Ao deixar Lima, na segunda-feira passada, a presidente Dilma Rousseff lançou o desafio de aumentar em 270% o comércio entre Brasil e Peru em cinco anos. Mas essa meta está esbarrando nas dificuldades do governo peruano para destravar investimentos bilionários em usinas hidrelétricas e na exploração de gasodutos na região Sul do país.
No setor de energia será preciso acelerar as licenças para a construção de hidrelétricas entre os Andes e a Amazônia. Por iniciativa do governo peruano, foi assinado em 2009 um acordo energético com empresas brasileiras, que seriam responsáveis pelas obras de cinco usinas naquele país. O objetivo do termo, firmado durante o governo Alan García (2006 a 2011), era o de atender à demanda de energia elétrica do Peru, permitindo que as empresas utilizassem o excedente para exportar para o Brasil.
García terminou o mandato sem conseguir iniciar nenhuma das cinco usinas e o atual presidente, Ollanta Humala, está retomando as negociações para tentar construir ao menos uma, no rio Inambari, na região amazônica, com a participação da OAS, Eletrobras e Furnas.
Ao todo, seriam investidos US$ 4 bilhões nas obras de Inambari, que se tornaria a maior usina do Peru, mas protestos de comunidades indígenas levaram a governo peruano a rever as condições para a instalação das obras. Há 27 comunidades locais, que temem inundações com a construção da usina e fizeram sucessivos bloqueios nas estradas para impedir as obras. O tema preocupa Humala, que ainda não conseguiu chegar a uma solução para desenvolver as usinas.
No Sul do Peru, empresas brasileiras esperam pelo aval à exploração de minas de gás em Camisea, localizada perto de Cuzco. A Odebrecht é a principal acionista da Kuntur, empresa que obteve o direito de explorar um gasoduto a partir daquela cidade. O objetivo do projeto é unir o gasoduto a um polo petroquímico, que seria desenvolvido pela Braskem em Ilo, cidade portuária no sul do país.
O projeto está há dois anos em compasso de espera, pois o governo peruano, que é sócio do empreendimento, não chegou a um acordo com relação às condições para o financiamento. Pelas condições impostas pelo governo, as empresas que pretendem desenvolver o empreendimento devem dar as reservas de gás como garantia. Mas esse processo não é simples, já que exige a certificação das reservas. Por causa da lentidão nesse projeto, o governo peruano pretende licitar outro gasoduto na região próxima a Camisea.
A presidente Dilma gostaria que o comércio bilateral entre Brasil e Peru chegasse a US$ 10 bilhões, no fim de 2018. O valor representaria um aumento considerável do fluxo atual de vendas dos dois países, que foi de US$ 3,7 bilhões, em 2012, e atingiu US$ 2,9 bilhões, entre janeiro e setembro deste ano.
Bastava a construção do polo petroquímico em Ilo para a meta proposta por Dilma - apresentada para uma plateia de quase cem empresários dos dois países, durante evento no Country Club de Lima, na segunda-feira - fosse ultrapassada. Seria um investimento de US$ 12 bilhões, envolvendo o funcionamento da petroquímica e do gasoduto, segundo estimativas feitas pela Câmara Binacional de Comércio e Integração Peru-Brasil. O programa energético entre os dois países também levaria à superação da meta proposta, porque traria investimentos de US$ 15 bilhões.
Com as dificuldades para implementar esses projetos no lado peruano da fronteira, os dois países decidiram centrar esforços em projetos considerados mais viáveis, como as integrações rodoviárias, ferroviárias e hidroviárias. Dilma e Humala conversaram especificamente sobre a possibilidade de ligação entre os portos de Paita e Bayóvar, na costa norte do Peru, com as ferrovias Centro-Oeste e a Norte-Sul do Brasil, mas esse projeto ainda não saiu do papel. Os dois presidentes também gostariam de ver concluída a ligação de Manaus a Yurimaguas por hidrovias e de uma rodovia dessa última cidade até Paita, no litoral peruano.
Fonte: Valor Econômico/Juliano Basile | De Lima
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