A presidente Dilma Rousseff anunciou ontem, em café da manhã anual com jornalistas, que divulgará a nova equipe de governo até o dia 29, mas os cargos do segundo escalão ficam para depois da posse. Dilma confirmou que manterá a atual diretoria da Petrobras e revelou que poderá consultar a Procuradoria-Geral da República sobre eventual implicação de nomes cotados para o ministério no esquema de corrupção da Petrobras. A presidente classificou como um "chute" a afirmação de que o ajuste fiscal para o próximo ano contabilizará R$ 100 bilhões.
"Eu pretendo ter quase todos os ministros indicados [até o fim do ano], e posso fazer em duas levas ou pode ser de uma vez só", disse a presidente. Dilma ressalvou que os anúncios dos novos presidentes dos bancos públicos (Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e BNDES) ficam para depois da posse. "Eu preciso do ministro empossado para o novo escalão ser feito", justificou.
Dilma confirmou que também vai alterar os conselhos de administração das empresas públicas, inclusive o conselho da Petrobras. A presidente fez essa afirmação ao confirmar que não vai modificar a atual diretoria da Petrobras. "Não pretendo [alterar a diretoria da estatal de petróleo], mas alterarei o conselho de administração", afirmou.
Dilma voltou a defender a atuação dos bancos públicos e confirmou que vai abrir o capital da Caixa Econômica Federal, ressalvando que "é um processo que demora". A presidente cobrou maior participação dos bancos privados no financiamento empresarial. "É fundamental que não seja só missão dos bancos públicos empréstimos de longo prazo", afirmou.
Questionada sobre a indicação de nomes citados na Operação Lava-Jato da Polícia Federal - que investiga o esquema de corrupção na Petrobras - para a formação do novo ministério, Dilma revelou que vai consultar o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, sobre eventuais impedimentos ao ministeriável.
"Eu vou perguntar o seguinte: há alguma coisa contra fulano que me impeça de nomeá-lo?", relatou, sobre a consulta a Janot. A presidente foi questionada se deixaria de fora da reforma algum dos nomes que aparecem na relação de 28 políticos citados na delação premiada do ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa. O presidente da Câmara, Henrique Alves (RN), indicado pelo PMDB para um assento na Esplanada, aparece nessa relação. Ela destacou que só quem "forma prova, indício ou qualquer coisa que tenha efeito real" é o Ministério Público.
Na conversa de uma hora e meia com os repórteres que fazem a cobertura do Palácio do Planalto, Dilma negou que fará um ajuste fiscal de R$ 100 bilhões para cumprir, no próximo ano, uma meta de superávit primário de 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB).
"Eu fui apresentada a este número pela imprensa, este número não foi discutido com a presidente", disse Dilma. "Estes 100 bilhões é um chute, ninguém fez essa conta", reforçou. Ela não quis adiantar, contudo, o tamanho do ajuste ou qualquer medida em estudo pela nova equipe econômica.
A primeira parte da conversa foi integralmente dedicada ao escândalo de corrupção na Petrobras e os reflexos na autoridade de Graça Foster para prosseguir na presidência da estatal. Dilma fez uma defesa enfática da executiva, nomeada por ela para o cargo, e cobrou provas que justifiquem seu afastamento.
"A quem interessa tirar a Graça, por quê? O que tem por trás disso?", questionou a presidente. "Eu conheço a Graça, sei da seriedade da Graça, sei da lisura da Graça", relatou. "Ela assumiu, mudou toda a diretoria e abriu todas as investigações que estão em curso. É muito difícil quando existe a prática de condenar sem dar espaço para a defesa, sem perguntar pelas provas. É fácil criar uma situação de autoconstrangimento", criticou.
A presidente se revelou contrária a nomear um executivo para o lugar de Graça. "Dizem que eu teria de procurar um nome de mercado (para substituir Graça), ora, a Petrobras não é uma empresa simples, trivial", disse. Segundo Dilma, substituir Graça agora significaria "interromper a marcha das investigações ou descontinuar o choque de governança necessário".
Dilma confirmou que Graça colocou o cargo à disposição, e que pediu que ela continuasse. Acrescentou que a empresa optou por não divulgar seu balanço mais recente porque é "oportuno" que se saiba o teor das delações feitas pelos envolvidos na Operação Lava-Jato e o tamanho do prejuízo da estatal com os desvios.
Dilma reafirmou que a atual diretoria da estatal não poderia saber dos desvios. "É de um simplismo absurdo supor que alguém tivesse noção do que estava acontecendo porque estava na diretoria", avaliou. "Ninguém sabe de um processo desta envergadura simplesmente porque exerce o controle público ou privado daquela empresa, nós precisamos da Polícia Federal, do Ministério Público, do Judiciário e de uma lei chamada delação premiada para saber o que ocorreu", disse a presidente.
Dilma completou que o governo travará uma "luta incansável" para que não haja o rebaixamento da nota de crédito da Petrobras. Ela observou que a situação atual do mercado de petróleo vai obrigar todas as empresas a fazerem a revisão de seus negócios, mas destacou que a Petrobras possui uma "situação interna" melhor do que em períodos anteriores.
A presidente afirmou que deseja a "melhor relação possível com o Congresso" e negou que o Planalto vá interferir na eleição dos presidentes da Câmara e do Senado, em respeito à independência dos poderes. Dilma criticou, ainda, os movimentos da oposição questionando sua reeleição e pedindo o seu "impeachment".
"Essa história de provocar um impeachment a cada virada de governo é um pouco ultrapassada no Brasil". Dilma afirmou que assim como é preciso saber ganhar (a eleição), é preciso saber perder. "Tem um (candidato) que vai ser governo, tem um que vai ser oposição", e dali a quatro anos, isso muda ou se mantém. "Quem ganha tem um desafio de governar pra todos", completou.
Dilma aproveitou a reaproximação entre Estados Unidos e Cuba para rebater as críticas aos investimentos do governo brasileiro no Porto de Mariel, uma obra em parceria com uma empreiteira brasileira. "Hoje quando os Estados Unidos reabrem relações com Cuba, mostra claramente que o Brasil estava certo ao financiar o porto de Mariel", disse a presidente. "Agora que o porto é o mais próximo da Flórida, ficou o must", fustigou. Ela também declarou considerar "fundamental" o fim do bloqueio econômico à ilha comunista, que depende do congresso norte-americano. "E tenho certeza que é a posição do Obama hoje também", acrescentou.
Fonte: Valor Econômico/Andrea Jubé e Bruno Peres | De Brasília
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