Olhando de maneira global o que aconteceu na economia brasileira desde que o Valor foi criado, tivemos como principais aspectos a estabilização econômica brasileira, o boom de commodities, que levou a um salto na economia brasileira, e, recentemente, a reversão desse processo, com o fim do boom e o esgotamento do modelo conforme ele foi praticado nos últimos anos. Foi um período extremamente interessante, com muitas situações desafiadoras para quem gere negócios no Brasil.
Especificamente no setor de celulose e papel, o fato mais relevante desses 15 anos foi a emergência do Brasil no mercado mundial de celulose de fibra curta. As exportações brasileiras de celulose, de 2000 a 2014, evoluíram de 2,9 milhões de toneladas para 10,6 milhões de toneladas. A aceitação que a celulose de fibra curta tem em todos os mercados mundiais foi uma conquista da indústria brasileira.
O segundo aspecto que gostaria de mencionar, e aí me valendo da história da Klabin, é o do mercado de papéis para embalagem, que nesse mesmo período também cresceu de maneira importante, na base de 3% ao ano, o que representou um enorme desenvolvimento desse mercado doméstico. No começo da década ou mesmo na década anterior, as margens com que operava a indústria de papel e celulose eram muito elevadas, consequentemente o 'mindset' dos gestores era principalmente garantir que a produção acontecesse, porque uma vez que você conseguisse produzir com qualidade, você auferia preços e margens muito elevadas.
O que aconteceu durante esse período, especialmente por conta do fortalecimento do real, é que as margens foram se estreitando sobremaneira, o que trouxe a questão de produtividade e eficiência para cima da mesa de uma maneira muito importante. As principais dificuldades que a indústria de celulose e papel enfrenta estão relacionadas à infraestrutura brasileira, que notoriamente tem recebido poucos investimentos, tem ficado para trás. O segundo ponto é a dança do câmbio, porque sem dúvida a volatilidade da moeda brasileira também não ajuda. Um real mais desvalorizado é bom para as exportações, mas a gangorra torna a vida muito difícil. Um pouco mais de previsibilidade ajudaria muito. Fosse como fosse, a moeda ficasse onde ficasse, mas de maneira previsível, aumentaria muito a nossa capacidade de trabalhar.
Nesse momento, a receita normal e previsível, que não só a Klabin como as outras empresas do setor devem estar usando, é a de recorrer mais às exportações. O setor de papel e celulose é um dos poucos onde o Brasil é naturalmente competitivo em nível global. Sobre o futuro, a variável do câmbio é imprevisível. No entanto, se falarmos apenas em curto e médio prazos, é possível apostar que câmbio continuará desvalorizado e, para quem tiver capacidade de exportar, esse será o caminho natural.
A Klabin, em especial, tem uma fábrica nova, com início de operação em março do ano que vem, o maior investimento de sua história. Existe uma feliz coincidência de ter uma fábrica exportadora num momento em que exportar se torna bom especialmente pelo efeito câmbio".
Fonte: Valor Econômico/Fabio Schvartsman
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