, está ligada à venda de ativos brasileiros para grupos estrangeiros. Para eles, setores estratégicos da economia devem ser controlados por empresas nacionais, sejam públicas ou privadas.
O crescimento do Brasil no longo prazo, de forma sustentável e inclusiva, vai depender da formação de um parque industrial robusto, na opinião de Júlio Miragaya, presidente do Conselho Federal de Economia (Cofecon), entidade que organiza o evento. "Uma das premissas de uma nação efetivamente independente e soberana é o controle nacional sobre certos setores estratégicos da economia. É preocupante o processo de desnacionalização da nossa economia. Capitais externos estão assumindo o controle de boa parte dos recursos naturais do País e avançam de forma acelerada sobre a indústria do petróleo, do gás e da energia elétrica."
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O problema, segundo Miragaya, é que essas grandes corporações estrangeiras mantêm suas áreas de pesquisa, tecnologia e desenvolvimento nos países onde estão suas matrizes. Ele cita a indústria de fertilizantes, que seria fundamental para a economia brasileira gerar emprego e renda, mas infelizmente o País é hoje um grande importador.
Exemplos de proteção à indústria nacional são muito comuns em todo o mundo. Em abril, o governo dos Estados Unidos anunciou a possibilidade de criar taxas para importação do aço, de forma a fortalecer as empresas do setor sediadas em seu território. Há alguns anos, a China vetou que a Coca-Cola comprasse a Huiyuan, maior fabricante de sucos no País.
Na visão de Antonio Correia Lacerda, doutor pelo Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), o potencial da economia brasileira é subaproveitado pela ausência total de uma política industrial sólida. "O Brasil é dos poucos Países do mundo que não precisam escolher entre ser bom no complexo agromineral, na indústria ou nos serviços. Temos economia de Estado, condições climáticas e território vasto para atuarmos em vários setores. Isso não é pra quem quer, é pra quem pode. E só quatro ou cinco países no mundo têm essa possibilidade", disse Lacerda, após receber o prêmio Personalidade Econômica do Ano de 2016, na abertura do congresso.
Ele destacou que a agricultura brasileira, um dos setores produtivos de sucesso no País, não se desenvolveu baseada apenas na eficiência microeconômica dos agricultores. "Houve uma política de Estado. O papel da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), por exemplo, foi fundamental. E isso foi feito com investimento público, com políticas públicas. Foi ela quem desenvolveu a soja no Cerrado, que foi a grande revolução que tivemos na agricultura, e que depois teve grande impacto também na pecuária."
Para ele, a indústria nacional precisa ser alavancada e, para ter um crescimento sustentável, o Brasil precisa de investimentos. "O argumento principal para o ajuste é o de que o Estado deveria funcionar como o orçamento familiar ou como uma empresa. E nós sabemos que isso não é possível. É justamente na crise que o Estado precisa investir, fomentar oportunidades. Não é qualquer gasto, mas é o gasto que tem efeito multiplicador. E também tem efeito demonstrador, porque estimula outros agentes a também aplicarem recursos no País. O ajuste pelo ajuste não se sustenta. A prática de juros elevados e o corte sucessivo de investimentos levam a mais recessão."
A possível privatização da Eletrobras preocupa Nelson José Hubner Moreira, presidente do conselho de administração da Light. Para ele, a estatal brasileira exerce um poder indutor da economia nacional. No mês passado, o governo federal informou que pretende reduzir a participação da União no capital da Eletrobras, com sua consequente democratização na Bolsa de Valores, a exemplo do que já foi feito com a Embraer e a Vale. A medida teria como objetivo dar mais competitividade e agilidade à empresa para gerir suas operações.
Fonte: JCRS